O guarda-roupa quebrado, sem uso há tempo, e aquele sofá rasgado e desbotado que cedeu espaço a um móvel novo na sala estão desde quinta-feira à noite jogados na calçada da rua União da Vitória, no bairro Fátima. Montes de entulhos na frente das casas, ainda ontem, indicavam que o mutirão “ Seu lixo no bom caminho! ” , do Programa de Controle da Dengue (PCD) em Joinville, não atingiu todo seu objetivo. A rua não foi a única que, cinco dias depois de anunciada a coleta pela Prefeitura, ainda permanecia com o lixo nas calçadas. O caminhão também não passou pela rua Padre Augusto.
O mutirão foi organizado pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Na quarta e quinta-feira, moradores receberam folhetos convocando a população a pôr na frente de casa objetos em desuso. Funcionários das secretarias regionais recolheriam o material na sexta-feira.
Após receber o aviso de que o caminhão passaria na sua rua, o moldador Sérgio Paulo Müller, 51 anos, depositou na frente de casa o material que deveria ser levado embora. Mas não foi. “ O bairro está abandonado há tempo. Inventam um mutirão para limpar as ruas e acabar com possíveis focos do mosquito da dengue e o caminhão não passa. É um absurdo ” , reclamou ele, que ainda aguarda a retirada dos entulhos da frente de casa.
“ Não é correto. Por que mandaram o bilhete avisando para retirarmos os entulhos de casa se não passariam aqui para recolher? ” , questiona o moldador, indignado. Ele não estava sozinho nas queixas contra a Prefeitura na tarde desta terça-feira. Outra moradora do bairro que ainda aguardava pela passagem do caminhão da Secretaria Regional do Fátima era a costureira Vera Ribeiro, 52 anos.
Ela colocou o guarda-roupa que não usava mais na calçada, além de outros entulhos e restos de móveis. “ Fiquei chateada quando vi que passaria o final de semana com esta montoeira de coisas na frente de casa. Ontem (segunda-feira), eu até vi o caminhão passando perto. Esperei, esperei e nada. Mas eu ainda aguardo que ele venha aqui recolher isso ” , avisou.
Ação
A coleta de entulhos nos bairros Fátima e Guanabara foi anunciada depois que seis focos do mosquito apareceram
A dona-de-casa Maria de Fátima Pereira, 45 anos, recebeu com alegria o aviso da passagem do caminhão. “ Fiquei feliz, porque os funcionários da Prefeitura levariam embora materiais que o caminhão de lixo normalmente não carrega. Sexta de manhã bem cedo, eu coloquei tudo aqui no canto do muro. No final da tarde, quando encerraram o mutirão, percebi com tristeza que o entulho tinha ficado todo na rua ” , conta. Segundo Fátima, a mãe dela, que também mora na rua União da Vitória, enfrentou o mesmo problema.
Promessa de solução até o fim da semana
A Secretaria Regional do Bairro Fátima está cuidando dos problemas causados pela enchente da última semana. Entre eles, diz o secretário Ademir Machado, as erosões no asfalto e as bocas-de-lobo entupidas. “ O mutirão da dengue começou na sexta-feira. Trabalhamos em algumas ruas e não conseguimos retomar este serviço ontem (segunda), por causa dos problemas causados pela enchente. Fomos um dos bairros mais atingidos com as chuvas da semana passada ” , esclarece.
Segundo ele, as ruas Fátima, Jarivatuba, Rio Velho, Florianópolis e Miosótis foram algumas das ruas que receberam atendimento emergencial depois das chuvas. De acordo com o secretário, a Regional do Fátima não tem estrutura para atender à Secretaria de Saúde. “ Para fazermos este trabalho, tivemos de parar a secretaria e abandonar outros projetos. Agora, temos problemas mais urgentes para resolver ” , explica o secretário. Ele diz que o mutirão de recolhimento de entulhos deve recomeçar assim que a secretaria acabar de resolver os problemas mais graves causados pelas enchentes. E promete resolver o problema até o fim desta semana.
Risco não foi totalmente eliminado
Segundo a coordenadora do Programa de Controle da Dengue (PCD) da Secretaria Municipal de Saúde, Maíres Baggio, 100 toneladas de entulhos foram recolhidas na sexta-feira no Fátima e no Guanabara. Ela reconhece que seria necessário o mutirão beneficiar o bairro todo para reduzir o risco de proliferação do mosquito.
Maíres explica que, como não havia estrutura suficiente para uma ação maior, foram priorizados 30 quarteirões perto dos pontos onde, na semana anterior, foram encontrados seis focos do Aedes aegypti.
“ Acompanhei a ação durante todo o dia e vi o caminhão da Secretaria Regional do Iririú, que foi auxiliar na campanha, recolhendo os entulhos o dia todo ” , explica.
Segundo a coordenadora, pode ter ocorrido de o caminhão da Secretaria Regional do Fátima não ter passado nos endereços previstos ou até de os moradores terem colocado o lixo depois que o veículo cruzou a rua. “ Vi que, em diversas ruas, enquanto o caminhão passava os moradores ainda colocavam os entulhos na frente de casa ” , comenta. Agora, a responsabilidade pelo recolhimento ou não dos entulhos é da Regional do Fátima.
Começa hoje a vistoria nos ferros-velhos, que já estão sujeitos a multa
Os 64 ferros-velhos de Joinville voltam a ser alvo do Programa de Controle da Dengue (PCD) hoje. Os do bairro Floresta serão os primeiros visitados pelos agentes do programa e por funcionários da Vigilância Sanitária. “ Essas empresas fazem parte dos nossos pontos estratégicos que passam freqüentemente por vistorias. Por isso, vamos começar pelos mais problemáticos ” , explica a coordenadora do PCD, Maíres Baggio.
O trabalho deve ser concluído em aproximadamente 30 dias. Agora, quem não tiver cuidados para evitar a proliferação do mosquito – deixar objetos abertos sujeitos ao acúmulo de água – pode ser multado. A vistoria vai acontecer num período do dia. No outro, os agentes vão fazer as ações de rotina – vistoriar as armadilhas e outros pontos considerados de risco, como floriculturas e cemitérios.
A ação nos ferros-velhos estava prevista para iniciar na segunda-feira, mas foi adiada porque um foco de larvas do mosquito Aedes aegypt foi encontrado no Bucarein. O local teve de passar por um bloqueio e por isso os agentes não puderam ser deslocados para outras ações. Toda a área foi vistoriada. Na oficina de escapamentos de Silvio Bruske, na avenida Getúlio Vargas, eles fiscalizaram a caixa-d ' água e objetos que estavam no pátio. Nada foi encontrado. “ Considero o trabalho importante e necessário no combate do mosquito. Procuro não deixar objetos que acumulam água jogados no terreno ” , explica Bruske.
Joinville já registra 16 focos de larvas do mosquito transmissor da dengue do ano, superando os 12 casos diagnosticados no mesmo período de 2007. O último foi encontrado na manhã de ontem, pelos agentes do PCD, em uma armadilha colocada numa distribuidora de bebidas do Bucarein. O local passa semanalmente por vistorias. É o segundo foco de Aedes aegypt registrado no bairro este ano o primeiro estava em uma oficina de motos localizada no mesmo quarteirão.
Maíres acredita que, por causa das condições do tempo, a tendência para os próximos dias é aumentar o número de focos. “ A chuva e o calor são propícios para a proliferação do mosquito ” , explica a coordenadora. Os agentes do programa aconselham que depois de cada chuva as pessoas dêem uma olhada no terreno para ver se não ficou água parada em nenhum local. Já nas piscinas que não têm água tratada é importante colocar um pouco de sal grosso para evitar a criação do inseto. Neste ano já foram registrados casos nos bairros Nova Brasília, Floresta, São Marcos, Bucarein, Anita Garibaldi, Fátima e no distrito de Pirabeiraba.
Fonte: AN Capital - 05-03-2008