A assinatura do contrato de gestão do Hospital Infantil Jeser Amarante Faria (HI), em Joinville, voltou a atrasar e pode estar ameaçada de vez. O Hospital Nossa Senhora das Graças (HSNG), de Curitiba (PR), que venceu a concorrência para administrar o HI no papel de organização social (OS), pode ficar de fora da gestão se não concordar com os valores oferecidos pelo governo do Estado.
Se a OS não aceitar o ultimato nesta ou na próxima semana, o governo pode adotar outra solução, um tanto quanto caseira. Para não perder mais tempo, após vários atrasos na escolha da OS e ajustes no contrato, uma das saídas é administrar o hospital por meio de uma parceria com a Prefeitura de Joinville. A possibilidade foi comunicada pela secretária de Estado da Saúde, Carmem Zanotto, na última sexta-feira, quando o contrato de gestão foi reencaminhado a Curitiba para ser reestudado.
O secretário de Saúde de Joinville, Armando Dias Pereria Júnior, não descarta a possibilidade de colaborar com o Estado na gestão. Quinta-feira, durante a reunião semanal da Secretaria Municipal de Saúde com os hospitais, a questão estará em pauta, segundo ele.
— Precisamos sentar, conversar e arrumar a casa. O Hospital Infantil é muito necessário para a cidade, mas temos que ter condições reais de geri-lo. Que ele não seja mais um problema — afirma Armando.
O valor pedido pela OS ao Estado estaria em torno de R$ 3 milhões por mês, o que pesaria nos demais cofres estaduais. Com esse dinheiro, o Estado considera que teria condições de tocar o hospital sozinho.
O diretor-executivo do HNSG, Eduardo Blanski, foi procurado por "AN", mas não foi localizado na segunda-feira para falar sobre o assunto.
Sem acordo entre OS e Estado, resta saber se a solução caseira não se trataria de manobra de última hora para favorecer terceiros. Também desperta curiosidade quem poderia compor a comissão para gerir o Hospital Infantil e em que condições faria isso. Por enquanto, o Estado aguarda a decisão da OS para se manifestar a respeito.
Outra dúvida é saber quanto tempo essa nova etapa demorará, depois de vários atrasos. E quanto uma intervenção como essa, e em cima da hora, refletiria na "saúde" do próprio hospital.
O modelo de gestão por OS foi escolhido justamente para baratear os custos ao Estado e garantir qualidade nos serviços. A contratação de médicos no Hospital Regional Hans Dieter Schmidt enfrenta dificuldades, principalmente por questões como condições de trabalho e salário oferecido. Profissionais da saúde têm receio que a situação se repita no Hospital Infantil.
Leitos de pediatria reduzidos
O Hospital Infantil tem hoje só 32 vagas em funcionamento das cerca de 70 que poderiam ser ativadas com rapidez. São 168 leitos para internação, além de dez para unidade de terapia intensiva (UTI) — seis deles já funcionam. Os 32 leitos atuais representam um prejuízo à pediatria em Joinville e no Norte do Estado, segundo o médico do Hospital Infantil e representante da pediatria na Sociedade Joinvilense de Medicina, Artur Wendhausen.
— Antes de o HI funcionar, a cidade tinha 54 leitos de pediatria no São José e 38 no Hospital Regional (Hans Dieter Schmidt). Com a desculpa de que muitos desses leitos ficavam vazios, as vagas afunilaram-se para as 32 que temos hoje. O resultado é criança internada até no pronto-socorro do Regional, por falta de leito no HI — critica.
Neurocirurgias, que poderiam ser feitas no Hospital Infantil se ele estivesse plenamente ativado, ainda são encaminhadas ao Hospital Joana de Gusmão, na Capital. — Com todos os riscos que esse transporte representa para nossas crianças — acrescenta Wendhausen.
O pediatra diz que procedimentos de alta complexidade, como os que serão atendidos pelo HI, são bem remunerados pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Fonte: AN - 22-07-2008