A Secretaria de Saúde autorizou ontem a reabertura do Parque Nacional de Brasília, desde que os visitantes comprovem a imunização contra a febre amarela. Apesar do aval do governo, a Água Mineral permanecerá fechada, por causa de problemas burocráticos. A portaria que permitia a entrada gratuita no local deixou de valer ontem, mas o contrato com a empresa que vai controlar a entrada e vender os bilhetes de acesso ainda não foi assinado. A expectativa do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) é que o problema seja resolvido nos próximos dias, para que os brasilienses possam aproveitar as férias nas piscinas de água mineral.
O chefe do Parque Nacional, Darlan de Pádua, disse que ainda não foi oficialmente informado pelo GDF sobre a liberação de abertura. "Mesmo que haja a autorização da Secretaria de Saúde, o prazo de gratuidade acabou. Já foi realizada licitação e a empresa que será responsável pela bilheteria já foi escolhida, mas o contrato ainda não está assinado. É preciso aguardar a solução para o problema da emissão de bilhetes antes de reabrirmos as portas para receber os visitantes", explica Pádua.
A Portaria 502, que determinou a entrada gratuita na Água Mineral, foi assinada pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, no dia 3 de outubro do ano passado, quando acabou a validade do último contrato de concessão para emissão de bilhetes. A portaria determinava a gratuidade por um prazo máximo de 90 dias, ou até a implantação do novo sistema de cobrança. "O Parque Nacional de Brasília tem entre seus objetivos básicos o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico", justificou a ministra, para evitar o fechamento do parque por causa da falta de empresa de bilhetagem. Antes da gratuidade, o bilhete para entrada na reserva ecológica custava R$ 3. Ainda não está definido se esse valor será alterado a partir de agora.
Hoje é o sexto dia consecutivo de fechamento do Parque Nacional. A medida foi recomendada pela Secretaria de Saúde no último dia 27 para evitar o aparecimento de casos de febre amarela na cidade. O fechamento foi definido depois que dois macacos apareceram mortos dentro da área do parque. Um exame preliminar não apontou a presença do vírus da febre amarela nos símios. Mas a Secretaria de Saúde pediu uma contraprova ao Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, para descartar qualquer possibilidade. A preocupação aumentou depois que foi confirmada a morte de três macacos por febre amarela em Goiás. Já ocorreu a morte de mais de 40 símios no estado, mas o resultado das outras necropsias ainda não ficaram prontos.
Macaco morto
No Distrito Federal, já chega a 12 o número de macacos mortos nas últimas duas semanas. Ontem, técnicos da Vigilância Ambiental encontraram mais um símio, dessa vez em uma área próxima ao Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek. O subsecretário de Vigilância em Saúde, Joaquim Barros Neto, garante que os exames iniciais não indicavam a presença do vírus. "Enquanto os resultados não ficam prontos, decidimos autorizar a entrada no Parque Nacional, desde que fique comprovado que a pessoa tomou a vacina pelo menos uma semana antes do dia da visita ao local", explicou Joaquim.
O prazo é necessário para que a vacina haja no corpo humano e a pessoa fique imune ao vírus causador da febre amarela. A Secretaria de Saúde decidiu autorizar a reabertura do Parque Nacional depois do sucesso da campanha de vacinação do último final de semana e das medidas de combate ao mosquito transmissor da febre amarela. No último final de semana, 134 mil pessoas tomaram a vacina contra a doença. Mais de 90% dos brasilienses já estão imunizados, segundo a Secretaria de Saúde.
A presidente da Associação Amigos do Parque Nacional, Sílvia Nogueira de Carvalho, espera que os problemas burocráticos sejam resolvidos com rapidez, para que a população possa desfrutar das piscinas de água mineral e das caminhadas na mata. "O Parque Nacional é uma tradição em Brasília, principalmente nas férias escolares. As pessoas não têm para onde ir, os clubes são restritos a uma parcela muito pequena da população", argumenta Sílvia.
Ainda não está definido como será feita a checagem dos cartões de vacinação na entrada do Parque Nacional depois da assinatura do contrato com a empresa de bilhetagem e a reabertura dos portões. A Secretaria de Saúde afirma que a tarefa ficará a cargo dos funcionários do parque, mas o assunto ainda não foi discutido pelos técnicos do Ibama.
Difícil de entender
Parece piada. Em plenas férias, com o calor que anda fazendo, o brasiliense ficará sem uma das principais opções de lazer por problemas administrativos. Não há o que se discutir sobre o fechamento do parque por conta do risco da febre amarela. A barreira sanitária era imprescindível. Mas é difícil compreender que nenhuma atitude tenha sido tomada para evitar que a bilheteria não funcionasse, assim que o acesso fosse liberado pela Secretaria de Saúde. Será que ninguém sabia que a portaria permitindo a entrada gratuita estava prestes a perder a validade? E se sabia, por que não fez nada? Resultado: as piscinas da Água Mineral ficarão vazias até quando a burocracia permitir. E os visitantes do parque...ah, eles que fiquem em casa.
Tira - dúvidas
1) O que é a febre amarela?
É uma doença infecciosa aguda, de curta duração, causada por um vírus do gênero Flavivírus, que é transmitido por mosquitos. O mal se manifesta de duas formas: a febre amarela urbana e a silvestre, que variam de acordo com o local da infecção e o tipo de mosquito.
2) Como é feita a transmissão?
A transmissão não é feita de pessoa para pessoa. É preciso que haja um vetor, que é o mosquito transmissor. Além de se desenvolver nos homens, a doença também ataca animais como o macaco. Se um símio é picado pelo mosquito, esse inseto fica com o vírus. Se picar outro macaco ou uma pessoa, transmite a doença.
3) Qual é o mosquito transmissor da febre amarela?
No ambiente silvestre, a doença é transmitida pela fêmea do mosquito Haemagogus infectada ao sugar sangue de macacos com o vírus. Já nas áreas urbanas, a febre amarela pode ser transmitida pela picada da fêmea do Aedes aegipty (o mesmo da dengue), que se infectou ao picar pessoas doentes.
4) Quais são os sintomas da doença?
Febre, dor de cabeça, calafrios, náuseas, vômito, dores no corpo, icterícia (pele e fundo dos olhos amarelos) e hemorragias de gengivas, nariz, estômago e urina.
5) Quais são os órgãos atingidos pela febre amarela?
O paciente que é infectado pelo vírus da doença tem principalmente o fígado e os rins atacados. A quantidade de urina do paciente é reduzida e algumas pessoas chegam a parar de urinar, o que pode levar ao coma.
6) Como é feito o tratamento?
O tratamento da febre amarela é sintomático. O paciente precisa ficar em repouso e com assistência permanente. É preciso também fazer a reposição dos líquidos e das perdas sanguíneas, quando há indicação médica. Nas formas graves, o paciente precisa ficar internado em uma UTI. Se não houver tratamento adequado, o doente pode morrer.
7) Como se prevenir contra a doença?
A forma mais efetiva de prevenção contra a febre amarela é a vacinação. A vacina é gratuita e está disponível em todos os postos de saúde da rede pública, em qualquer época do ano, de 8h às 17h. Outra forma de prevenção é o combate ao mosquito Aedes aegipty, que se desenvolve em recipientes com água parada.
8) Como é feita a vacinação contra a febre amarela?
A vacina é injetável. A agulha é fina e a aplicação é rápida e praticamente indolor.
9) Quem deve tomar a vacina?
Todas as pessoas com mais de seis meses de idade devem tomar a vacina contra a febre amarela. A dose só não é recomendada para gestantes, pessoas com problemas imunológicos, em tratamento quimioterápico ou com alergia a ovo.
10) Qual é o prazo de validade da vacina?
A vacina da febre amarela imuniza as pessoas durante 10 anos.
11) Quanto tempo depois de tomar a vacina a pessoa fica imunizada?
Para quem nunca tomou a vacina, ela só começa a fazer efeito depois de 10 dias após a injeção da dose. Por isso, quem visita áreas de risco precisa ser imunizado com antecedência. Para quem já tomou a vacina e está apenas repetindo a dose, a imunização acontece imediatamente após a injeção.
12) Quais são as áreas de risco de infecção?
Regiões Norte e Centro-Oeste, no estado do Maranhão e no oeste dos estados da Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Este ano, já foram registrados seis casos de febre amarela no país: dois em Goiás, um em Roraima, um no Pará e dois no Amazonas. Uma pessoa morreu em decorrência da doença.
13) Por que há uma mobilização no DF?
Porque foram encontrados 12 macacos mortos na capital federal. Há suspeitas de que eles possam ter morrido com o vírus. Outra preocupação é a morte de 40 símios em 31 municípios de Goiás, três deles comprovadamente de febre amarela. Com a proximidade geográfica das duas unidades, é preciso proteger a população de Brasília contra a doença.
14) Onde posso obter mais informações sobre a doença e a vacinação?
A Secretaria de Saúde oferece informações pelos telefones 3343-1268 ou 3344-0784.
Fonte: Jornal Correio Braziliense - 02-01-2008