Ação cobra contratações em hospitais

Levantamento feito pelo Conselho Regional de Medicina de Santa Catarina (Cremesc) e pelas direções de seis hospitais da Grande Florianópolis revela que faltam pelo menos 130 médicos, segundo estimativa do Cremesc, e 368 servidores, de acordo com a direção das instituições, para atender os pacientes utilizando a estrutura existente.
Com base nesses dados, o Ministério Público do Estado deve ingressar hoje com ação civil pública exigindo perícia técnica para apurar o déficit exato e a posterior contratação de novos profissionais.
O documento, que deve ser encaminhado à Procuradoria-Geral do Estado, reúne dados do Cremesc e de diretores e médicos de seis unidades hospitalares da Grande Florianópolis: os hospitais Infantil, Governador Celso Ramos, Florianópolis e Nereu Ramos e a Maternidade Carmela Dutra, na Capital; além do Hospital Regional, em São José.
Os números variam de acordo com a unidade e até com a fonte da informação. No Infantil, por exemplo, a direção aponta a carência de 47 médicos, mas para o Cremesc faltam apenas 28. Em todos os hospitais e de acordo com todas as fontes, porém, o número de profissionais é inadequado para atender a demanda.
- A ação não vai cobrar a construção de novas unidades, mas um melhor aproveitamento da estrutura física já existente - explicou o promotor de Justiça Alexandre Herculano Abreu, autor da ação.

Levantamento revela falhas no atendimento ao público
Desde julho do ano passado, Herculano conversa com diretores dos hospitais e, na ação, aponta alguns casos extremos. Segundo constatou, alguns pacientes chegam a ficar em jejum por até três dias, aguardando cirurgias que ao final, acabam não sendo realizadas.
No Hospital Florianópolis, seriam comuns plantões do serviço de emergência contarem com apenas um profissional. No Celso Ramos, os 12 leitos de observação chegam a receber até quatro vezes mais pacientes.
Na sexta-feira, a reportagem do Diário Catarinense percorreu os seis hospitais citados na ação civil e, em cinco deles, ouviu pacientes reclamarem da demora no atendimento. A exceção foi a Maternidade Carmela Dutra, onde pacientes elogiaram a rapidez dos serviços prestados no local.
No Regional, o caminhoneiro Altair Weiss, 54 anos, teve que esperar três horas e meia na fila, com o dedo do pé esquerdo quebrado.
No Infantil, Marcos Vinícius Chaves, 36 anos, ficou mais de cinco horas esperando para seu filho Kanaor, de dois meses, ser examinado. Junto com ele havia outros 30 pais.
- Fui recém-contratado por uma loja e corro risco de até perder o emprego porque passei o dia na fila esperando pelo atendimento. Mas o que posso fazer? - conformava-se Chaves.

O que falta em cada unidade
 
Hospital Infantil 
Segundo a direção:  
47 médicos  
155 servidores 
 
Segundo o Cremesc: 
24 médicos
 
Hospital Regional 
Segundo a chefia de setor:
41 médicos
 
Segundo o Cremesc:
44 médicos
 
Hospital Florianópolis 
Segundo a direção:

13 médicos
 
Segundo o Cremesc: 
13 médicos
 
Hospital Nereu Ramos
Segundo a direção:
14 médicos
57 servidores
 
Segundo o Cremesc: 
11 médicos
 
Maternidade Carmela Dutra
Segundo a direção:
29 médicos
84 servidores
 
Segundo o Cremesc:
38 médicos
 
Hospital Celso Ramos
Segundo a direção: 
13 médicos
72 servidores
 

Estado prevê solução em 4 meses
O superintendente dos hospitais públicos do Estado, Lester Pereira, reconhece que faltam profissionais nos hospitais da Grande Florianópolis, mas disse que a situação deve ser normalizada já no primeiro semestre de 2008.
Para ele, o déficit apontado pelas direções das unidades e pelo Cremesc é considerável. O maior problema no Estado, explica, é observado na Grande Florianópolis e nas regiões de Joinville e Lages.
Lester garante que já há uma solicitação no comitê gestor de governo para a contratação de 182 médicos para essas regiões ao longo do ano.
- Minha intenção, porém, é que nos próximos quatro meses estejam todos trabalhando - afirmou.

Aprovados em concurso deverão ser chamados
A maior parte das vagas deve ser preenchida por médicos aprovados no concurso realizado em fevereiro do ano passado, mas ainda não em atividade. Apenas para as áreas de anestesista e intensivista será necessária a realização de um novo concurso, informou Lester. Ele reconheceu que o governo demora para colocar os candidatos aprovados em atividade, mas garante que, da forma como os hospitais são geridos, não há como fugir da burocracia.
O superintendente destacou ainda que, desde 2002, o governo já contratou cerca de 2 mil funcionários para a área da saúde, mas que precisa de mais profissionais não só para atuar em unidades já existentes, mas também para possibilitar a abertura de novos leitos de UTI e novos centros cirúrgicos.

Fonte: Diário Catarinense - 25-02-2008


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