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22-09-2008 - Joinville: Saúde de pernas para o ar

Que a saúde em Joinville está de pernas para o ar, infelizmente não é mais novidade para ninguém. Recente pesquisa realizada pela Gazeta/Univali revelou que para mais 55% dos entrevistados, a maior chaga de Joinville é mesmo a saúde. Este percentual é muito superior à percepção de insegurança pública (17,5%), apontada como a segunda maior deficiência. Porém, o fato é que essa situação tende a se agravar.
Quase que diariamente, o problema integra os noticiários de TV e as páginas dos jornais. Nas informações veiculadas é possível perceber o sofrimento de quem agoniza na espera por um atendimento ágil e de qualidade.
Na atual gestão municipal, os problemas no setor ganharam proporções assustadoras. Pessoas têm morrido sem encontrar um de seus principais direitos básicos, que é um atendimento satisfatório na rede pública de saúde. Estruturas foram edificadas com o único e exclusivo intuito eleitoreiro de inaugurá-las mesmo sem os mais elementares e básicos recursos humanos e materiais.
Sem equipamentos e pessoal, essas estruturas ociosas servem apenas como monumentos em homenagem ao descaso, enquanto nos corredores do hospital municipal São José, vão se amontoando pacientes em macas e até sentados em cadeiras devido à falta de leitos.
Deixando o quadro ainda mais grave, o péssimo salário pago aos médicos pela prefeitura tem afugentado os profissionais, contribuindo assim, com o aumento da triste fila de espera por uma consulta com especialistas, a qual, pode demorar até dois anos.

Quatro secretários e nenhuma solução
E como se não bastasse a calamidade reinante no setor, já foram quatro os secretários de saúde que não deram conta do recado, inclusive com um deles vergonhosamente preso por irregularidades cometidas com o dinheiro destinado a compra de medicamentos.
A primeira a deixar a pasta foi a secretária Tânia Eberhardt. Críticas feitas a secretária pelo prefeito Tebaldi, através de um jornal, motivaram o pedido de exoneração em fevereiro de 2005.
Depois, a pressão recaiu sobre a sucessora, Marileia Gastaldi Machado Lopes. A estrutura precária nos PAs 24 horas, greve de médicos e fiscais da vigilância sanitária e inúmeras críticas da população nutriram as pressões sobre a secretária municipal da Saúde, que em março de 2007, deixou a pasta.
Em 15 de abril de 2007, assume o radialista Norival Silva, que nove meses depois arrastou negativamente o nome de Joinville para os noticiários nacionais. No dia 14 de janeiro desse ano, o secretário Norival foi preso em sua casa. Considerado o homem forte do prefeito e com nome bem cogitado para compor como vice, a chapa do candidato apoiado por Tebaldi para a sucessão municipal desse ano, Norival, foi preso e indiciado por formação de quadrilha, corrupção ativa e passiva, crimes contra a administração pública e concussão. Norival usava a estrutura da secretaria para realizar seus negócios. Segundo o inquérito policial, ele cobrava propina para burlar a ordem cronológica na fila de credores tanto da secretaria do município quanto do Estado, além de ser apontado como o líder do esquema.
No dia 23 do mesmo mês, Paulo Iolando Santana, é nomeado o secretário. Entretanto, sua estadia na Secretaria também teria vida curta. Sem muitas explicações, Paulo pede exoneração no dia 9 de julho desse ano. Atualmente é titular da pasta o médico Armando Dias Pereira.

Norival preso em casa
O joinvilense que depende da saúde pública conhece muito bem o verdadeiro caos que se instalou nos postos de saúde, prontos-atendimentos e hospitais no município. E agora conhece também o porquê de tanta deficiência: o dinheiro que deveria ser usado em leitos de UTIs, tratamentos nas emergências e exames diversos era drenado em comissões espúrias, propinas e fraudes.
No ano passado, o Ministério Público Estadual (MPE), passou a investigar as ações do secretário Norival Silva e descobriu graves irregularidades . Norival recebia um percentual cada vez que pagava uma remessa de medicamentos. O valor era rateado com Ramon Silva, da Secretaria de Estado da Saúde; com ajuda do servidor João Batista Soares.
O esquema contaria com o envolvimento dos empresários Maria Fernanda Menezes, proprietária do Laboratório DNA Análises, Marco Antônio Dellagustina (que também teria sido beneficiado em processos de licitação), Elson Pucci, Roni Broglio e Flávio Hormann. A cada pagamento de R$ 60 mil, por exemplo, o secretário ficava com R$ 10 mil. O Ministério Público ainda investiga quanto o secretário teria recebido indevidamente ao longo de sua gestão na pasta.
As ordens de busca e apreensão, e de prisão, foram expedidas pelo juiz João Marcos Buch, titular da 2ª Vara Criminal de Joinville, através de procedimento ajuizado pelo Promotor de Justiça Assis Marciel Kretzer.
Entre os depoimentos tomados pela polícia, consta a do empresário Marco Antonio Dela Justina, proprietário da empresa Hospsul Comercio de Produtos Médicos Hospitalares Ltda. e que também fazia parte do esquema. Ele afirma que no ano passado, o ex-secretário cobrou 10% para agilizar pagamentos a sua empresa. A propina era referente ao valor de móveis vendidos ao Hospital Municipal São José. Além disso, o relatório cita também encontros às margens de rodovias para tratar de acertos (tudo fotografado pelos investigadores).

Ingredientes do caos
Greve nos Prontos-Atendimentos A situação da saúde em Joinville nunca foi das melhores. Mas o sofrimento do povo aumentou com a recente greve nos PAs da cidade, fruto do descaso quando o assunto é saúde. Quem precisou recorrer ao atendimento através do Sistema Único de Saúde (SUS), percebeu apenas o descaso com que o acesso à saúde do joinvilense é tratado. Quem necessita de socorro médico foi aconselhado a procurar o Hospital São José ou o Regional e entrar em uma fila de espera que chegava a mais de 10 horas. O que se vê nos hospitais públicos de Joinville são as salas de espera cheias e filas que não andam. Muitas pessoas sofrendo todos os tipos de dores, algumas com suspeitas de doenças contagiosas esperando a vez de ser atendidas, juntamente com crianças e idosos doentes. Essa espera pode varar a madrugada.
Radioterapia ultrapassada Em Joinville, uma média de 65 pacientes diários necessitam do tratamento de radioterapia. O procedimento, que dura de 2 a 3 minutos em situações normais de funcionamento do aparelho que faz a emissão de radiação sobre o tumor, é realizado ao longo de 1 mês e meio. No entanto, com os freqüentes problemas técnicos ocorridos, esse prazo pode aumentar, fazendo com que muitos tenham que esperar o conserto, deixando o câncer na dianteira da corrida, onde a conseqüência pode ser a morte.
Pronto-socorro fechado A medida adotada há alguns meses pela diretora do Hospital Regional Hans Dieter Schmidt, Ana Maria Jansen, que determinou o fechamento das portas do pronto-socorro daquele hospital para atendimentos clínicos representou um sério risco à população e comprometeu ainda mais o já combalido sistema de atendimento à saúde. A proposta foi tomada sem levar em conta a falta de estrutura nas alternativas apresentadas que são os dois prontos-atendimentos (PAs) e os postos de saúde. Essas unidades receberam os “rejeitados” do Regional. A decisão potencializou significativamente as mazelas de quem procura alívio e solução no precário atendimento oferecido.
Hospital Infantil Dr Jeser Amarante Faria de Joinville Primeiro lugar em atrasos na saúde, o Hospital Infantil Jeser Amarante Faria, começou a ser construído em 1997, e entrou em precário funcionamento apenas em 2006. Com insuficientes 32 leitos de internação comum, seis de UTI pediátrica e 10 de oncologia. O hospital foi inaugurado às vésperas de uma eleição.  54 vagas da ala pediátrica do Hospital Municipal São José e 36 no Hospital Hans Dieter Schmidt foram fechadas, e as crianças transferidas para o recém inaugurado hospital. Em virtude da falta de um pronto-socorro pediátrico, as crianças eram obrigadas a percorrer 8 quilometros para serem atendidas no Hospital Regional, e depois levadas de volta para internação no Jeser Amarante. O vai-e-vem das crianças  preocupou os médicos, e rendeu uma ação judicial contra o Estado.
Complexo emergencial Ulysses Guimarães  A obra paralisada e informações desencontradas estiveram entre os problemas da saúde em Joinville. O complexo Emergencial, inicialmente orçado em R$ 9,5 milhões, e com entrega prometida à comunidade para dezembro de 2004, foi motivo de várias críticas. Em 2005, a construção do complexo Ulysses Guimarães já havia consumido mais R$ 12,3 milhões através de um projeto municipal de auxílio financeiro, número 45/2005 de 30 de maio de 2005, aprovado pelo Conselho Municipal de Saúde. Passados exatos dois anos e meio, a população da maior cidade do Estado, ainda não podia contar com os benefícios da obra, pelo contrário, colhem apenas os transtornos. No dia 9 de maio desse ano, o complexo foi finalmente entregue, entretanto,  apenas com o pronto-socorro funcionando.

Fonte: Gazeta de Joinville - 22-09-2008
 


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