Nem só de jeitinho, vantagem e corrupção vive o brasileiro. À margem das características que formam o estereótipo do país do samba, do futebol e da malandragem, existe um outro Brasil, que nem sempre é lembrado e nem valorizado: o Brasil do trabalho, da criatividade, da busca por soluções para as mazelas sociais. Em série de reportagem que inicia hoje, o Diário Catarinense mostra exemplos de cidadãos que, mesmo frente a importantes adversidades, arregaçam as mangas e fazem a diferença, levando o país a ser referência para todo o mundo. Conheça algumas histórias do Brasil que dá certo.
Um dos países mais desenvolvidos do planeta, o Canadá possui média de 13 doadores de órgãos e tecidos para cada grupo de um milhão de habitantes. Poucos lugares ostentam esse índice. E menos ainda o superam, como é o caso do Estado de Santa Catarina, por exemplo.
Graças a uma nova filosofia de gestão, implantada há apenas dois anos pelo médico intensivista Joel de Andrade e sua equipe, SC fechou 2007 com índice de 15,2 doadores por milhão de habitantes, um recorde. A marca é mais de três vezes superior à nacional, que inclusive caiu de 6,5 em 2006 para apenas 5 doadores/milhão ano passado.
Antes da mudança, catarinenses que dependiam de transplantes procuravam outros estados para tentar salvar suas vidas, conta Roberto Hess de Souza, superintendente de Serviços Especializados da Secretaria da Saúde e um dos responsáveis pela transformação.
Agora, comemora, a situação é inversa: são moradores de estados vizinhos vêm para SC em busca do sonho de uma vida normal, livre de aparelhos, hospitais, angústia e sofrimento.
E mais: além de atender as necessidades locais, a SC Transplantes também fornece órgãos humanos para várias regiões do país.
Para se chegar a esse resultado, revela Souza, não foram necessários grande investimentos ou "importação" de profissionais especializados.
Planejamento, uso racional dos recursos disponíveis, boa-vontade, comprometimento e muito, muito trabalho são os ingredientes da receita de sucesso.
O resultado se traduz em números. Por exemplo: enquanto em Minas Gerais, um dos estados mais ricos do país, pacientes aguardam até três anos por um rim, aqui a espera dura entre seis a 10 meses, no máximo.
Em 2008, SC pode ser o primeiro Estado do Brasil a zerar a fila de pacientes que aguardam por um fígado novo - atualmente, 67 pessoas esperam pelo órgão. Graças a uma eficiente rede de informação e captação, havendo diagnóstico de morte cerebral em qualquer uma das 293 cidades catarinenses, em menos de seis horas uma equipe está retirando os órgãos - desde que autorizada pela família, naturalmente - e encaminhando para a central de transplantes.
É um avanço significativo, destaca Souza, principalmente se levarmos em conta que, até 2005, municípios de médio e grande porte, como Jaraguá do Sul, Brusque, Chapecó e Balneário Camboriú, apenas para citar alguns, não contavam com estrutura para retirada de um órgão sequer.
A importância de fazer doações
Para 2008 são grandes os desafios, reconhece o superintendente. O principal deles é ativar a ala de transplantes que foi montada no Hospital Universitário, na Capital.
Ela ainda não entrou em funcionamento por causa da falta de pessoal, explica Souza, destacando outra peculiaridade responsável por colocar Santa Catarina na vanguarda da captação e transplante de órgãos e tecidos:
- Nada disso seria possível sem a solidariedade dos catarinenses, que compreendem a importância do ato de doar. Uma pessoa morta pode ajudar até sete que esperam por órgãos em filas de transplantes - sublinha, acrescentando que o objetivo da SC Transplantes é romper a marca de 30 doadores por milhão de habitantes, igualando, até 2010, o melhor índice do mundo, que é da Espanha, com 35 doadores/milhão de habitantes.
Fonte: Jornal Diário Catarinense - 13-01-2008