Um drama familiar repleto de mistério e informações desencontradas. Assim terminou 2007 e começou 2008 para a família Guedes, de Samambaia. No dia 27 de dezembro o motorista desempregado José Uilton Guedes Moura da Silva, 51 anos, teve de ser internado às pressas no Hospital Regional da Asa Norte (Hran). A suspeita era de Acidente Vascular Cerebral Isquêmico (AVCI), mais conhecido como derrame. Quarenta e oito horas depois, em 29 de dezembro, ele simplesmente desapareceu do hospital e, até hoje, não foi encontrado.
Os irmãos Joanilson e Maria José Guedes não conseguem afastar a indignação e o medo do que pode ter acontecido a José Uilton. "Já registramos queixa na delegacia e denunciamos o caso ao Ministério Público. Isso é um absurdo. Como um paciente some do hospital desse jeito?", pergunta Maria José. Foi Joanilson quem deu falta do irmão no horário de visita. "Ele simplesmente não estava lá. Fui atrás dos enfermeiros e médicos e ninguém sabia de nada. Fizeram pouco caso. E até hoje, não nos deram uma resposta", relatou.
A família reproduziu a foto de José Uilton com a palavra "desaparecido" em destaque. Parentes, vizinhos e amigos, percorreram o Plano Piloto em busca de pistas. Agora, começam a distribuir o panfleto em outras cidades. A busca por notícias trouxe à tona informações contraditórias. No fim da tarde do dia 29, um funcionário do Hran teria ligado para Joanilson dizendo que fora registrada uma ocorrência de evasão de paciente. E que seu irmão desaparecera durante a madrugada daquele mesmo dia. "É mentira. Quando eu o procurei, por volta das 15h30, um paciente disse que às 9h ele estava lá. Depois, não o viu mais", relatou.
E o mistério só aumentou com o passar dos dias. A família descobriu que José Uilton foi levado de ambulância para o Hospital de Base. Lá, um neurologista daria um parecer sobre o estado de saúde dele. Maria José conseguiu uma cópia da solicitação de ambulância para o transporte e localizaram o funcionário que levou o paciente. O homem, identificado apenas como Antônio, confirmou ter deixado José Uilton no setor de neurologia. Não disse a hora exata. Mas garantiu ter saído do Hran por volta das 15h40, do dia 29, exatamente como estava programado.
Essa é a última informação que a família conseguiu. No Hospital de Base não há registro sobre o paciente. É como se ele nunca tivesse passado por lá. A assessoria de imprensa informou que qualquer atendimento médico é precedido pelo preenchimento de uma Guia de Atendimento de Emergência (GAE), o que não ocorreu. Também não há registro de fuga do paciente.
Sindicância
No fim da tarde de ontem, o diretor do Hran, Hilton Barroso, abriu uma sindicância para apurar o fato. Segundo ele, o que se sabe é que o funcionário do hospital deixou o paciente na porta da neurologia e voltou para o Hran. O chefe de equipe do Hospital de Base teria de comunicar ao colega do Hran sobre o destino do paciente. "Quando o caso é grave, ele pode pedir a internação ou solicitar que busquemos o paciente. Não ocorreu nem uma coisa nem outra", disse.
Outra pergunta terá de ser esclarecida. Por que a enfermagem comunicou a fuga de José Uilton na madrugada de 29 de dezembro se, no meio da tarde do mesmo dia, um funcionário do hospital o levou para o HBDF? "Qualquer coisa que dissermos agora será suposição. Três servidores serão nomeados para a comissão e terão 30 dias para apurar o que houve", afirmou o diretor do Hran.
O sumiço de José Uilton também será investigado pela polícia. Na tarde de ontem, um policial esteve no Hran para colher informações sobre o caso. O delegado adjunto Rogério Borges Cunha espera ter novidades no fim do dia de hoje. Qualquer informação sobre o paradeiro do motorista pode ser repassada para a polícia pelos telefones: 3348-1900 (plantão da 2ª DP) ou 190.
Fonte: Jornal Correio Braziliense - 04-01-2008