Agência FAPESP – Um medicamento à base de extrato de própolis indicado para ferimentos de pele por queimaduras foi desenvolvido na Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP).
A formulação do produto e os testes em animais e humanos foram realizados durante os estudos de mestrado e doutorado da farmacêutica Andresa Berretta, com orientação da professora Juliana Maldonado Marchetti.
As pesquisadoras chegaram à formulação após a avaliação da constituição química da própolis obtida de várias regiões do país. Própolis é uma substância elaborada pelas abelhas a partir da resina de árvores para proteger colméias contra microrganismos.
“Diferentes substâncias ativas foram escolhidas e suas concentrações foram determinadas de modo a obter uma padronização do extrato. Trata-se de um líquido gelado termorreversível que, ao entrar em contato com a pele – que tem temperatura mais elevada – se transforma em gel, alivia a dor e forma uma camada protetora contra agentes externos”, disse Andresa à Agência FAPESP.
Durante o trabalho de mestrado, o gel foi caracterizado quanto à cinética de liberação no organismo e temperatura de geleificação. Foram também determinados os parâmetros fisíco-químicos e microbiológicos de qualidade do produto.
Na pesquisa de doutorado a formulação já pronta foi avaliada em testes pré-clínicos e clínicos. Ao verificar que o gel contendo extrato padronizado de própolis estimulava a cicatrização em modelos animais utilizando incisão cirúrgica, além de evitar a contaminação pelas bactérias Staphylococcus aureus e Pseudomonas aeruginosa, que comumente infectam os pacientes queimados, as pesquisadoras partiram para testes em humanos.
Sem danos ao DNA
Foram selecionados 31 pacientes da Unidade de Queimados do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. Andresa se concentrou nas áreas da pele chamadas de “doadoras”, que, como ela explica, são mais homogêneas e uniformes.
“A região da pele que está queimada pode envolver queimaduras de primeiro, segundo e terceiros graus. Por isso, optamos por estudar as áreas doadoras de pacientes que precisaram fazer enxertia, ou seja, retirar tecidos de áreas saudáveis para colocar em áreas queimadas. Nesse caso, devido à profundidade e tamanho do tecido saudável que é extraído, conseguimos simular uma queimadura de segundo grau”, explicou.
Andresa e Juliana analisaram a regeneração da pele nessa área doadora: metade do tecido foi tratada com gel contendo extrato de própolis e a outra metade com pomada de nitrofurazona, medicamento utilizado como referência nos tratamentos feitos no Hospital das Clínicas. O extrato de própolis teve resultados estatisticamente semelhantes aos do produto sintético.
“Os dois produtos foram aplicados na pele lesionada com o auxílio de compressas de gazes, que naturalmente se soltam à medida que a pele se regenera. Em média, as gazes com os dois produtos se soltaram no mesmo período de tempo, em torno de nove a dez dias. Esse foi o principal indicador de que o gel de própolis é tão eficaz quanto a pomada convencional”, afirmou Andresa.
“Avaliamos também o potencial genotóxico do produto para verificar se sua formulação causaria danos ao DNA da pele dos pacientes, o que não foi verificado”, disse a pesquisadora, que depositou um pedido de patente no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e, em 2008, entrará com um registro do gel junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
O produto será produzido em escala industrial pela empresa Apis Flora e, segundo Andresa, deverá ser comercializado a partir de 2009. Dois artigos científicos com os resultados do trabalho também estão sendo preparados para submissão em revistas especializadas.
Fonte: AGÊNCIA FAPESP - 28-12-2007