Ano novo, cérebro novo. Muita gente, exaurida pelas tarefas enfadonhas e repetitivas do dia-a-dia, gostaria que isso fosse verdade. O que ninguém espera é que os neurocientistas digam que talvez isso seja mesmo possível. Mas a ciência mostra que o cérebro se cansa, e a boa notícia há meios de descansá-lo.
Tarefas repetitivas, quando exigem concentração, acabam desgastando o cérebro. Segundo a neurocientista Suzana Herculano Houzel, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, ninguém precisa se sentir menos por se sentir esgotado por fazer contas, escrever, ler ou realizar qualquer outra atividade mental por muito tempo.
"Pensar cansa", ela diz. "Mas o aspecto curioso do cansaço do cérebro é que ele é específico para aquelas partes que estavam trabalhando intensamente de fato. Então, se você passa muito tempo fazendo contas de cabeça, você esgota a sua capacidade de lidar com números, mas você é totalmente capaz de sair dali e ir tocar piano, ou ir ler um livro, ou fazer alguma atividade que exija de outros sistemas do seu cérebro."
De acordo com a pesquisadora, os cientistas hoje apostam que essa sensação de fadiga seja causada pelo acúmulo de uma substância produzida pelos próprios neurônios, chamada adenosina. "Quanto mais um neurônio específico funciona, mais adenosina ele produz, e essa adenosina se acumulando no local talvez seja a fonte dessa fadiga neuronal", diz.
É curioso notar que esse fenômeno, que pode se intensificar em dados circuitos cerebrais pelo excesso de uso, ocorre de uma forma geral durante o período em que o indivíduo fica acordado. Ele está ligado à fadiga que é combatida diariamente durante o sono. O uso excessivo de determinados circuitos cerebrais só faz por acelerar esse processo de "cansaço neuronal".
Então, como solucionar? Como entrar em 2008 com o cérebro novinho em folha?
"A melhor coisa é dormir", disse Houzel ao G1. "Uma hora de sono bem dormido no meio da tarde já é suficiente para zerar esse desgaste." E, claro, valorizar também o sono durante a noite. Dormir é a principal maneira de descansar o cérebro.
Já a alternância de tarefas pode ajudar a dosar melhor o cansaço cerebral, mas não é uma solução, segundo a neurocientista. É, no máximo, um paliativo. "A única coisa que isso faria é espalhar o processo de desgaste ao longo do dia."
Ter o sono como única garantia de preservação cerebral pode não ser uma solução viável para muitos. São poucas as empresas que adotam uma política de permitir que seus funcionários durmam por algum tempo durante o horário de trabalho (embora elas já existam) e alunos em período integral também podem sofrer com isso (a não ser que tenham a habilidade de dormir em sala de aula -- coisa que alguns de fato têm). Mas Herculano Houzel ressalta que o esforço tem outros espaços. "O mais importante é começar isso em casa. Não pensar que aquele cochilo da tarde é apenas preguiça."
Para a pesquisadora, os novos conhecimentos produzidos pela neurociência têm o potencial de mudar -- para melhor -- a sociedade, mostrando como cada indivíduo pode se adaptar para atingir o máximo de sua produtividade. Uma coisa é certa: esse máximo jamais será atingido com trabalho frenético e pouco descanso.
Ainda há muito o que entender sobre o cérebro, mas com o que já se sabe podemos dizer uma coisa: ele é o órgão que mais consome energia no corpo todo e precisa de uma ajuda do dono para se manter em forma.
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Fonte: Globo.com - G1 - 26-12-2007