Há séculos a população mundial é assolada pelo vírus influenza. No século XX passamos por várias pandemias, com milhões de mortes. Progressivamente, a gripe acabou sendo banalizada e sua potencial gravidade não adequadamente valorizada.
Em 2009, com o surgimento de um novo subtipo com potencial pandêmico, o Influenza A (H1N1), a gripe tornou-se um assunto com grande importância novamente. Mas a cultura geral ainda é de que gripe não se trata, que não é doença com potencial de gravidade. Porém, estima-se 500.000 óbitos por gripe no planeta a cada ano.
Com o aumento do conhecimento e surgimento de novas tecnologias, hoje o enfrentamento da gripe é baseado em três pilares:
Redução da transmissão do vírus com as medidas de etiqueta da tosse e lavagem das mãos, com consequente redução de circulação viral.
Proteção das faixas mais vulneráveis para doença grave com vacina (pacientes portadores de doenças crônicas devem ser encaminhados pelo médico com receituário indicando a vacina às unidades de saúde municipais).
Tratamento precoce com o antiviral específico dos casos graves ou com fatores de risco para doença grave.
As equipes de saúde precisam estar alerta para identificar rapidamente os pacientes com síndrome gripal – SG – (febre, tosse e dor de garganta, podendo estar acompanhados de cefaleia, mialgia, artralgia e sintomas catarrais), medicando prontamente com oseltamivir os portadores de fatores de risco (menores de 2 anos, gestantes em qualquer idade gestacional, adultos com 60 anos ou mais, portadores de doenças crônicas, população indígenas). A critério do médico examinador outros pacientes podem ser tratados. Lembramos que a melhor ação da medicação ocorre nas primeiras 48 horas de doença, fato que reforça a necessidade de avaliação e tratamento precoce. Também fica a critério médico a solicitação de exames para portadores de SG: radiografia de tórax para identificação precoce de alterações pulmonares, oximetria/gasometria, hemograma para triagem de complicações infecciosas, LDH como marcador de lesão pulmonar e CPK como marcador de doença grave.
Todos os pacientes com SG e que apresentarem sinais de gravidade, sobretudo dispneia, hipoxemia ou alterações radiográficas pulmonares, requerem atenção redobrada, com início imediato de oseltamivir, realização de exames complementares para definição da conduta, encaminhamento para unidade com suporte adequado e medidas de vigilância epidemiológica (coleta de secreção nasofaríngea para determinação de agente etiológico e notificação do caso internado de Síndrome Respiratória Aguda Grave – SRAG – definida como febre, tosse e dispneia).
Com tais medidas há uma redução importante na progressão para doença grave e consequentemente redução nos óbitos.
Reforçamos que:
O tratamento deve ser iniciado na suspeita clínica.
O início do tratamento deve ocorrer independentemente de solicitação ou resultado de exames e notificação.
É fundamental garantir medidas de suporte ao doente.
Deve-se avaliar a necessidade de tratamento para infecções bacterianas secundárias.
GRIPE É GRAVE E TEM TRATAMENTO!
A Diretoria de Vigilância Epidemiológica de Santa Catarina mantém em seu site www.dive.sc.gov.br links para os protocolos de conduta e demais informações pertinentes.
Fábio Gaudenzi de Faria
CREMESC 10.944
Médico Infectologista e Diretor de Vigilância Epidemiológica SES/SC