A Secretaria de Estado da Saúde (SES), em parceria com a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), inicia nesta quinta-feira (8) a capacitação em saúde mental de profissionais que atuam nos municípios do Vale do Itajaí atingidos pelas enchentes e deslizamentos de terra. O objetivo do projeto é aumentar o índice de resiliência entre populações afetadas por catástrofes. A preocupação se deve ao fato de que cerca de 20% das pessoas que sobrevivem a catástrofes naturais desenvolvem transtornos mentais por conta dos traumas enfrentados. A análise é de José Toufic Thomé, coordenador do grupo de intervenção em desastres da ABP.
O treinamento será voltado para profissionais de saúde, professores, líderes comunitários, membros da defesa civil e socorristas. No dia 8, serão capacitados profissionais de Blumenau, Rodeio, Timbó e Benedito Novo. Já no dia 9, haverá treinamento para grupos de Blumenau, Rio dos Cedros, Luiz Alves e Pomerode. A segunda etapa do treinamento abrangerá outros municípios atingidos pelas enchentes.
A intenção do treinamento, que será realizado pela diretoria e Comissão Técnica de Intervenção em Desastres e Catástrofes da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e organizado pela Coordenadoria de Saúde Mental da SES, é treinar lideranças comunitárias e equipes de saúde para prevenir, identificar e encaminhar problemas relacionados à saúde mental. O grupo, ligado ao projeto ABP Comunidade, é o representante local da secção de intervenção em desastres da Associação Mundial de Psiquiatria (WPA, na sigla em inglês), que desenvolve protocolos de atuação referendados pela ONU e UNESCO.
Para o coordenador Thomé, é importante que a população desabrigada receba atenção adequada, para diminuir o impacto da perda de familiares, amigos e bens materiais sobre sua saúde mental. “Quando a pessoa é exposta a um stress intenso, numa realidade que desorganiza sua vida, sofre uma ação de violência abrupta. Seus recursos psíquicos não têm condições de se organizar imediatamente para se resolver perante o que está acontecendo”, explicou.
A secretária de Estado da Saúde em exercício, Carmen Zanotto, elogiou a proposta e solicitou que os representantes da ABP fizessem as adaptações necessárias para aplicar os protocolos internacionais em seu estado. “As ações padronizadas são as que apresentaram melhores resultados. Quero adotar e indicar intervenções planejadas e referendadas por organismos internacionais”.
O presidente da ABP, João Alberto Carvalho, apresentou aos representantes de grupos profissionais que devem ser incluídos no projeto, como psicólogos, assistentes sociais, fisioterapeutas, enfermeiros e médicos de outras especialidades; representante do Ministério da Saúde, equipe da Coordenadoria de Saúde Mental e à Secretária de Estado da Saúde, os objetivos, pressupostos básicos e cronograma da intervenção que deverá durar até dois anos, dividida em ações emergenciais, de curto, médio e longo prazo.
Os Secretários Municipais de Saúde do Estado de Santa Catarina também foram acionados, com o objetivo de coordenar e assegurar a adesão e colaboração de todos na implantação do Protocolo. Para Carvalho, a iniciativa da ABP era imprescindível. “Não poderíamos deixar de ofertar nossos conhecimentos e experiência. Vamos oferecer o que sabemos fazer e estou muito satisfeito com a receptividade e mobilização da SES e de todas as categorias profissionais envolvidas. Esse modelo poderá ainda auxiliar outros organismos e localidades nacionais e internacionais”, enfatizou o presidente da ABP.
Para conhecer as características locais e adaptar os protocolos à realidade catarinense, os especialistas da ABP visitaram dois abrigos na cidade de Ilhota, que teve o maior número de óbitos e foi uma das mais atingidas pelas enchentes e desmoronamentos. O coordenador da Comissão da ABP, José Toufic Thomé, destacou a importância de seguir procedimentos comprovadamente eficazes. “Nem sempre o trabalho dos voluntários é eficiente, porque há uma abordagem adequada para cada situação. Num primeiro momento, por exemplo, o ideal é oferecer uma estrutura para que a pessoa busque saídas. Normalmente tenta-se consolar as vítimas, o que é inadequado”. Ele explicou as estratégias recomendadas pela WPA. “A nossa função é reunir e orientar profissionais e equipes multidisciplinares para dar suporte à população. A partir da realidade que se coloca, iremos preparar um diagnóstico e planejar as ações mais adequadas”, concluiu.
Fonte: SES - 07-01-2009