A chegada de uma viatura do Instituto Geral de Perícias (IGP), na rua Padre Augusto, 620, no bairro Fátima, nessa quarta-feira, dia 6, para retirar o corpo de Ely May Tavares, 65 anos, surpreendeu os familiares que velavam a aposentada. Dona Ely morreu vítima de uma suposta negligência ao ser submetida a um exame de radiografia no Pronto-atendimento 24 horas, no bairro Itaum. Segundo o filho de Ely, o operário Edson Alberto Tavares, sua mãe entrou andando na sala de Raio X, sofreu uma queda de uma maca, o que lhe causou um corte na cabeça, entrou em coma e faleceu nos primeiros minutos do dia 6.
Eram cerca de 11 horas da manhã quando uma assistente social do Hospital São José chegou ao local acompanhada por policiais e se dirigiu para o interior da residência, logo depois o rabecão do IML também estacionou em frente a casa. Familiares e amigos se entreolharam confusos. Funcionários do IGP também foram para o interior da casa. Minutos depois e chorando muito o filho de dona Ely, ao lado do caixão da mãe, comunicou aos presentes que o corpo seria retirado para um exame cadavérico.
A revolta tomou conta de todos. “Isso é falta de competência do hospital, se fosse minha mãe eu jamais deixaria retirar o corpo”, disse indignado o pedreiro Amarildo Lopes, 47 anos, vizinho da vítima. Edson Tavares, extremamente comovido com a situação, questionava o procedimento. “Por que não fizeram isso com minha mãe antes de liberarem o corpo para o sepultamento? Já não basta o sofrimento causado com todo esse descaso? Estou há três dias sem comer e dormir direito, e agora esse absurdo de levarem o corpo de minha mãe.”
Em meio ao tumulto causado com a decisão de retirar o corpo, populares se manifestavam contra e incentivavam o filho de Ely Tavares a não permitir a remoção do corpo. “Eles me disseram que se eu não permitisse, mais tarde teriam que desenterrar a minha mãe.”, justificou o filho inconformado. Controlados os ânimos e sob os olhares incrédulos, o caixão foi fechado e colocado dentro do carro do IGP com a promessa que retornaria às 14 horas. O IGP trouxe o corpo da aposentada às 14h30min.
Hospital São José admite erro em liberar o corpo
O Hospital Municipal São José, que indevidamente liberou o corpo de Ely May Tavares, informou através de seu diretor técnico, o médico anestesiologista Tomio Tomita, que houve uma emissão de um atestado de óbito, fator que liberou o corpo. Porém, mais tarde foi verificado que havia um boletim de ocorrência em aberto sobre o ocorrido no PA Sul, e que vitimou dona Ely. Diante disso, o delegado determinou que o corpo fosse resgatado e a necropsia fosse realizada. “Quando há um problema dessa natureza, é esse o procedimento adotado, ou seja, encaminhar o corpo para autópsia”, afirmou o médico. Ainda de acordo com Tomio, o médico atestou a morte como causa desconhecida. “Mas o delegado não acatou e resolveu resgatar o corpo”, explicou o diretor. Ele também esclareceu que a decisão é uma prerrogativa do médico responsável, mas, o diretor não concordou com a atitude do profissional. “Eu, particularmente e do meu ponto de vista, discordo tecnicamente que ele deveria ter liberado o corpo”. E completa: “Realmente erro existiu e minha equipe acionou o delegado para que nós resolvêssemos esse problema. Nesse caso, ele não poderia ter emitido um atestado de óbito sem ter encaminhado o corpo para a autópsia.”, finalizou.
Mal-estar, queda, inconsciência e morte
Para Edson Alberto Tavares, o mal-estar que acometeu sua mãe, na madrugada do dia 4, sem dúvida não foi a causa de sua morte, ocorrida logo após a meia-noite dessa quarta-feira, dia 6. “Ela entrou andando e saiu em coma, com 48 pontos na cabeça”. Naquela madrugada, por volta das 4 horas, dona Ely, acompanhada de Edson, deu entrada no PA Sul. Ela foi atendida e para se certificar que a dona de casa apenas sentia um mal-estar, o médico plantonista a encaminhou ao setor de radiologia. Edson alega que foi impedido de acompanhar a mãe no exame. Aguardando do lado de fora da sala de exames, o filho ouviu em estrondo, era sua mãe que acabara de sofrer uma queda da maca. Edson entrou na sala e se deparou com sua mãe banhada de sangue que jorrava de um profundo corte na cabeça. Desesperado, ele começou a pedir auxílio pelos corredores do PA. Primeiramente, dona Ely foi levada pelo Samu para o Hospital Regional Hans Dieter Schmidt, mas, chegando lá, os paramédicos foram informados que não havia vaga na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Na seqüência, a paciente foi transferida até o Hospital São José. Às 10 horas do mesmo dia, Edson foi até a Delegacia de Proteção a Mulher Criança e Adolescente e registrou um boletim de ocorrência contra a funcionária Marilize, do setor de radiografia. Dona Ely faleceu na madrugada da última quarta-feira.
Fonte: Gazeta de Joinville - 07-08-2008