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A rede social também veste jaleco branco

Boletim do Acadêmico nº 15 - setembro de  2016

Há quem ainda teime que seu posicionamento nas redes sociais não reflete o seu comportamento e postura profissionais. A rede social há muito tempo é o melhor retrato de seu proprietário. A exposição nesses espaços é um risco que poucos param para calcular. Além de muitas vezes expor intimidades e rotinas familiares, muitos internautas escancaram irresponsavelmente suas diferenças com outras pessoas, postando indiretas, produzindo ou compartilhando textos agressivos e ofensivos, sem a menor noção do alcance do que está sendo publicado.

Compreendida esta questão de que a rede social é um retrato de seu usuário, vamos às pesquisas, ainda raras em relação a estes espaços. Os resultados dessas pesquisas são cada vez mais interessantes e convergen para um único ponto: o desconhecimento do alcance da comunicação dos que usam os espaços digitais para se apresentar ao universo virtual.  O que é publicado é o que forma a opinião do internauta a respeito do proprietário daquela rede social.

Essa má conduta nos espaços digitais tem gerado diversos problemas com estudantes de medicina. Pesquisa divulgada pelo Journal of American Association (Jama), publicada pelo site Academia Médica, conclui que 60% dos reitores de escolas médicas entrevistados relatam incidentes envolvendo postagens em redes sociais de alunos. 13% dos reitores confirmaram que os problemas identificados violaram a privacidade do paciente, o que resultou na expulsão de alunos da escola.

Recentemente, um médico do interior de São Paulo teve que pedir desculpas publicamente porque debochou na sua rede social de um paciente. A postagem ganhou o mundo. Recebeu comentários de todos os tipos, mas a maioria desqualificou o médico, que passa por sindicância do Conselho Regional de Medicina e do hospital onde ocorreu a situação. Há os casos de médicos que discutem nos ambientes virtuais pelos motivos mais diversos.

Em artigo divulgado pela revista Time Health and Family, é relatado que estudantes de medicina não se intimidam em postar fotos em festas, em expor suas rotinas diárias e em outros momentos que não estão de jaleco branco. Os estudantes avaliam que essa postura não interfere e nem interferirá em sua carreira profissional. Há como ajustar essa situação. Para os que circulam pelas redes sociais, o conselho é: ter um perfil pessoal onde são estabelecidos os limites de quem pode ver as publicações, e ter um perfil profissional, onde são divulgadas informações relacionadas à atividade médica - aqui lembrando de cumprir o que estabelece o Conselho Federal de Medicina para a publicidade médica. Com esses dois perfis será possível separar o pessoal do profissional.

Outra orientação é ler o livro Humilhado, do jornalista britânico Jon Ronson, que apresenta situações das mais diversas nas redes sociais, reforçando a preocupação de que estar no mundo virtual requer estabelecer algumas regras de boa conduta.

Para estar nas redes sociais é preciso cuidar da "aparência" também. Sim, o mundo julga. O mundo elabora teses sobre as pessoas baseado no que vê. E isso interfere em todas as profissões, não só na medicina. Não custa dar um pouco de atenção a essa questão. E se beber, não acesse suas redes sociais. Se ler uma postagem que discorda, respire fundo e não responda. Você pode ter problemas mais sérios do que imagina.

Por: Carla Cavalheiro, jornalista da Assessoria de Comunicação e Imprensa do SIMESC, especialista em Estudos de Jornalismo, MBA em Gestão de Comunicação Pública e Privada e MBA em Gestão de Redes Sociais

 


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