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Dr. Bode Expiatório

Não se trata de nenhuma teoria da conspiração ou complexo persecutório, mas a forma reiterada como o Governo Federal vem atacando violentamente a dignidade dos médicos brasileiros, só apresenta paralelo nos mais cruéis regimes de exceção, onde são sumariamente suprimidos os direitos básicos que regulam os exercícios profissionais. Somente nas ditaduras mais autoritárias os profissionais são impelidos a trabalharem compulsoriamente para o sistema público sem que isso ocorra por ser profissionalmente atraente ou compatível com as convicções ideológicas de cada cidadão. E é este o destino decretado aos nossos futuros médicos recém-formados.
Não vejo outra denominação para estas arbitrariedades senão escravidão nua e crua. Até que ponto nossa categoria pode ser ultrajada e tacitamente responsabilizada pelo abandono desesperador em que encontra-se a saúde pública no nosso país? Pois, se a principal atitude salvadora imposta aos brasileiros é trazer médicos do exterior, alegando que os médicos brasileiros viraram as costas às populações carentes, isto é eleger-nos como os vilões do genocídio!
É cruel sermos expostos à execração pública perante uma nação para a qual foi ardilosamente sonegado o direito a uma instrução escolar decente, que permitisse discernir as falácias midiáticas de um governo superlativamente corrupto e a consciência da manipulação premeditada da opinião pública.
É perverso mascarar as mortes nas emergências abarrotadas das grandes cidades, onde não faltam excelentes médicos, mas sim ambientes de trabalho que não sejam moedores de gente e fábricas de fazer loucos, onde nem o profissional mais idealista resiste por muito tempo. Ocultam-se os fatos atrás de uma cortina de fumaça que quer institucionalizar a mentira de que os médicos não gostam dos pobres e necessitados.
É grotesco querer fazer crer que não haja uma parcela de médicos interessada em optar por uma vida pacata, longe do turbilhão dos grandes centros, revivendo os tempos em que se podia gozar da boa reputação que a profissão oportuniza construir nas pequenas comunidades. Mas para ser capacho de prefeito e secretário de saúde? Para ser usado como trampolim em projetos eleitoreiros e depois descartado pela próxima administração? Para viver permanentemente com medo de ser processado por trabalhar sem as condições adequadas, que potencializam as chances de erros que podem custar vidas?
Outro absurdo foram os vetos ditatoriais que a Presidente (Presidenta é um atentado a língua portuguesa) impôs à chamada “Lei do Ato Médico”. Desautorizou mais de 11 anos de negociações com todas as profissões envolvidas, descaracterizando a essência de um texto consensualmente redigido. Mais uma vez evidencia-se a clara e manifesta intenção de denegrir e humilhar gratuitamente nossa categoria.
Não estou apenas decepcionado com a Sra. Dilma e sua corja demagógica (vide ex-ministro Padilha). Estou perplexo, atônito e revoltado com a forma vil e covarde como ela terceiriza sua incompetência para mim e para a imensa maioria dos meus colegas médicos, que são profissionais decentes, expondo irresponsavelmente a incauta massa de manobra a pseudo-médicos, com os quais ela jamais permitiria que seus familiares consultassem.
É hora de nos unirmos e reagirmos urgentemente com a nossa voz e o nosso voto!


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