17-06-2008 - Drama para chegar no hospital

Família não conseguiu ajuda de ambulância para transporte de idosa e teme que a situação se repitaMoradora de uma casa às margens da BR-280, em Araquari, Norte do Estado, Beatriz Nair Leitão, 79 anos, é diabética. Tem gangrenas (feridas formadas pela má-circulação do sangue) nos pés e pernas, problemas no coração e não consegue dobrar os joelhos inchados.
No domingo, viveu um drama para ir do Hospital Regional Hans Dieter Schmidt (onde fez uma raspagem no pé e curativos), em Joinville, até sua casa, distante 27 km. A filha de Beatriz, Elza, 59, diz que hospital, Corpo de Bombeiros, Samu e pronto-socorro de Araquari alegaram não poder transportar a idosa de volta. A ida a Joinville foi com a ajuda de uma ambulância de Araquari. A volta foi, tarde da noite, no carro da nora.
"Como não se tratava de emergência e o transporte era de um município a outro, ninguém assumiu o caso. Chegamos a ligar para a Secretaria de Saúde de Araquari, para a Prefeitura e não recebemos satisfação", afirma Elza.
Sem maca, médico e outros cuidados, a idosa foi carregada por familiares até o carro. Viajou com dor e frio, segundo a filha. Em casa, filhos e netos tiveram de colocar Beatriz sobre um lençol para carregá-la até a cama. "Ela chorava de dor. Choramos juntos pela situação em que chegamos", relata Elza.
Agora, a família vive outro drama. Beatriz tem nova consulta amanhã, no Hospital Regional, em Joinville. "Não sabemos como vamos fazer. Vou na Prefeitura ver se consigo uma solução", diz Elza.
O quadro de saúde de Beatriz começou a piorar em novembro do ano passado, depois que o filho morreu de infarto. Há uma semana, a idosa recebeu alta após 17 dias internada por causa das gangrenas nos pés. No domingo, ela amanheceu com lábios e dedos roxos, a respiração fraca e delírios. Foi levada ao pronto-socorro, de onde seguiu para Joinville.
Elza faz os curativos na mãe, mas sabe que ela pode voltar a precisar de cuidados médicos. "Se ela sente dor e não anda, tem direito de ir e voltar ao hospital numa ambulância. Acho que é o mínimo. Fico pensando em pessoas que não têm carro e passam pela mesma situação." Elza ressalta que o transporte de carro é difícil. "Nem um idoso nem a família merecem passar por isso."


17-06-2008 - Prioridade são emergências
O drama de Beatriz Nair Leitão, 79 anos, pode ser vivido por outras pessoas que dependem do serviço de uma ambulância. A obrigação de alguns órgãos de saúde, nesses casos, é privilegiar situações de emergência, nas quais não haja alternativa de transporte para o paciente.
O Samu e o Corpo de Bombeiros, por exemplo, não têm a responsabilidade de transportar pacientes, a não ser em caso de remoção ou de necessidade de internações. Não há possibilidade de levá-los para o hospital e esperar a conclusão do atendimento. Os dois têm a função de salvar vidas, de atuar em situações em que existe risco.
Segundo o gerente de assistência ambulatorial e hospitalar, Hamilton do Nascimento, o Samu de Joinville tem dois tipos de ambulância. A unidade de suporte avançado (usada por pacientes em estado grave) e a de suporte básico (atendimentos clínicos). Os bombeiros têm cinco carros, e a prioridade são as emergências.


17-06-2008 - Joinville acompanha paciente
Em Joinville, a Prefeitura faz o transporte entre uma cidade e outra. Um privilégio dos moradores da cidade. O serviço, chamado linha branca, utiliza três ambulâncias para tratamento fora do domicílio. "Esperamos o atendimento fora da cidade e trazemos de volta", diz Souvenil de Oliveira, da Secretaria da Saúde.
Oliveira reforça que a obrigação de oferecer transporte é da Prefeitura onde o paciente mora. Em casos extremos, uma negociação pode resolver. "Se a ambulância de Araquari não puder vir e a nossa estiver aqui, o prefeito ou o secretário da Saúde de lá podem solicitar o apoio."
A secretária adjunta de saúde de Araquari, Carmen de Moura Nira, afirmou que não sabia do caso de Beatriz. Segundo ela, as ambulâncias levam os pacientes, mas não costumam esperá-los, já que são apenas três carros. "Só quando o paciente estiver muito mal. Se não, fornecemos o dinheiro para o transporte", informou.
Outra situação que pode ajudar, segundo ela, é o hospital acionar a ambulância da cidade do paciente, informando que ele não tem condições de retornar de outra forma. "Não temos como levar e buscar todo mundo", finalizou.

Fonte: AN - 17-06-2008


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