09-06-2008 - Saúde Pública: O pior de Joinville

Filas intermináveis na madrugada, meses de agendamento para realização de exames, falta de médicos, de leitos, de UTIs e de sensibilidade. Nem precisava de uma pesquisa para saber o que mais dói no joinvilense quando se fala em serviço público. Mas, a pesquisa Gazeta/Univali foi às ruas perguntar e descobriu que a insatisfação com o atendimento na saúde do município supera, de longe, tudo o mais sob a responsabilidade do governo: dos quase mil entrevistados entre os dias 27 e 28 de maio, 55,70% responderam que o pior de Joinville é a Saúde. Só para comparar, a segunda colocação na pesquisa ficou com a Segurança, com 17,59%, seguida pelo Saneamento (10,21%), Transporte Coletivo (5,43%), Educação (4,78%) e Emprego (4,13%).
Em contrapartida, a pesquisa também perguntou o que o joinvilense considera melhor em Joinville. Dividindo a primeira colocação, praticamente empatados, estão os quesitos transporte coletivo (29,64%) e emprego (29,53%), seguido pela educação (20,96%), segurança (5,54), saúde (4,02) e saneamento (2,93%).

Decisão da diretora do Hospital Regional complica ainda mais a saúde em Joinville
A medida adotada pela diretora do Hospital Regional Hans Dieter Schmidt, Ana Maria Jansen, que determina o fechamento das portas do pronto-socorro daquele hospital para atendimentos clínicos representa um sério risco à população e compromete ainda mais o já combalido sistema de atendimento à saúde. Não raro, leves dores de cabeça, tórax ou um simples mal estar, muitas vezes, disfarçam graves e fatais enfermidades. Geralmente um princípio de infarto, ou até, a temida meningite, aparecem muitas vezes como um simples mal estar em sua fase inicial, agravando-se em questão de horas.
A proposta foi tomada sem levar em conta a falta de estrutura nas alternativas apresentadas que são os dois pronto-atendimentos (PAs) e os postos de saúde. Essas unidades deverão receber os “rejeitados” do Regional. Essa mudança significa que toda a caótica estrutura da saúde pública em Joinville, sofrerá alterações que poderão aumentar ainda mais as mazelas de quem procura alívio e solução no precário atendimento oferecido.
A Sociedade Joinvilense de Medicina (SJM) e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/Joinville), não viram com bons olhos as determinações de Ana Maria. De acordo com o primeiro-secretário da SJM, o médico Ricardo Polli, houve falta de comunicação entre o hospital e o poder municipal. Para ele, a medida foi tomada sem a harmonia necessária que o assunto requer. O médico entende também que a classe deveria ter sido consultada: “A Sociedade Joinvilense de Medicina não teve participação nessa decisão de fechamento do pronto-socorro do Hospital Regional. Ontem (dia 4 de junho) é que nós fomos comunicados através de um documento emitido por eles”, lamenta o médico.
Sobre a possibilidade de riscos para a população, Polli prevê: “Provavelmente vai acontecer. Nessa fase de transição que ainda não existe uma educação, e que a pessoa não sabe se vai aqui, ou se vai lá, nos preocupa o fato de que alguma coisa séria possa realmente acontecer”, finaliza.

Negligência
Apesar de concordar que o pronto-socorro deva atender somente emergências, o presidente da OAB/Joinville, Édelos Frühstüch, admite a possibilidade de haver problemas. “Efetivamente é difícil separar emergência de um atendimento corriqueiro”. Édelos concorda com o médico Ricardo Polli: “Eu entendo que os PAs deveriam ser capacitados para atender esse novo fluxo de pessoas. Não dá para fechar uma porta aqui, e abrir uma lá sem se modificar as estruturas. Se for assim, o Estado tem que rever sua função”. O presidente da OAB alerta. “Se houver indícios de que o Estado foi negligente ele vai responder judicialmente. A população não pode ficar correndo os riscos por ineficiência do Estado”, conclui.

Procurar quem?
Quem precisou de atendimento no sistema público de saúde de Joinville nessa semana teve de contar com uma boa dose de paciência para esperar por atendimento que, em alguns casos, demorava até três horas. Para ajudar, em alguns postos de saúde, não havia médicos, como no posto do Bucarein. Segundo a atendente, o especialista participava de um congresso. O mesmo fato se repetiu em outros postos, obrigando a população a procurar atendimento nos pronto-atendimentos 24 Horas. Tanto o P.A Norte, quanto o Sul estavam lotados nessa quinta-feira (5). Crianças, jovens e adultos tinham que se acomodar como podiam, muitos ficavam em pé, e tinham que aguardar mais de duas horas para serem atendidos.
Esse foi o caso da dona de casa Olina Aparecida Ferreira, de 32 anos. Ela levou o filho Moacir Ferreira, de 10 anos, para fazer um curativo na perna, cortada por um caco de vidro. Com muita dor, o garoto e a mãe improvisaram uma atadura, para tentar estancar o sangue. “O médico só nos atendeu quando a imprensa chegou. Ficamos esperando duas horas. Tive que fazer um garrote para o sangramento parar e mesmo assim, nessas condições, não nos atendiam”, conta a dona-de-casa.
Quem também aproveitou a chegada da imprensa para protestar pela demora no atendimento foi a professora Ângela Nunes, de 44 anos. Após ser comunicada que o filho bateu a cabeça na escola, ela trouxe o garoto, Fernando Ribeiro Nunes, de 10 anos, ao PA do Itaum. Desde que Ângela chegou, duas horas e meia haviam se passado, e o menino não tinha sido atendido. “Eles falam que existem caos mais graves para ser atendidos antes, porém, já estou aqui há quase três horas, e nada. A saúde aqui está péssima e ainda querem proibir a gente de buscar atendimento no Regional. Definitivamente a saúde passa muito mal em Joinville”, reclama.
De acordo com a responsável pelo PA Sul, durante o dia estavam de plantão seis médicos: dois pediatras, um cirurgião e três clínicos gerais. Ainda segundo a funcionária, o movimento era avaliado como normal, e tradicionalmente aumenta ainda mais no início da tarde e na madrugada.

Fonte: Gazeta de Joinville - 07-06-2008 


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