As mulheres já podem contar com novas aliadas na luta contra o HPV, doença que mata uma mulher a cada duas horas no mundo: são vacinas que previnem contra o surgimento do vírus, contraído por meio de relações sexuais. Vencido esse obstáculo pela ciência, a luta agora é contra o medo. E aí não é só o temor da agulha que entra em cena, mas o receio que os pais têm de vacinar as filhas ainda novinhas contra uma doença sexualmente transmissível.
Conforme a enfermeira Andrea Villasbôas Malburg, da Salutare Vacinas, de Joinville, o medicamento tem comprovadamente maior eficácia, atingindo 100% dos casos, quando aplicado entre nove e 26 anos. Por isso, a importância de tomá-lo o quanto antes. Mas poucas pessoas estão conscientes disso. "Por desinformação, preconceito ou falta de indicação médica, muitos pais deixam de vacinar as filhas", comenta Andrea, alertando para o fato de que não se deve esperar pelo início da vida sexualmente ativa para se preocupar com o HPV.
Quanto mais tempo a pessoa demorar para procurar um especialista, menores são as chances de prevenção. Se tomada até os 46 anos, a vacina tem a sua eficiência reduzida a 92% dos casos. O câncer de colo de útero mata cerca de 230 mil mulheres por ano e só perde para o câncer de mama, de acordo com dados do Instituto nacional do Câncer (Inca). Neste ano, estima-se que 18.680 novos casos surjam, totalizando 19 infectadas para cada 100 mil mulheres.
Atualmente, o mercado conta com dois tipos de vacinas para combater o HPV: a quadrivalente, que protege contra sorotipos 6 e 11 (principais causadores das verrugas genitais) e 16 e 18 (principais causadores do câncer de colo de útero); e a vacina bivalente, que age contra os sorotipos 16 e 18. Em meio aos mais de cem tipos de vírus existentes, esse número pode até parecer pequeno, mas o medicamento combate justamente aqueles que carregam um maior potencial de complicação, podendo se tornar doenças malignas.
Outro fator importante: as mulheres devem estar atentas porque nem sempre o grupo viral manifesta claramente os sintomas. Segundo o ginecologista Zulmar Sancho Moreira, nem sempre a presença do HPV causa feridas ou sintomas facilmente perceptíveis. "Às vezes, o vírus não causa verrugas na região externa dos órgãos genitais ou então causam mudanças tão sutis na pele, que só podem ser detectadas com a ajuda de instrumentos especiais", explica o médico, alertando para a necessidade de fazer exames preventivos (como o papanicolau) regularmente. Segundo dados do Inca, a estimativa é de que existam 300 milhões de casos em que a pessoa tem o vírus, mas não apresenta nenhum sintoma. Há também os casos em que o vírus nunca se manifesta exteriormente, conhecido como infecção subclínica, e também outros que causam verrugas nas mãos e pés.
Tire suas dúvidas
O que é o HPV?
É uma doença sexualmente transmissível que pode causar verrugas e lesões na região dos órgãos genitais, além de atingir outras partes do corpo. Também é o principal causador do câncer de colo de útero.
Quem pode contrair o vírus?
Homens e mulheres sexualmente ativos, de todas as idades. As crianças recém-nascidas podem contrair a infecção no nascimento, mas isso é raro.
Como se contrai o HPV?
Através do contato direto, durante as relações sexuais vaginais, anais ou orais.
Quais os principais sintomas?
Raramente sintomas como coceira, dor ou sangramento são sentidos. Alguns tipos de verrugas podem ser encontradas em exames físicos nos homens ou pélvicos nas mulheres.
O HPV tem cura?
Nenhum dos tratamentos disponíveis é uma cura para o HPV. Como o vírus pode permanecer latente nas células, em alguns casos as verrugas genitais podem reaparecer meses ou anos após o tratamento.
O HPV também pode causar câncer nos homens?
Raramente. Mas, em estágio avançado, o vírus causa lesões com a forma de verrugas na região genital masculina.
Quantas doses da vacina são necessárias?
São nescessárias três doses para atingir a plena eficácia.
Qual o custo da vacina?
O preço gira em torno de R$ 350 e R$ 450.
Que outros fatores contribuem para o surgimento da doença?
Tabagismo, baixa ingestão de vitaminas, multiplicidade de parceiros sexuais, iniciação sexual precoce e uso de contraceptivos orais.
Preventivos ainda são importantes
O surgimento da vacina contra o HPV não deve servir de desculpa para as mulheres deixarem de fazer exames, alerta o ginecologista Zulmar Sancho Moreira. Pelo menos uma vez ao ano, mulheres devem ser submetidas a exames como o papanicolau, porque existem outros tipos de doenças ginecológicas que só são detectadas via exames feitos por especialistas.
Mesmo quem tomou a vacina, ressalta o ginecologista, tem de tomar cuidado. Como o vírus é contraído por meio da relação sexual, os métodos que evitam outras enfermidades transmitidas sexualmente podem também ser efetivos contra o HPV. Mas usar camisinha oferece proteção desde que cubra toda área infectada pelo vírus.
E não são só as mulheres que devem ficar alertas. Esse inimigo oculto também atinge os homens, apesar de provocar conseqüências menos graves na maioria dos casos. Conforme Moreira, os casos em que o HPV se transforma em um câncer no pênis não podem ser comparados à incidência dos tumores malignos no colo do útero feminino. No entanto, o problema deve ser tratado o quanto antes. Geralmente, as verrugas causadas pelo HPV podem ser eliminadas com cauterização. Apesar de o vírus continuar latente no organismo (o HPV não tem cura), com esse tratamento a doença não pode mais ser transmitida a outras pessoas.
Fonte: AN - 13-10-2008