27-03-2008 - Saúde continua não sendo prioridade para Joinville

Em Joinville, a indiferença do governo estadual em relação ao pacientes com câncer se contrasta em meio às inúmeras licitações anunciadas e que jamais se concretizaram para a compra de um acelerador linear, equipamento utilizado no tratamento de radioterapia para combater o câncer. Somente na cidade, todos os meses 1300 pessoas em média buscam o atendimento no setor de oncologia do Hospital Municipal São José, em Joinville. A primeira promessa que se tem conhecimento foi feita em dezembro de 2005, a segunda, em julho de 2006, e a terceira em dezembro de 2007. Porém, em 2001, o então ministro da Saúde do governo Fernando Henrique Cardoso, e atual governador de São Paulo, José Serra, havia liberado o dinheiro necessário para a compra da máquina, mas, inexplicavelmente após sua derrota nas eleições presidenciais de 2002, o dinheiro não veio.

Busca da cura
Ao receber o arrasador diagnóstico de câncer, muitas pessoas sentem o chão desaparecer abaixo de seus pés. O problema se deve a uma questão cultural, na verdade um tabu ainda não desmistificado e que acarreta um agravamento do estado psicológico dos acometidos por essa enfermidade, dificultando assim o seu tratamento. Mas, a caminhada que esses pacientes terão que enfrentar em direção a cura, inevitavelmente será árdua. O médico radioterapeuta do Hospital Municipal São José. Ricardo Polli, que trabalha há 18 anos no setor de oncologia do hospital, explica que depois de detectada a doença, e dependendo da malignidade do tumor, a pessoa passará por três fases de tratamento. A primeira consiste em extirpar cirurgicamente o tumor, a segunda seria um tratamento quimioterápico, que consiste na administração de medicamentos que combatem as possíveis células cancerígenas em volta da área atingida. Entretanto, a via crucis começa justamente na terceira e última etapa do combate, a radioterapia.

Equipamento de cinco décadas
Enquanto, Florianópolis, Blumenau, Chapecó e Criciúma já dispõem da tecnologia, Joinville, que atende toda a região Norte, Nordeste e Planalto Norte de Santa Catarina, oferece aos 65 pacientes diários que necessitam do tratamento de radioterapia, uma tecnologia dos anos 60, ou seja, a velha telecobalterapia, popularmente chamada de bomba de cobalto. Durante o tratamento com a bomba, o paciente é submetido a emissão de radiação sobre o tumor, um procedimento que dura de 2 a 3 minutos diários ao longo de 1 mês e meio. Esse é o tempo previsto em situações normais de funcionamento do aparelho. No entanto, com os freqüentes problemas técnicos ocorridos, esse prazo pode aumentar, deixando com que muitos tenham que esperar o conserto, fator que deixa o câncer na dianteira na corrida, onde o prêmio pode ser a vida ou a morte. A situação deixa a maior cidade do Estado com um verdadeiro exército de pacientes comprometidos com essa terapia imprecisa e inadequada em muitos casos.
A bomba de cobalto está instalada há mais de 15 anos no São José, e apesar de ultrapassada e com o surgimento de novas tecnologias na área, o médico Ricardo Polli afirma que a máquina utilizada ainda é bastante eficaz. “O nosso ainda é um aparelho viável, apenas temos que dar uma garibada nele para funcionar como um estepe quando possuirmos o acelerador”. Conforme uma norma da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), 40 das 100 máquinas instaladas no Brasil deverão ser desativadas em dois anos, pois, muitas apresentam a impossibilidade de receber novas fontes de radiação, não podendo ser incrementadas com novas tecnologias, ou ainda, oferecer riscos aos pacientes com uma radiação efetuada a uma distancia não recomendada.

Mais uma promessa em 2008
Agora, a lenda da compra diz que já existe um repasse de recursos pela Secretaria de Estado da Saúde para a aquisição do Acelerador linear. Apontando o local onde deveria estar o acelerador, informa que faltam apenas as plantas da Vigilância Sanitária de Florianópolis para a construção da casamata, construção que irá abrigar o aparelho, e que por enquanto continua sendo uma promessa para amenizar a dor de quem briga com a morte. Perseverante, o médico acredita que se as pendências burocráticas e técnicas fossem resolvidas hoje, em torno de oito a dez meses o acelerador estaria instalado. “Já faz oito anos que eu solicito ao poder público esse equipamento, pois com isso poderíamos atender mais municípios. Por exemplo, não tem cabimento um paciente de Mafra, ser encaminhado para Florianópolis”, desabafa.

Fonte: Gazeta de Joinville - 27-03-2008


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