Internada no pronto-socorro do Hospital Municipal de São José há duas semanas para tratar a trombose nas pernas, Olívia Machado Abreu, 76 anos, testemunhou mais um caos na saúde pública. Ela estava lá, em sua maca instalada no corredor, nos dias em que o pronto-socorro (PS) do maior hospital de Joinville não conseguiu atender à procura de pacientes. Na noite de segunda e a manhã de ontem, havia pessoas internadas em cadeiras de praia, macas de paramédicos, colchonetes, até mesmo no chão.
“Ontem (segunda) à noite, uma mulher com a perna quebrada sentia dor, sentada nessa cadeira. Havia pouco espaço para as macas passarem. Até no meio do corredor tinha gente internada. Então, esbarravam sem querer na perna machucada dela”, contou Olívia.
Ontem de manhã, a direção do hospital decidiu fechar o PS por tempo indeterminado. Estão sendo atendidos apenas pacientes que correm o risco de morrer. A decisão foi negociada com as outras unidades de atendimento na cidade, que também sofrem com a falta de leitos. Para conseguir mais vagas, os dois hospitais (São José e Regional Hans Dieter Schmidt) vão cancelar cirurgias agendadas em uma semana.
Fechar o PS foi um pedido da equipe, em especial dos enfermeiros, que não viam mais condições de atender as pessoas. Onde cabem 36 pacientes internados, estão mais de 90. Até a tarde de ontem, os corredores, as salas de observação e a de emergência estavam cheias de pacientes. Eles vivem como dona Olívia, que deixa sua mala debaixo da maca e se acostumou a dormir tarde da noite, quando o corredor está mais silencioso. Esperam exames e outros procedimentos de ortopedia, clínica, neurocirurgia, cirurgia geral, oncologia e cirurgia vascular.
Essa é a terceira vez em um ano que o pronto-socorro do São José é fechado. Os motivos da superlotação, afirma o recém-nomeado diretor do hospital, Tomio Tomita, são vários. Entre eles, uma procura inesperada para esta época do ano – de pacientes de Joinville e cidades vizinhas. E a falta crônica de leitos da unidade, que tem 240 leitos e é referência em tratamento de acidentados.
O quarto andar, que foi reformado para abrir 36 leitos de internação, não está funcionando, apesar de inaugurado no ano passado. Há goteiras no telhado. O pronto-socorro, onde são atendidos casos de urgência e emergência, deveria ser um local de passagem. “Observação não é local de internação”, explica Tomio Tomita.
Fonte: A Notícia - 28-01-2009