O impasse sobre a reabertura do Parque Nacional de Brasília continua e ainda não há previsão de quando a Água Mineral voltará a receber visitantes. Ontem à tarde, o Instituto Chico Mendes, que administra a unidade de conservação, recebeu um ofício da Secretaria de Saúde autorizando o funcionamento do parque, desde que os freqüentadores comprovem a imunização contra a febre amarela. Mas o GDF não vai ceder agentes de saúde para controlar o acesso de pessoas e checar os cartões de vacinação. A diretoria do Parque Nacional de Brasília, por sua vez, argumenta que não tem competência para confirmar se as pessoas estão ou não imunizadas contra a doença e ainda estuda o que será feito para garantir o acesso do público às piscinas de água mineral e às trilhas do parque.
O subsecretário de Vigilância em Saúde, Joaquim Barros Neto, havia dito que poderia ceder funcionários para trabalharem no parque, mas ontem voltou atrás. Ele argumenta que a secretaria não tem infra-estrutura operacional para enviar um funcionário ao Parque Nacional. "Nós temos uma infinidade de atribuições e enfrentamos um déficit de funcionários. Temos equipes trabalhando no combate à dengue, outros grupos atuando em um censo sobre a rubéola, além das atividades de rotina", justificou o subsecretário. "Fizemos a nossa parte, que era emitir o parecer técnico. A liberação agora depende da direção do parque e não de nós", acrescenta Joaquim Barros Neto.
O chefe do Parque Nacional, Darlan de Pádua, argumenta que é imprescindível a presença de um agente de saúde no local para controlar os cartões de vacina. "Não faz parte das nossas competências ter conhecimentos técnicos sobre a doença nem dar explicações à população sobre a febre amarela. Tudo isso cabe à Secretaria de Saúde", explica Darlan. "O parque está pronto para reabrir, mas vamos analisar legalmente de quem é a incumbência de controlar as carteiras de vacinação", garante o chefe da unidade de conservação. Depois da vacinação, a pessoa não fica imune contra a febre amarela imediatamente. É preciso aguardar no mínimo uma semana para que a dose aja no corpo humano e a pessoa fique protegida contra a doença. Só no último final de semana, 134 mil brasilienses receberam a vacina.
Filas
Uma semana após o início da campanha de vacinação contra a febre amarela, o movimento nos postos de saúde ainda não diminuiu. Na maioria dos centros, houve filas de brasilienses em busca da imunização contra a doença. Em algumas unidades, as doses acabaram ainda durante a manhã. Outra reclamação constante foi com relação ao horário de funcionamento dos postos. A maioria dos centros fecha as portas para o horário de almoço antes da hora prevista, o que causou transtorno para quem procurou as unidades de saúde.
No Núcleo Bandeirante, crianças, idosos e adultos com bebês de colo foram ao centro de saúde da cidade para tomar a vacina. Desde o último dia 28, 11.964 pessoas receberam a dose contra a febre amarela. A doméstica Maria da Conceição Machado, 39 anos, mora em Santo Antônio do Descoberto, no Entorno, e trabalha no Riacho Fundo. Ontem, após o expediente, ela procurou o posto do Núcleo Bandeirante. "Nunca tomei a vacina e fiquei preocupada depois de ler sobre o risco de febre amarela aqui em Brasília. Assim que arrumei tempo, vim ao posto para vacinar", justifica Maria da Conceição.
A recepcionista Mayane Meruly, 20 anos, conta que foi pressionada pela família para tomar a vacina. "Meus pais e meu namorado já tomaram a vacina, só faltava eu. Há uma semana eles me pediam para vir ao posto e só agora consegui uma brecha no horário de trabalho para tomar a vacina. Estava com medo da agulha, mas foi bem rápido", comentou Mayane.
Muita gente reclamou da paralisação dos serviços antes do horário estabelecido por alguns postos. A secretária executiva Doralice de Araújo Menezes, 35 anos, foi ontem às 10h30 no Centro de Saúde 4, em Ceilândia Sul, e o local já estava fechado. Uma funcionária orientava as pessoas a voltarem ao meio-dia para pegar uma senha do atendimento, que seria feito após as 14h. "Isso é um absurdo. Antes de lançar uma campanha, o governo deveria se organizar melhor. As pessoas trabalham e não têm tempo de ficar o dia inteiro na fila", reclamou Doralice.
Em alguns centros, o problema foi a falta de vacina. A aposentada Carmosina de Araujo Reis, 64 anos, chegou às 9h ao Centro de Saúde 2, da quadra 3 de Sobradinho. Depois de meia hora na fila, os funcionários avisaram que as doses tinham acabado. "Havia muitas pessoas de idade no meio do tumulto, todo mundo ficou revoltado. Fiquei aguardando irem buscar mais vacinas no hospital regional, mas depois de quase uma hora desisti. Fiquei sem vacinar, vou tentar outro dia", lamentou a aposentada.
Entenda o caso
Morte de macacos
O Parque Nacional fechou as portas na sexta-feira da semana passada por recomendação da Secretaria de Saúde. A interdição foi uma medida preventiva depois que dois macacos apareceram mortos em uma área próxima às piscinas da Água Mineral. Os corpos de outros quatro símios também foram achados na região de Arniqueiras, próximo ao Park Way.
Exames preliminares realizados nos animais não apontaram a presença do vírus causador da febre amarela, mas a Secretaria de Saúde pediu uma contraprova ao Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, para descartar qualquer hipótese de que os macacos tenham morrido por causa da doença. O resultado só fica pronto no final de janeiro.
Depois da interdição, a Secretaria de Saúde vacinou os funcionários do parque e cerca de 50 pessoas que moram dentro da área da unidade de conservação. Além disso, técnicos da Vigilância Ambiental aplicaram inseticida ao redor do parque, que inclui a Vila Basevi e a Residência Oficial do Torto.
No último dia 1º, a Secretaria de Saúde autorizou a reabertura do Parque Nacional, desde que os visitantes comprovassem a imunização contra a febre amarela. Mas até agora, não ficou decidido como será feito o controle das pessoas que forem ao Parque Nacional de Brasília e por isso os portões da unidade ambiental - um dos passatempos preferidos dos brasilienses durante as férias - permanecem fechados.
Fonte: Jornal Correio Braziliense - 04-01-2008