O Brasil precisa de uma política industrial mais agressiva

O Brasil conseguiu nos últimos anos, reduzir a dependência do capital externo, houve uma mudança estrutural no balanço de pagamentos, através da qual perdeu importância o endividamento externo. Esta mudança, ao lado da ampliação significativa do mercado consumidor interno, foram as grandes novidades dos últimos anos na economia. Neste período cresceram os Investimentos Externos Diretos (IED) e os juros líquidos da dívida externa brasileira diminuíram a sua importância em termos relativos. Os 4,9% do PIB que serão gastos em 2010 para pagamentos de juros da dívida pública (estimados em R$ 172 bilhões) são, sem dúvida, uma verdadeira 'fortuna', equivalente a 13 vezes o orçamento do Bolsa Família deste ano, mas bem inferior aos 7% que o país comprometia a alguns anos.
Neste momento o Brasil não é mais um país com 'vulnerabilidade externa', fator que sempre derrubou a economia e quebrou o país nas crises anteriores. Em boa parte, o fenômeno está relacionado à existência de robustas reservas internacionais que atingiram inéditos US$ 260 bilhões. Enquanto entre 1995 a 2008, o estoque da dívida externa total brasileira cresceu 1,2 vez, o de investimentos externos diretos cresceu 9,2 vezes.
Vimos a importância de não ter restrição externa no ano passado, quando o país passou por uma rápida recessão sem que o Estado tenha quebrado, sendo um dos primeiros a retomar o crescimento. Ao contrário de todas as crises anteriores, quando o país quebrava, desta vez foi o Governo que acudiu o setor privado com injeção de crédito e outras medidas. As descobertas do pré-sal, se adotada a política adequada, darão ainda mais folga para as contas externas e deverão converter o Brasil nos próximos anos, em um grande exportador de energia.
O atual processo eleitoral ocorre em um momento em que o país tem um mercado interno forte e um fluxo de comércio internacional ainda bastante robusto. É muito importante o fato de que muitas famílias que, historicamente estavam excluídas do mercado consumidor, têm conseguido adquirir seus primeiros bens duráveis, como fogão, geladeira e carro. Mas o grande problema é que as importações estão aumentando de ritmo em praticamente todos os setores.
Em 2009, no primeiro semestre, o Brasil importou o equivalente a US$ 5,9 bilhões em manufaturas da China. Neste ano, nos primeiros seis meses, o país importou US$ 9,9 bilhões daquele país, praticamente o dobro. O comportamento recente da indústria, de certa forma, é um indício de que algo não vai bem. Após três meses de resultados negativos, a produção física industrial brasileira cresceu, descontados os efeitos sazonais, apenas 0,4% em julho. É possível prever, por esses resultados, que a indústria terá um desempenho razoável neste segundo semestre, mas muito abaixo do que poderia, considerando o desempenho das vendas no comércio e o vigor que vem apresentando o mercado de trabalho.
Apesar do excelente momento que vive a economia brasileira, e da demanda extremamente forte, a ausência de uma política industrial mais definida e agressiva, está impedindo as empresas que atuam no país de aproveitar plenamente este período. Além disso, em alguns setores, a substituição do produto nacional por importados vem crescendo assustadoramente.


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