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Pediatria sob ataque!

Cuidar de uma criança é salvar uma geração: o alerta urgente sobre a crise silenciosa da pediatria

Dr. Fábio Schneider, médico pediatra e diretor do SIMESC

A pediatria é mais do que uma especialidade médica. É o alicerce da saúde pública e do futuro de qualquer nação. Para se tornar pediatra, é preciso passar por seis anos de formação em medicina e mais três anos de residência específica. Esse preparo é essencial, pois lida com uma fase da vida onde até 85% das habilidades humanas são adquiridas: os primeiros anos da infância.

Estudos mostram que os dois mil primeiros dias de vida são decisivos. É nesse período que se identificam precocemente problemas de saúde e se estabelecem as bases para uma vida com mais qualidade. Não por acaso, uma recente pesquisa da Sociedade Catarinense de Pediatria concluiu que crianças atendidas por pediatras têm melhor desenvolvimento do que aquelas acompanhadas por outros profissionais.

Apesar disso, a pediatria está sob ataque — por gestores que enxergam números e não crianças. É comprovado que cada dólar investido na saúde infantil gera uma economia de sete dólares na vida adulta, mas esse retorno, por ser de longo prazo, é frequentemente ignorado. Muitos tomadores de decisão, tanto na esfera pública quanto privada, priorizam especialidades mais lucrativas em curto prazo, negligenciando uma área essencial para o presente e o futuro.

Nos bastidores, o cenário é preocupante:

•             Municípios estão retirando pediatras da atenção primária e dos núcleos de saúde da família.

•             Hospitais substituem especialistas por recém-formados em emergências, colocando em risco a vida de crianças.

•             Convênios desvalorizam consultas pediátricas, sem considerar sua complexidade e o tempo necessário.

Estamos diante de um paradoxo: a especialidade mais vital é também uma das mais desvalorizadas. E isso tem um custo — humano, social e financeiro.

Se nada for feito, enfrentaremos um futuro mais doente, mais caro e menos promissor. O desenvolvimento infantil não pode ser tratado como estatística. É hora de mudar o olhar.

“Olhai os lírios do campo” — e olhai também pelas nossas crianças. Antes que seja tarde.


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