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Sífilis, a epidemia silenciosa que desafia a todos

Renato Figueiredo é médico de Família e Comunidade e diretor de Assuntos Jurídicos do SIMESC (foto: Rubens Flôres)

 

Conhecida desde o final do século XV, a sífilis é uma doença infecciosa causada pelo Treponema pallidum, transmite-se durante a relação sexual, por transfusão sanguínea ou da mãe para o bebê na gestação ou no parto. O uso da camisinha em todas as relações sexuais, o controle rigoroso da qualidade do sangue para transfusão e o adequado acompanhamento pré-natal a partir do 1º trimestre, são meios simples e confiáveis para o seu controle.

A Organização Mundial de Saúde estima a ocorrência de 12 milhões de casos novos por ano em todo mundo.

Segundo dados da Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, em 2015, o número total de casos notificados no Brasil foi de 65.878, dos quais 37.056 (56,2%) eram residentes na região Sudeste, 17.042 (25,9%) na região Sul, 6.332 (9,6%) na região Nordeste, 3.350 (5,1%) na região Centro-Oeste e 2.098 (3,2%) na região Norte.

Em Santa Catarina, ocorreu um aumento significativo do número de casos de sífilis adquirida que saltou de 600 ocorridos em 2010, para 5.706 casos em 2015, sendo 15.797 o total de casos de 2010 a 2015. Uma curva ascendente que pode estar relacionada a uma melhoria das notificações, mas sobretudo, a um aumento importante da circulação do Treponema pallidum na população. A maior incidência está entre 15 e 34 anos, 55% do total de casos, o que justifica oferecer sistematicamente testes sorológicos para este grupo.

Na sífilis em gestante, houve um salto de 209 casos em 2010 para 1.254 em 2015, sendo um total de 3.339 casos durante os seis anos analisados.

A sífilis congênita é 100% prevenível se realizados diagnóstico e tratamento durante a gestação. Ela aumentou de 76 para 475casos, comparando as ocorrências de 2010 e 2015, sendo um total 1.248 casos, com ocorrência de 41 abortamentos e 58 natimortos no mesmo período, dados extremamente preocupantes.

Considerando o percentual de aumento de casos, Santa Catarina está em 3º lugar (61,1%) perdendo apenas para os estados do Piauí (75,9%) e Goiás (64,2%) e amarga o primeiro lugar com a maior proporção de não tratamento das gestantes (14,1%) apesar do diagnóstico realizado. Sendo assim, não podemos fechar os olhos a esta desconfortável realidade.

E se estamos convencidos de que há uma grande epidemia de sífilis em curso, o que podemos fazer para mudar esta situação? Realizar prevenção e promoção em saúde, realizar o diagnóstico e o tratamento corretos da sífilis, fazer o acompanhamento dos casos, realizar a abordagem da parceria sexual, notificar os casos, os 6 passos mais importantes para o controle da sífilis.

Por ser conhecida, semiologicamente, como uma entidade ‘grande simuladora’, torna-se fundamental saber de todas as apresentações clínicas, suspeitar sempre, solicitar os testes sorológicos e saber interpretá-los.

Prescrever a penicilina benzatina de acordo com a fase clínica e disponibilizar sua aplicação nas unidades de saúde são fatores fundamentais para garantir o tratamento eficaz. A penicilina benzatina, por atravessar a barreira placentária, é o único medicamento que trata a mãe e o feto. Desde 2014, o Brasil tem enfrentado o desabastecimento de penicilina benzatina na rede pública de saúde, argumenta-se a falta mundial de matéria-prima para a sua produção. Outro fator apurado pelo Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB) em 2013/2014, é que apenas 55% das equipes de saúde da família aplicam penicilina benzatina na atenção básica. Aventa-se que uma causa para isto seria o mito do risco aumentado de anafilaxia da aplicação da penicilina. Durante muito tempo adotou-se a conduta de realizar o teste prévio, o que ficou demonstrado ser desnecessário.

Fica clara, portanto, a responsabilidade médica: diagnosticar, tratar e notificar os casos de sífilis adquirida, em gestante ou congênita, não só por ser obrigação legal, mas também para que se conheça o comportamento da doença e sejam tomadas e planejadas as ações necessárias para o seu adequado controle.


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