Para conscientizar a sociedade sobre as formas de prevenção às queimaduras – trauma que atinge 1 milhão de brasileiros a cada ano, na sexta-feira, 6 de junho, médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, biólogos e bombeiros militares estarão na Escola Básica Adotiva Liberato Valentim, em Florianópolis, repassando cuidados básicos para evitar a ocorrência de queimaduras onde estes acidentes costumam acontecer: no ambiente doméstico, entre a cozinha e o quintal.
Entre as instituições parcerias nesta iniciativa estão a Clínica Cepelli (que é um Centro Avançado no Tratamento de Feridas e Queimaduras), a Sociedade Brasileira de Queimaduras - Regional SC, o Corpo de Bombeiros Militar, a Secretaria Municipal de Educação de Florianópolis, a UFSC (através do HU e do Laboratório de Células Tronco e Regeneração Tecidual), a UDESC (através da Pró-Reitoria de Extensão, Cultura e Comunidade), a Secretaria de Estado da Saúde (através da Unidade de Queimados do Hospital Infantil Joana de Gusmão) e a Unicred.
Nos recreios da manhã e da tarde, os cerca de 500 alunos da escola municipal serão preparados para se tornar multiplicadores na prevenção de queimaduras por escaldamento, que é a mais comum na primeira infância, por fogo, choque elétrico e pelo contato com produtos químicos. Através de banners, vídeos, demonstrações dos bombeiros, maquetes e distribuição de gibis temáticos, entre outros recursos, os profissionais de Saúde também vão esclarecer quais os primeiros socorros em caso de queimaduras, com ênfase no resfriamento da área atingida em água corrente e nos riscos de se aplicar qualquer produto caseiro sobre a lesão.
“Se um único acidente for evitado já terá valido a pena pois as sequelas das queimaduras não são apenas estéticas. Além das cicatrizes trazerem limitações sociais, as sequelas funcionais costumam prejudicar a inserção no mercado de trabalho”, avalia o cirurgião pediatra Maurício Pereima, diretor da Clínica Cepelli e chefe da Unidade de Queimados do Hospital Infantil Joana de Gusmão. “Também queremos alertar as crianças que a queimadura não afeta apenas a pele mas todo o funcionamento do organismo. Dependendo de sua gravidade, pode levar a infecções, complicações renais e cardíacas”, destaca, frisando a necessidade de se buscar um serviço especializado que proporcione um diagnóstico adequado.
Além dos riscos de queimaduras na rotina doméstica, a ação deste dia 6 de junho também vai enfatizar os cuidados com as fogueiras, muito comuns a partir de agora, nas Festas Juninas, e os perigos relacionados aos rojões e fogos de artifício, que no embalo da Copa do Mundo já tiveram seu comércio ampliado no Brasil. “Não existe fogo inocente”, ensina o cirurgião pediatra, por isso só adultos devem manipular os fogos, sempre atentando para a procedência garantida. Acidentes com rojões e fogos de artifício podem deixar sequelas graves, como cicatrizes retráteis, que encurtam a pele comprometendo os movimentos, lesões na córnea e mesmo amputação de membros.
NOVAS TECNOLOGIAS ACELERAM A CICATRIZAÇÃO
As queimaduras estão presentes na humanidade desde a época da Pré-história. Provavelmente esta foi a primeira experiência vivida pelohomo sapiens assim que dominou o fogo. E os recursos para amenizar a dor também datam daí. Na Idade Média, a Medicina passou por um longo período de obscurantismo, sem evoluções no tratamento das queimaduras. A Idade Moderna, por sua vez, foi marcada pela introdução da Sulfadiazina de Prata, em 1968, e pela técnica de excisão precoce do tecido queimado, que data da década de 80. A partir daí, foram 30 anos sem um avanço significativo, até que a tecnologia aplicada aos curativos revolucionou todo o tratamento.
Na Clínica Cepelli, uma equipe multiprofissional aplica o que há de mais avançado em termos mundiais, seja no centro cirúrgico, em nível ambulatorial ou mesmo na forma de atendimento domiciliar, proporcionando maior conforto ao paciente e, acima de tudo, menor risco de infeção. Nas queimaduras de 2º grau, por exemplo, em que a reepitelização da superfície queimada se faz a partir da proliferação de células do próprio paciente, os curativos tradicionais com troca diária podem ser substituídos por curativos biológicos e semi-biológicos impregnados com prata e antinflamatórios, trocados a cada sete ou dez dias. Nas queimaduras ainda mais graves, de 3º grau, a engenharia tecidual e a terapia celular vêm reduzindo até mesmo a morbidade e a mortalidade dos pacientes.
“Com resultados estéticos e funcionais próximos ao da pele normal e superiores ao proporcionado pelo tratamento convencional, os curativos com tecnologia avançada representam um novo paradigma na maneira de tratar e minimizar as sequelas das queimaduras”, observa o cirurgião plástico Dilmar Leonardi, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Queimaduras e Diretor Técnico da Clínica Cepelli. Quando o tecido morre, em consequência da queimadura, a região deixa de ser regada com sangue e nutrientes, formando um ambiente propício para a proliferação e o posterior ataque de bactérias, daí a necessidade de se acelerar a cicatrização.
O desenvolvimento de infecções chega a afetar mais da metade dos pacientes queimados internados, conforme estudos realizados na Unidade de Queimaduras do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (1999) e no Hospital Universitário Evangélico do Paraná (2009). “Dados como esses nos motivaram a criar o Serviço Ambulatorial no Lar, através do qual os curativos para queimaduras, feridas agudas e crônicas são trocados no próprio domicílio do paciente, ampliando o conforto e reduzindo o risco de infecção hospitalar”, esclarece a enfermeira Carolina Lunardi Cureau, sócia da Clínica Cepelli.
SAIBA MAIS:
As queimaduras são responsáveis pela morte direta ou indireta de mais 300 mil pessoas no mundo.
As crianças representam 2/3 das vítimas de queimaduras, trauma que atinge 1 milhão de pessoas a cada ano no Brasil.
Em geral, as crianças se queimam em casa (na cozinha e no pátio). Em 80% dos casos o acidente se dá na presença de um adulto que não está atento aos riscos daquela situação
São consideradas queimaduras graves aquelas que atingem mais de 30% da superfície corporal, ou que são motivadas por choques elétricos e lesões inalatórias, por exemplo.
No Brasil, as queimaduras estão entre as principais causas externas de morte, perdendo apenas para outras causas violentas, que incluem acidentes no trânsito e homicídios.
Nos últimos 50 anos, houve uma redução na taxa de mortalidade por queimaduras, por conta do avanço da medicina e das novas tecnologias incorporadas aos curativos.
Toda queimadura deve ser diagnosticada por um profissional especializado. As primeiras 48 horas são as mais importantes para evitar infecções e colapsos – que podem levar a óbito – e para reduzir as sequelas do trauma.
A pele corresponde a 16% do peso corporal e desempenha um papel importante na eliminação de toxinas, além de regular a temperatura dentro e fora do organismo. Quanto mais rápido e eficiente for o processo de cicatrização, menos risco e sacrifício para o paciente.
Em Santa Catarina, uma lei pioneira beneficia as vítimas de queimaduras graves com acompanhamento contínuo e gratuito.Com autoria do deputado estadual Dado Cherem (PSDB/SC), a Lei16.285, de 2013, assegura às vítimas de queimaduras graves uma assistência integral especializada e gratuita, incluindo atendimento de urgência, cirurgias plásticas reparadoras, reabilitação física e psicológica, transporte público gratuito e direito à vaga de estacionamento para pessoas portadoras de deficiências.
Fonte- Ana Lavratti