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FRSB debate saúde suplementar: mudança na forma de remuneração é eminente e necessária

Marcio Costa Bichara, Genoir Simoni e Edevard José de Araújo apresentaram dados pouco animadores em relação à situação da saúde suplementar no Brasil, mas também importantes iniciativas para melhorar a gestão, o atendimento ao paciente e a remuneração do profissional médico cooperado e contratado por planos de saúde. A mesa compartilhada pelos três na abertura da reunião da Fenam Regional Sul Brasileira, foi realizada no dia 11 de março, em Florianópolis, e contou com a representação de seis sindicatos de base do sul do Brasil. Bichara é diretor de Saúde Suplementar da Federação Nacional dos Médicos (FENAM), Simoni é presidente da Associação Catarinense de Medicina (ACM) e Araújo é presidente da Unimed Grande Florianópolis.
O representante da Fenam falou em 'crise no sistema' ao abordar o tema saúde suplementar no Brasil. Bichara lembrou que o crescimento do custo de assistência à saúde é maior que a capacidade de pagamento da sociedade - 1% dos clientes são responsáveis por 30% dos gastos. Para Bichara, algumas medidas são fundamentais para desenvolver o sistema de saúde no país, entre elas: a integração do Sistema Único de Saúde (SUS) e do Sistema de Saúde Suplementar (SSS) por meio de parcerias para o desenvolvimento de ações de educação e conscientização para promoção da saúde, a inclusão da Educação para Promoção da Saúde no currículo em todos os níveis de ensino, desde a educação básica, e o uso da tecnologia da informação por meio de programas com padrão unificado que permitam integração das informações críticas para a gestão do sistema.
Marcio Bichara afirmou que o pagamento por resultados não é consenso nas Unimeds e que dentro da cooperativa, as especialidades que geram exames pagam muito bem. Ao citar o livro A História e os Desafios da Saúde Suplementar - 10 anos de regulação, editado pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar, destacou a importância de desenvolver uma parceria salutar entre operadora e prestador por meio de mecanismos de compartilhamento de riscos e responsabilidades. O diretor de saúde suplementar da Fenam levantou ainda uma importante questão: - deve ganhar o mesmo o profissional mais e menos experiente, mais e menos capacitado? E as especialidades?
Genoir Simoni, logo no início da palestra, declarou que a saúde está doente, - há altos e crescentes custos assistenciais, baixa qualidade dos tratamentos, elevados desperdícios, burocracia exacerbada e insatisfação dos médicos e clientes. Diante desse cenário, o presidente da ACM propôs a discussão da remuneração por performance. A dinâmica de funcionamento se daria pela definição de desempenho, modelagem de indicadores, metodologia de aferição de resultados, determinação da forma de premiação, monitoramento e avaliação. “O principal indicador no pagamento por performance deve ser o bem-estar do paciente”, enfatizou.
Para Simoni, a tecnologia da informação é fundamental para melhorar a gestão, o controle da comunicação e, consequentemente, os resultados dos planos de saúde e cooperativas. Ao encerrar, citou a frase do sociólogo polonês Zygmunt Bauman: 'A remuneração médica baseada em performance não é uma questão de quando ou se ocorrerá, mas de como ocorrerá'.
O presidente da Unimed Grande Florianópolis, Edevard de Araújo, abriu sua apresentação com a afirmação: 'Está na hora de rever o modelo, especialmente diante das novas possibilidades'. De acordo com Araújo, o sistema está esgotado em relação aos custos e o pagamento por procedimentos está em 'vias de morte', é 'autofágico' e impõe vícios de comportamento. Dados da Unimed Florianópolis relacionados à arrecadação em 2010, revelam que apenas 28% dos valores foram repartidos entre os cooperados pelo pagamento de consultas e honorários - 32% dos médicos ganham somente até R$ 2.500. Ele lamentou a autogeração de exames e a atitude de profissionais que modificam códigos de procedimentos, entre outros. “Nosso modelo é de doente, não de saúde, e nosso interesse deve ser de que o paciente seja saudável.” Araújo comentou ainda a respeito do Programa de Desenvolvimento Infantil realizado em parceria com a Sociedade Catarinense de Pediatria, uma iniciativa, segundo ele, capaz de contribuir com a mudança do modelo de gestão em saúde.
Após a abertura para perguntas dos participantes, o presidente da Unimed Florianópolis afirmou que os médicos têm a pretensão de acreditar que são os únicos a entender de Saúde. “Para mudar o modelo, é necessário ouvir especialistas, economistas, administradores, ver custos.” Simoni, de acordo com Araújo, ressaltou ser 'extremamente temerário pensar que podemos fazer a mudança sozinhos'. Araújo destacou ainda que o pagamento por performance é uma possibilidade, não pode ser uma solução em si, não vale para todas as especialidades. Antes do encerramento das atividades do dia, o presidente do SIMESC, Cyro Soncini, também interviu lembrando que a melhor postura do dirigente médico é não ter medo do debate. “É necessário atitude, só teremos sucesso em qualquer encaminhamento se formos ouvidos.”
Reunião de trabalho
No sábado (12/3), o presidente da Fenam Regional Sul Brasileira, César Ferraresi, iniciou as atividades com a aprovação da ata da última reunião da FRSB e informes da presidência e tesouraria. A discussão sobre o financiamento da FRSB desencadeou em proposta de repasse da Fenam à entidade, tendo em conta que a FRSB é parte constitutiva da federação nacional. Os sindicatos ali representados também apresentaram seu posicionamento a respeito da paralisação nacional do atendimento aos planos de Saúde, no dia 7 de abril, convocada pela Fenam, Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina.
Entre outras manifestações dos sindicatos de base, o SIMERS afirmou não ter uma decisão consensuada a respeito. O SIMEPAR propõe o fechamento dos consultórios e a realização de ato público no centro de Curitiba. O Simersul, pela primeira vez representado em evento da FRSB, sugeriu o contato pessoal com colegas médicos afim de mobilizá-los. O presidente do SIMESC, Cyro Soncini, também defendeu a realização de ato público como demonstração da atitude dos médicos. O diretor regional em Joinville Hudson Carpes ressaltou a importância de confecção de outdoors e comunicação aos conselhos municipais e estadual de Saúde.
Após as manifestações a respeito da paralisação, os dirigentes sindicais tiveram oportunidade de relatar ações importantes em suas entidades com o propósito de compartilhar com todos iniciativas, experiências e vitórias. Compareceram ao evento: Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (SIMERS), Sindicato dos Médicos no Estado do Paraná (SIMEPAR), Sindicato dos Médicos de Caxias do Sul, Sindicato dos Médicos de Novo Hamburgo, Sindicato dos Médicos de Santa Maria, Sindicato dos Médicos da Região Sul Catarinense (SIMERSUL) e Sindicato dos Médicos do Estado de Santa Catarina (SIMESC).

Por Andressa Braun (01999-JP/SC)


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