Os procedimentos endoscópicos revolucionaram a prática médica em todas as especialidades por seu grande potencial resolutivo. A colonoscopia, com capacidade de visualização de toda a mucosa colônica e dos 15 a 20 centímetros distais do íleo, com baixos índices de morbidade e mortalidade (0,1% e 0,007% respectivamente) é poderosa ferramenta. Sua capacidade de analisar, corar, biopsiar áreas suspeitas, extrair lesões polipóides, executar mucosectomia daquelas que são planas ou sésseis, evitando a cirurgia, empregar a magnificação de imagem e a cromoscopia digital buscando uma aproximação com o diagnóstico anatomopatológico, são alguns dos notáveis avanços desta prática. Porém, seu mais importante benefício é o de prevenir o câncer do cólon (CA de cólon), o segundo em frequência na mulher e o terceiro em frequência no homem no mundo.
Faz alguns anos que a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o órgão que lhe é similar na Comunidade Européia sugeriram que sempre que possível todos deveriam se submeter à colonoscopia a partir dos 50 anos ou antes, se houver histórico familiar de CA de cólon.
Em fevereiro de 2012,o New England Journal of Medicine, publicou um trabalho multicêntrico com seguimento de 23 anos, em que comparou as mortes por neoplasia do cólon em quem havia se submetido à polipectomia por pólipos adenomatosos, com a mortalidade por CA de cólon esperada na população geral e encontrou no grupo dos polipectomizados uma redução de 53% destes óbitos. O trabalho conclui que “tais achados dão suporte para a hipótese de que a remoção de pólipos adenomatosos previne a morte por câncer colo-retal” (NEJM 2012;366:687-96). Tal afirmação valida as sugestões das organizações de saúde citadas e se constitui numa vitória espetacular da medicina sobre a morte por CA de cólon.
As principais indicações para a colonoscopia são alteração do hábito intestinal (sem uma causa externa que a justifique), sangramento anal, diarréia crônica, anemia por deficiência de ferro, perda de peso, dor abdominal sem causas aparentes, PSO(+) (pesquisa de sangue oculto positivo), história familiar de CA de cólon, alterações no enema opaco, USG (ultrassonografia abdominal), TAC ( tomografia computadorizada abdominal) e RM (ressonância magnética abdominal) sugerindo doença do cólon, seguimento de pacientes operados de neoplasia do intestino grosso ou com polipectomia prévia, seguimento de doenças inflamatórias intestinais, indivíduos a partir de 50 anos sem história familiar e antes se houver casos de familiares de primeiro grau. Para quem tem parentes que apresentaram tal enfermidade em idade precoce, a colonoscopia pode ser indicada cinco anos antes da idade que tinha o familiar quando do diagnóstico. As poliposes familiares também são indicações para a investigação endoscópica.
São poucas as contraindicações e incluem diverticulite, infarto do miocárdio ou embolia pulmonar recentes, megacólon tóxico, aneurisma de aorta de grandes proporções, esplenomegalia maciça, instabilidade hemodinâmica e preparo do cólon inadequado.
As complicações mais frequentes são a hemorragia após a polipectomia e a perfuração colônica e se relacionam mais à colonoscopia terapêutica do que a investigativa. Para evitar complicações nos pacientes que fazem uso de anticoagulantes orais, antiinflamatórios não esteroideos (incluído o ácido acetil salicílico), ticlopidina e clopidogrel, a maioria dos endoscopistas sugere a suspensão dos mesmos uma semana antes do exame, exceto nos raros casos em que uma destas drogas não possa ser suspensa.
Sobre o preparo - o momento mais temido pelos pacientes em razão do desconforto: a limpeza do cólon é condição sem a qual o exame não deve ser realizado, pelo risco de se deixar passar alguma lesão recoberta por restos fecais. Cada serviço tem o seu modo de preparo, mas, basicamente ele inicia na tarde do dia anterior quando se toma um laxativo como o Bisacodil e no dia seguinte, solução de Manitol dissolvido em suco de frutas sem grumos, ou seja, coada, antecedendo de quatro a seis horas à realização do procedimento.