Um falha no mecanismo de auto-reparação das células poderia ser o fator desencadeante do mal de Parkinson, segundo um estudo publicado hoje pela revista The Journal of Clinical Investigation. Segundo cientistas do Colégio de Medicina Albert Einstein, da Universidade Yeshiva (Nova York), a descoberta pode levar a novas estratégias para o tratar o mal de Parkinson e outras doenças neurodegenerativas.
As células contam com um sistema chamado autofagia, no qual digerem e reciclam moléculas danificadas. Este processo de limpeza pode ser particularmente importante para os neurônios, porque estes geram moléculas defeituosas mais rapidamente que outras células no sistema de uma pessoa. Quando ocorre um desequilíbrio na autofagia, os compostos tóxicos podem se acumular e causar a morte cerebral, segundo os cientistas.
- Até agora, só se suspeitava que a acumulação de uma proteína chamada alfa-sinucleína afetava os neurônios de pacientes com mal de Parkinson e contribuía para a morte dos neurônios - disse Ana María Cuervo, autora do relatório e professora de anatomia e biologia estrutural do Colégio de Medicina Albert Einstein.
Capacidade motriz afetada
O mal de Parkinson é um transtorno do sistema nervoso central que, com freqüência, ataca a capacidade motriz e de comunicação oral do paciente. Segundo Ana Maria, pesquisas anteriores tinham mostrado que as formas mutantes da alfa-sinucleína, que se encontra em cerca de 5% a 10% dos pacientes de Parkinson, não são bem digeridas na autofagia e também bloqueiam a dissolução de outras substâncias.
Os cientistas descobriram uma mutação criada pela alfa-sinucleína e a dopamina, que é o neurotransmissor produzido pelos neurônios danificados no mal de Parkinson. Cuervo indicou que, com a dopamina, as moléculas de alfa-sinucleína não se degradam totalmente e sua presença interfere na digestão autofágica de outros compostos. A inibição da autofagia causada por essa combinação poderia explicar a morte seletiva dos neurônios no mal de Parkinson, segundo o estudo.
Outros transtornos
Cuervo assinalou que também se detectou que a interferência nessa autofagia está vinculada a outras doenças neurodegenerativas, como o mal de Alzheimer.
- Ao criar estratégias para reforçar a autofagia nos neurônios ou suprimir as reações que interferem nela poderíamos ser capazes de tratar pacientes que sofrem desses transtornos - acrescentou.
Fonte: Jornal do Brasil - 04-01-2008