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22-09-2008 - Joinville: Pacientes ficam até 4 horas a espera de atendimento nos PAs

Até onde pode chegar a incompetência da prefeitura para administrar a saúde: falta de médicos, profissionais sobrecarregados, corrupção e prisão de secretário. Em Joinville, o caos estabelecido parece não ter limites. São hospitais lotados, falta de leitos, prontos-atendimentos superlotados, postos de saúde precários, falta de médicos, infra-estrutura aquém do necessário. Esse é o doentio prontuário da saúde pública de Joinville. No extremo dessa corrente está à população, que sofre com o mau funcionamento daquele que deveria ser, e constitucionalmente é, um direito do cidadão: a saúde publica de qualidade.
Para retratar um pouco mais dessa cruel realidade passamos algumas horas, na noite da última sexta-feira (19), no Pronto-atendimento Sul, que fica no bairro Itaum. No local havia quatro médicos de plantão – o que segundo funcionários é o padrão. Eram dois pediatras e dois clínicos gerais que tinham de se multiplicar para dar conta da demanda, que é intensa. Chegamos ao PA por volta das 19h30. O movimento era mediano. Dezenas de pessoas estavam nas filas à espera de uma consulta, ou realizar exames.

Relatando a rotina do PA
Pouco tempo depois de entrar e sentar-me em uma cadeira no fundo da sala de espera principal, uma enfermeira muito educada pergunta se eu estou bem. Com cortesia, respondo que sim, digo que apenas estou esperando uma amiga.
Pois bem, começo então a observar a rotina do local. Enfermeiros correndo de um lado para outro levando papéis, exames, medicamento e pacientes. O telefone não pára de tocar. Já são 20 horas e um fila começa a se formar no balcão de informações.
Uma mulher de cabelos loiros chega preocupada, com uma linda criança no colo. Ela traz a filha é que está doente. A dona de casa Joselaine Petrobelli, de 26 anos, buscava atendimento para filha, a pequena Naiara Kely de Matos, de um ano e um mês.
TRIAGEM LOTADA De aparência frágil, Joselaine permanece por um bom tempo na fila, até ser encaminhada para o setor de triagem. Ainda na mesma fila, uma outra mulher, não menos preocupada, também espera na tentativa de conseguir uma consulta para o filho. Era a vendedora Greice Windmüeller, de 31 anos, que trouxe o filho Ramon, que estava com uma crise bronquite.
A vendedora permanece na recepção por quase meia hora para somente depois ser encaminhada para a triagem. Olho no relógio, já são 20h30, a fila aumenta e as pessoas continuam chegando e saindo do PA. Alguns enfaixados, outros com olhares cabisbaixos e apáticos. Decido então me levantar, e sigo para a sala de triagem. Foi lá que conheci dona Joselaine, nossa primeira personagem.
A pequena sala está lotada de pacientes, a cena é bem diferente daquelas propagandas eleitorais que são mostradas na televisão. É uma cena de dor. De angústia.

De bronquite a água nos pulmões
Passam-se mais alguns minutos, Naiara e Ramon são chamados, coincidentemente, juntos, mas, ainda não é a consulta. Em uma outra sala a enfermeira pede para tirar a roupa da bebezinha que está com febre. Ao mesmo tempo, o garoto tem a temperatura e o peso medidos. A enfermeira percebe que o caso e grave. Naiara está com 40ºC de febre. Imediatamente a enfermeira ordena que a mãe de Naiara tire as roupas da criança. Solidária a vendedora Greice tenta ajudá-la. Nessa hora Ramon começa a ter náuseas e vomita. Já são 21 horas, finalmente Naiara é medicada e levada às presas para o setor de emergência do PA onde fica em observação. A situação do garoto também não é boa. 21h20 ele é atendido e também encaminhado para a emergência do pronto-atendimento. Lá mais uma vez juntas, as crianças passam por exames e são tratadas.
Problema cardíaco Olho no relógio que já marcam 21h30. Ao voltar à recepção principal, encontro vários rostos semelhantes aos que vi, quando cheguei ao PA, há duas horas atrás. Um senhor aparentando entre 60 e 70 anos, muito pálido e magro chega acompanhado de duas senhoras. Percebo então uma grande movimentação. Ele é levado às presas, diretamente para a triagem. Fica lá por cerca de 20 minutos, e também é transferido para a emergência onde faz diversos exames. Era um caso de arritmia cardíaca e retenção de líquido nos pulmões.

Consulta de apenas 10 min
Perto das 22 horas o movimento de pessoas chegando ao PA diminui um pouco, mas não cessa. As filas ainda continuam. Dona Joselaine finalmente sai da sala de emergência com a pequena Naiara no colo. A febre da menininha já é menor, somente às 22h05 o médico consegue examinar a criança.
A consulta dura menos de 10 minutos e o médico manda a criança para o exame de raio X. Às 22h35 a radiografia é feita, e mais uma vez, Joselaine espera o médico atender a filha. Já são 22h55, nessa hora, com uma receita em mãos, Joselaine vai até a farmácia do PA. Teve sorte, hoje tinha remédio. Finalmente, às 23 horas, ela termina a jornada para a consulta da filha, e consegue atender a nossa equipe de reportagem. “Fiquei preocupada porque ela estava com 40º de febre, e o atendimento inicial demorou. Faz três dias que ela está assim. Mas agora ela vai ficar melhor”, conta a senhora, após 3 horas de espera.

Funcionários sobrecarregados
O pequeno Ramon ainda está na observação. A mãe do garoto sai da sala de emergencia me adianta. “Ele já está melhorando”. Dona Grace diz que sempre que procura o atendimento no PA, ou nos postos de saúde, sofre com a demora. “Aqui sempre está lotado. Já teve vezes de ficar esperando os médico mais de 4 horas e nada. De uma maneira geral, a saúde pública e muito ruim aqui na cidade, não tem médicos suficientes, as pessoas se amontoam nas filas a espera de uma consulta com especialista. As emergências estão lotadas e os funcionários estão sempre sobrecarregados, devido à quantidade de serviço. Nosso próximo prefeito tem que fazer algo para melhorar tudo isso”, desabafa.
Números atípicos Já passavam alguns minutos do sábado quando saímos do PA. Nosso terceiro personagem, o ainda permaneceu internado, no dia seguinte pela manhã fomos informados de que ele recebeu alta. A direção do pronto Atendimento não quis dar entrevista. Apenas informou que na sexta-feira no PA Sul, o número de consultas chegou a 580. Na quinta-feira o total foi de 540. De acordo com funcionários o movimento atípico naquela noite, uma vez que a média de consultas chega a 650 em dias mais movimentados. Essa é a realidade da angústia e espera de quem precisa dos serviços emergenciais em Joinville.
 
Fonte: Gazeta de Joinville - 22-09-2008


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