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Epidemia de obesidade: uma mudança comportamental

 A epidemia de obesidade que assistimos tem se agravado a números estratosféricos, sendo que na última pesquisa Vigitel brasileira, de 2016, (pesquisa com brasileiros realizada por telefone) observou-se que 18,9% da população brasileira está obesa, mais da metade da população está com sobrepeso e houve aumento de 61,8% na prevalência de Diabetes. De acordo com as últimas estatísticas do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC),  americano, 36,5% dos adultos dos EUA estão obesos (IMC acima de 30 kg/m2).

                Entre as causas deste aumento de prevalência no Brasil estão o maior consumo de industrializados pela classe econômica C, o sedentarismo, e outros que não são o foco deste artigo. A obesidade é patologia complexa com forte predisposição genética, porém com alta influência ambiental. Assim, precisamos da força de todos os médicos catarinenses para que algumas medidas comportamentais sejam disseminadas entre nossos pacientes. Até mesmo entre os próprios médicos que com uma rotina estressante, nem sempre se preocupam com sua própria saúde.  Abaixo algumas mudanças comportamentais possíveis:

 1) As pessoas comem mais calorias do que percebem. A maioria de nós, se medíssemos por meio de calorimetria a necessidade metabólica basal, não precisaria de mais do que 1200 a 1500 kcal por dia para manter as atividades diárias (em um dia sem atividade física). A questão é que, sem perceber, há a ingestão de muito mais calorias do que isso. Manter um recordatório alimentar, seja por intermédio de aplicativo ou escrita é um começo. Lembrar que o álcool fornece calorias é muito importante, já que muitas vezes está acompanhando as refeições e causa tolerância. Outra situação é esquecer o que come entre uma refeição e outra ou não perceber quantas vezes acessa a geladeira à noite, antes de dormir. 

2) Dormir pouco ou não ter sono repousante afeta o emagrecimento. O sono ruim ainda não é visto como um problema de saúde. Muitas vezes temos que convencer o paciente de que insônia, acordar muito a noite, ‘terror noturno’ ou outros problemas de sono - já bem estudados pelos especialistas do sono -, não são normais. Escutamos “sempre dormi mal” ou, “minha família inteira é assim”. Para um bom funcionamento, o hormônio Cortisol precisa que ocorra durante a noite o chamado ‘descenso noturno’. Se não repousarmos como devemos, não haverá o decaimento deste hormônio como é fisiologicamente programado. Em vários estudos observou-se que houve aumento da circunferência abdominal, o peso entre outros problemas como: fadiga crônica e até transtornos de humor por conta deste sono não reparador. Com as redes sociais e o uso demasiado do celular o horário de sono tem sido perturbado por inúmeros estímulos. 

3) Ser sedentário é anormal! Segundo a OMS, pelo menos 6% das mortes anuais tem como causa o sedentarismo. Ele ainda não é visto como uma situação potencialmente mortal, mas deveria. Tenho conversado com os pacientes que se mover deve ser ‘algo como escovar dentes’. Se você ainda não fez hoje, programe-se para isso: desça um ponto de ônibus antes, daqui a dois meses desça dois pontos de ônibus antes de casa. Para os que tem problemas ortopédicos sérios, podemos sugerir (com a autorização do ortopedista) a bicicleta ergométrica durante o período em que assiste televisão. A caminhada e algum exercício isométrico (musculação ou pilates ) faria com que a manutenção da composição corporal se mantivesse por mais tempo, evitando inclusive o aumento exagerado de peso que há em momentos como a menopausa na mulher, por diminuição de metabolismo.  Afinal, a manutenção e aumento da massa muscular aumenta o metabolismo basal (aquele total de calorias que precisamos para um dia sem atividades físicas), promove maior estabilidade corporal, diminui dores crônicas e articulares e evita a ‘sarcopenia’ do idoso. Na rede pública observamos que não temos academias, centros comunitários, faltam pistas e praças seguras, grupos de atividade física e/ou de mudança comportamental. Afinal, apesar dos números absurdos, não há linha de cuidado para obesidade no SUS e isso faz com que os outros ambulatórios de doenças crônicas transbordem de pacientes. Não há nenhum medicamento inserido no rol de medicamentos fornecidos pelo SUS para diminuição de apetite por exemplo e as equipes ainda não foram treinadas para coordenar Grupos de Mudança comportamental em Obesidade. Temos um caminho longo pela frente!

Preocupa-nos também a sua saúde, médico catarinense. Quanto tem dedicado do seu tempo a sua própria saúde? Comece por você a mudança de hábito. Comece devagar mas seja constante e verá os benefícios em sua saúde física e mental. E suas próprias dificuldades servirão de exemplo para maior aderência do seu paciente às constantes e difíceis mudanças necessárias para a boa saúde.

 

 

Foto: Cristina da Silva Schreiber de Oliveira é médica Endocrinologista e filiada ao SIMESC


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