Cabral ouve cobranças ao vistoriar hospitais

Um ano após ter ficado impressionado com as péssimas condições de atendimento encontradas nos hospitais Getúlio Vargas, Albert Schweitzer e Rocha Faria, o governador Sérgio Cabral voltou ontem a visitar as três unidades. Apesar de afirmar que a situação melhorou, Cabral não escapou de constrangimentos, ao ouvir reclamações de pacientes. No Rocha Faria, ele chegou a se desculpar: - Peço desculpas como governador.
Vamos ver o que podemos fazer neste momento para resolver o problema de vocês, que é de agora. O principal constrangimento ocorreu na saída do Getúlio Vargas, na Penha, quando foi abordado por uma mulher com uma criança de 6 meses no colo. Gritando, com o dedo em riste, ela cobrou melhorias na pediatria. - Governador, é um absurdo.
Só tem um pediatra. Estou há horas aqui e não sou atendida. Venha ver a situação. Está assim porque não é a sua filha que precisa ser atendida - reclamou Rosana de Oliveira.
Cabral, que já entrava no carro, voltou ao setor de pediatria, mas não conseguiu permanecer nem um minuto.
Houve gritaria e mais reclamações: havia cerca de 80 crianças esperando por atendimento há até quatro horas.
- Minha filha, de 10 anos, é cardíaca e está há mais de três horas esperando um exame. É uma vergonha. As crianças não têm nem água para beber - disse Érica Cristina da Silva.
Situação no Rocha Faria é a mais precária O diretor do Getúlio Vargas, Marcelo Soares, admitiu que havia apenas um pediatra no momento da visita, mas culpou a rede básica de saúde pelo excesso de pacientes no setor: - Esse tipo de atendimento que recebemos na pediatria deveria ser feito pela rede de atenção básica.
Das três unidades visitadas, Cabral definiu o atendimento no Rocha Faria, em Campo Grande, como o mais precário. Lá, também ouviu reclamações.
- Pintura na fachada não resolve os problemas não, "seu" Sérgio. O problema aqui é falta de equipamento. Os médicos até tentam salvar meu irmão, mas, do jeito que está, não conseguem.
Nós votamos no senhor, confiamos no senhor, mas não foi para isso, não - reclamou a dona-de-casa Vera Lúcia de Aguiar Menezes.
Apesar de não afirmar que vai exonerar a direção do Rocha Faria, o governador não escondeu a insatisfação com o que viu. Durante as visitas do início de seu governo, ano passado, Cabral havia demitido o diretor do Getúlio Vargas após constatar problemas de atendimento.
- Em geral, estou muito satisfeito com a minha equipe na área de saúde. Mas no Rocha Faria haverá mudança de gestão nos próximos dias, a ser definida pelo secretário (Sérgio Cortes). Não se vê um atendimento à altura do que a população merece - disse Cabral.
No Albert Schweitzer, em Realengo, Cabral fez elogios à direção, que em um ano subiu o número de internações de 414 para 900 por mês. Ele anunciou a intenção de transformar um prédio anexo desativado numa escola de ensino médio de enfermagem.
Cabral aposta nas fundações estatais para melhorar o problema da falta de médicos.
Segundo ele, a divulgação dos nomes dos plantonistas na internet já deu resultados positivos no período de fim de ano: - No plantão de Natal, houve três faltas, e sete no Ano Novo.
Apesar de a iniciativa ter sido criticada pelo Sindicato dos Médicos, deu bom resultado.
O sindicato chegou a divulgar que equipamentos teriam sido transferidos do Iaserj para o Getúlio Vargas no dia da visita de Cabral. Segundo o governador, eram macas não usadas no Iaserj, foram retiradas para reforçar o atendimento a pacientes com dengue na Penha.

Fonte: Jornal O Globo - 03-01-2008


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