02-02-2009 - PÚBLICA DE JOINVILLE: SEM DATA PARA SAIR DA EMERGÊNCIA

A saúde será o primeiro assunto abordado na série de entrevistas com os novos secretários de Joinville que “A Notícia” estreia hoje (acompanhe abaixo o calendário). Na última semana, a superlotação do pronto-socorro do Hospital Municipal São José voltou a alertar: a saúde de Joinville está na emergência. A descoberta da dívida de R$ 13 milhões com fornecedores foi outro sinal vermelho. A decisão da Secretaria da Fazenda de congelar novas licitações, enquanto o balanço do ano passado não for concluído, piorou ainda mais as coisas.
O prefeito Carlito Merss foi enfático na campanha: a saúde seria a prioridade nos primeiros cem dias. Uma inspeção que ele fez no São José reforçou a meta. Mas, apesar da ênfase de Carlito, o secretário de Saúde, Tarcísio Crocomo, prefere a cautela. Não dá prazos para obras em andamento nem para a melhoria de serviços. Diz que ainda está tomando conhecimento da área. Para ele, promessas de campanha como a construção de um hospital na zona Sul, de um PA na zona Oeste e a transformação dos PAs em policlínicas estão só na ideia, sem nada de concreto. Nem sobre o PA Aventureiro, que está no esqueleto, há certezas. A primeira meta de Crocomo é atacar as filas para consultas e exames de especialidades, como a cardiologia.
Em relação ao São José, o secretário prefere não opinar. “O Tomio (Tomita, diretor-presidente do hospital) irá fazer um bom trabalho lá.” A esperança passa pela promessa de liberação de R$ 1,1 milhão do governo do Estado para obras emergenciais e compra de equipamentos para o São José. Mas resolver a falta de médicos é algo que não ainda não tem fórmula mágica. Confira as respostas para questões críticas da saúde pública de Joinville.

A Notícia - Como o senhor encontrou a Saúde nesses primeiros dias de governo?
Tarcísio Crocomo – Não muito boa. O Hospital São José está com dívidas, como já se sabe. As 56 unidades básicas têm deficiências. O paciente que precisa de especialidades tem de esperar muito tempo nas filas. Precisamos organizar as urgências e emergências, estabelecer um fluxo nos PAs. Tocar obras. Nosso almoxarifado, onde ficam medicamentos, está em péssimas condições. Mas há o lado bom. Serviços como vigilância sanitária, epidemiologia, cobertura pré-natal e atendimento pediátrico, com o funcionamento do Hospital Infantil, vão bem.

AN – A questão do almoxarifado parece uma das pontuais. Quais os problemas e o que senhor aponta como solução?
Crocomo –
O prédio é antigo, tem cupim, infiltração, tudo o que se possa imaginar. A solução é construir um prédio novo.

AN – Tem previsão?
Crocomo –
Não. É um problema que levantamos agora. Não se empreende assim, sem projeto.

AN ­­– ­Os estoques de remédio poderiam ficar comprometidos?
Crocomo –
De certa forma, sim. Só que tem funcionários lá, eles cuidam da situação.

AN – Dos problemas listados acima, o que deve ser atacado no início de governo?
Crocomo –
Penso que a questão das especialidades, mas é complexo. Não tem médico especialista na rede pública. Vamos ter de botar a cabeça para funcionar para resolver. A partir de fevereiro, devemos concentrar esforços para isso. Temos muitas frentes de serviço, mas se tiver que depositar minhas energias, será nisso. É desumano aceitar um, dois anos de espera para uma consulta.

AN – Qual a fórmula para contratar mais médicos, se a renumeração é baixa?
Crocomo –
Não tem fórmula, mas estou gastando fosfato junto com a equipe para ter especialistas. A gestão anterior optou por fazer mutirões, mas gostaria que não fosse regra, que tivéssemos os médicos.

AN – O prefeito prometeu melhorar os salários dos médicos, o que poderia trazer esses profissionais...
Crocomo –
Como fazer isso quando encargos sociais de médicos do São José são pagos com dinheiro do Fundo Municipal de Saúde, que deveria ter outros fins? Eu acho que tem que ser discutido. Impacta muito no orçamento. Tem que ser uma discussão ampla. Não é a caneta do secretário que determina isso, mas uma política pública, discutida com a classe (médicos), prefeito etc.

AN – Debater não atrasaria a solução de situações emergenciais?
Crocomo – Talvez isso seja um dos motivos para a gente estar sempre patinando. Mas a aprovação de uma política salarial sem pensar, sem discutir, quebraria o sistema. Vira outro problema. E, além dos médicos, tem que pensar nos enfermeiros, técnicos, pessoal dos exames, dentistas.

AN – Há orçamento para aumentar os salários?
Crocomo – Não sei, tem que ver com a Secretaria de Finanças.

AN – Em cem dias, pelo menos essa questão salarial, que permitiria acabar com as filas para especialistas, estará solucionada?
Crocomo – Não posso dar prazo, fazer promessa.

AN – Em dois anos, então?
Crocomo –
Talvez, seria um bom prazo.

AN – Pelo menos sai no mandato?
Crocomo –
Não dá para precisar uma data para essas coisas estando há três semanas no cargo. Mas são prioridades do Carlito.

AN – Outra cobrança é a ativação de leitos. Há locais em reformas, mas também exigiriam mais médicos, enfermeiros. Como equacionar?
Crocomo – Temos 35 leitos no quarto andar do São José, que poderiam estar funcionando, mas a reforma não atendeu a critérios do Ministério da Saúde. Precisaríamos de uns 360 leitos hoje, mas é coisa para uns dois anos, acredito. O Hospital Infantil está resolvendo a questão dos leitos pediátricos e UTI neonatal. O Complexo Emergencial, quando pronto, vai fechar essa necessidade de leitos emergenciais, de alta complexidade. Mas claro que tem a questão de funcionários, enfermeiros, para atender esses leitos.

AN – Falando em Complexo Emergencial, a segunda parte fica pronta quando?
Crocomo –
Ela está só no começo, no esqueleto. O bom é que já está licitada. Pelos papéis, daria de dar prazo, mas a gente sabe que não funciona assim. Um atraso impulsiona outro. O que tem atrasado ali são problemas na condução das obras. Há partes que não estão rigidamente com as determinações do Ministério da Saúde. Isso amarra.

AN – Como um hospital não sai dentro das normas? É problema de empreiteira, que não cumpre o projeto à risca, ou falha do engenheiro mesmo?
Crocomo –
Prefiro não julgar. Não sou engenheiro para dizer por que uma viga que deveria ir aqui, de repente tem que mudar ou por que o sistema de ventilação não é o mais adequado. Mas a auditoria que se pretende fazer na obra talvez possa esclarecer.

AN – Pela demora que o Complexo tem enfrentado, as promessas de campanha como o hospital na zona Sul, o PA na zona Oeste e as policlínicas se concretizam em quatro anos?
Crocomo –
Acredito que alguma coisa possa ser encaminhada. Mas por enquanto estão só na ideia.

QUEM É 
Tarcísio Crocomo, 49 anos, é pediatra concursado pela rede municipal de Joinville há 24 anos. Também é concursado pelo Estado e atua na rede particular. Nasceu em Piracicaba (SP), e formou-se na UFSC. Cursou especialização em saúde pública e em pediatria. É mestre em biotecnologia da saúde pela UFSC e doutor em microbiologia clínica pela USP. Veio ao Estado para estudar e a Joinville para trabalhar. É casado e tem dois filhos. Crocomo conhece o Carlito há muitos anos. 

Fonte: AN -02-02-2009


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