Tomou posse nesta quarta-feira, 13/08, em Brasília, o novo presidente da Federação Nacional dos Médicos, o gaúcho Paulo de Argollo Mendes. Ele exercerá seu mandato até 2010, com uma diretoria composta por 24 membros que representam todas as regiões do Brasil. A cerimônia contou, entre outras autoridades, com a presença do ministro da Saúde, José Gomes Temporão, que em seu discurso destacou o bom relacionamento do ministério com as entidades médicas nacionais, e o presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia, que foi homenageado com a comenda Charles Damian, primeiro presidente da Federação. A honraria foi entregue pela médica Denise Damian, presidente da Unicred do Brasil, filha de Charles Damian.
Em seu discurso de posse, Paulo Argollo defendeu a carreira de Estado para os médicos, a fim de solucionar o problema da falta de profissionais no interior, e o ingresso na carreira por concurso público, além de piso salarial compatível com a complexidade do trabalho médico e o fim da precarização das relações de trabalho. Ele também falou sobre a necessidade de se criar uma fonte permanente e suficiente de recursos para a saúde. Argollo ressaltou, ainda, a preocupação da diretoria da Fenam com a mercantilização do ensino, que vem transformando as faculdades em caça-níqueis, e faz com que hoje existam mais faculdades de medicina no Brasil do que a China e Estados Unidos, o que coloca o país em segundo lugar no ranking mundial, com 167 escolas médicas, sendo superado apenas pela Índia, que possui 202 faculdades de medicina. "Os cursos, que até ontem formavam médicos, agora, diante da última invencionice do Ministério da Educação, formam Bacharéis em Medicina", acentuou o presidente da Fenam.
Eduardo Santana, que transmitiu o cargo a Paulo Argollo, ressaltou que um dos momentos mais importantes da Fenam nos últimos anos foi a reunificação do movimento médico nacional, que propiciou a primeira eleição com a participação de todos os sindicatos médicos do país, em 2006, em Fortaleza. Ele também defendeu uma união cada vez maior entre a Fenam, o Conselho Federal de Medicina e a Associação Médica Brasileira (AMB) em defesa da categoria médica.
A solenidade contou com a presença dos representantes dos governos do Distrito Federal e do Tocantins. deputados federais, estaduais, e dirigentes de entidades médicas como Conselho Federal de Medicina (CFM), e a Associação Médica Brasileira, entre outras.
Leia o discurso do presidente da Fenam na íntegra:
Estamos comemorando, neste ano, o centenário de nascimento de um destacado médico pernambucano, o doutor Josué de Castro, autor de Geografia da Fome. Josué de Castro iniciou sua carreira como médico de uma empresa, de onde foi rapidamente demitido depois de dizer ao proprietário que de nada adiantava um médico se o salário pago aos trabalhadores não era suficiente para a comida.
Durante 17 anos fui médico plantonista de uma emergência do SUS e tive a oportunidade de salvar muitas vidas. Não conheço nada, profissionalmente mais gratificante.
No entanto, ao final de cada jornada de trabalho, sempre restava uma sensação de impotência diante da realidade, Não diante da morte, porque essa é a parte natural e inexorável da vida. Mas diante do sofrimento evitável.
O que com mais freqüência faz padecer nossos pacientes não são microorganismos ou alterações moleculares: são as decisões macroeconômicas. O Minotauro, figura da mitologia grega, cobrava um tributo em vidas. E devorou os jovens cretenses até ser derrotado pelo herói Teseu.
O ordenamento político e econômico a que estamos submetidos, tem cobrado, também, pesado tributo em vidas. Nossos índices de mortalidade infantil são, de certa forma, as planilhas que identificam aqueles que estamos entregando para que sejam devorados pelo apetite insaciável do capital e da injustiça social. Não há como salvar estas vidas apenas dentro do consultório. É preciso adentrar ao labirinto e lá mesmo, no território da fera, vencê-la.
O sindicalismo médico, que comemora 80 anos e nossa entidade nacional, a FENAM, que comemora 35, nunca perderam essa perspectiva do todo, esta clara visão de que fazer avançar as relações sócio-econômicas é parte intrínseca de seu trabalho. Como tão pouco perderem o foco na saúde e na categoria médica.
Esse, aliás, é um binômio (saúde e médico) que todo o esforço do movimento iatrofóbico não conseguiu romper. E não conseguiu por que não há como fazê-lo. Nem as formulações de Foucault, já envelhecidas depois de 60 anos, nem as propostas de Franco Bassaglia tiveram sucesso. A Itália, cantada em prosa e verso como berço, pátria e paradigma do movimento antimanicomial, tem hoje, pasmem, mais leitos psiquiátricos do que o Brasil.
Por outro lado, a mercantilização do ensino, vem transformando as faculdades em caça-níqueis, e faz com que tenhamos hoje mais faculdades de medicina do que a China e do que os Estados Unidos. E os cursos que até ontem formavam médicos, agora, diante da última invencionice do Ministério da Educação, formam Bacharéis em Medicina.
Compõe-se, dessa forma, o quadro que tenho chamado de iatrofóbico. A conjunção de vários interesses que conspiram contra a saúde de nossa população. É diante deste cenário, que este grupo assume a FENAM, uma entidade agora fortalecida e unificada, graças à dedicação de colegas como Eduardo Santana. E nossa postura, embora não abdiquemos do compromisso de vigiar e denunciar quando necessário, será de apontar soluções para os crônicos problemas da saúde.
Assim, defendemos:
- A Carreira de Estado como forma de interiorizar os profissionais;
- Um piso salarial compatível com a complexidade do trabalho médico.
- O ingresso por concurso público.
- E o fim da precarização das relações de trabalho.
Mas sem esquecer a imperativa necessidade de uma fonte permanente e suficiente de recursos para a saúde.
Fonte: FENAM - 13-08-2008