Os rostos dos três irmãos de José Arsênio Vieira mostravam o inconformismo junto com a dor da perda, na sexta-feira, no velório do vendedor. A família do homem de 51 anos, que morreu a menos de 20 metros da porta do pronto-socorro, em Itajaí, na quarta-feira, afirma que vai processar o Hospital Marieta Konder Bornhausen por negligência.
O homem teve um mau súbito e morreu nos braços de um policial e de uma dona-de-casa. Ambos afirmam que o socorro foi negado pela chefe de enfermagem, que não permitiu que uma maca fosse disponibilizada.
As testemunhas afirmaram que a agonia durou cerca de 20 minutos. A irmã de José Arsênio, Anabel Vieira, diz ser difícil aceitar a causa da morte impressa no atestado de óbito: Sem Assistência Médica. Além do documento, entregue à família na sexta-feira, o relatório da Polícia Militar também confirma que o policial que atendeu a ocorrência teve o pedido de envio de uma maca negado.
Rapidez no atendimento é fator determinante
O bombeiro militar Eliezér Cardoso, que recebeu os dois chamados no Centro de Operações, disse que orientou a mulher que ligou pela primeira vez e o policial, que ligou quatro minutos depois:
- Quando o caso é clínico, temos de priorizar a rapidez. Atravessar a rua com o paciente em uma maca seria muito mais rápido que deslocar a viatura.
Cardoso reforçou que a posição do paciente em casos de mal súbito não é o que determina se ele irá se salvar, e sim, a agilidade com que é atendido.
José Arsênio Vieira estava mudando de emprego. Seria vendedor em uma loja de móveis. Ele tinha dois filhos, era separado e morava sozinho. Na tarde em que passou mal, estava no Centro da cidade organizando a documentação para voltar ao trabalho.
Mesmo sem consenso sobre o Hospital Materno-infantil Doutor Jeser Amarante Faria, em Joinville, a Secretaria Estadual da Saúde lança na próxima sexta-feira a licitação para a escolha da Organização Social (OS) que vai administrar a unidade.
Os detalhes do modelo de gestão serão divulgados quando o contrato for assinado. A expectativa é de que a OS assuma a unidade em junho de 2008. A Secretaria Estadual da Saúde não fala que a prioridade será garantida aos usuários do SUS.
Com a transferência da administração para uma OS, a unidade deve oferecer especialidades como cardiologia e oncologia pediátrica e de alta complexidade. Há ainda a expectativa de que, com a ativação de mais 113 leitos - hoje só 45 funcionam - , alguns possam ajudar a cobrir o déficit de 350 vagas nos outros hospitais públicos da cidade.
A OS deve inaugurar, ainda, o centro cirúrgico, o ambulatório, o pronto-socorro e a UTI Neonatal. Na UTI pediátrica, instalada em um local provisório, apenas seis dos dez leitos estão ativados.
O governo do Estado gastou R$ 15 milhões no aparelhamento. Trabalham no Hospital Infantil enfermeiros e médicos concursados. Com a transferência da administração, os concursados serão substituídos pelos contratados.
Contraponto
O que diz o Hospital Marieta Konder Bornhausen
Através da assessoria de imprensa, a direção do Hospital Marieta Konder Bornhausen informou que a enfermeira continua trabalhando. A unidade de saúde também reafirmou que não cometeu negligência, visto que o atendimento a José Arsênio Vieira foi realizado no momento em que ele deu entrada no hospital. Não é dever da unidade de saúde prestar socorro fora de suas dependências, porque a prioridade é prestar atendimento dentro do Pronto-Socorro.
Fonte: Diário Catarinense - 16-12-2007