O Ministério da Saúde afirma que o laboratório Pfizer está dificultando o acesso a um novo remédio contra a Aids, indicado para pacientes que desenvolvem múltipla resistência a outros tratamentos. Segundo o órgão, para saber se a droga será eficaz, o paciente tem de fazer um teste que só é oferecido por uma empresa com sede nos EUA e que mantém relações comerciais com a farmacêutica.
O Programa Nacional de DST e Aids do ministério apontou "conflito de interesses" na situação. Para a direção do programa, não é correto que a indicação do uso do remédio seja feita apenas por uma empresa - ainda mais uma que tem relações com quem vende o produto.
Sempre haveria suspeita sobre a real necessidade de um paciente utilizar a droga. O programa quer que outros laboratórios possam fazer o teste de indicação do medicamento.
- Um problema muito grande é o fato de haver só um laboratório habilitado para os testes no mundo e com o qual a Pfizer mantém relações comerciais.
A questão é dar acesso a um remédio cujo teste para prescrição vai ser feito por um laboratório privado e que é contratado do produtor (a empresa realizou testes da droga para a Pfizer durante a fase de estudos) - disse a diretora do programa nacional, Mariângela Simão.
- Não podemos incorporar um medicamento que requer o envio de sangue para os EUA. Precisamos de um produto que tenha uma fácil indicação - continuou.
A droga, o Maraviroc, ainda não foi incluída no rol de medicamentos dentro do consenso sobre terapias para portadores do HIV. No fim do ano passado, destacou a diretora, o programa nacional incorporou um outro remédio também usado em casos de múltipla resistência, o Darunavir, cuja distribuição deverá começar neste mês.
Tratamento depende de exame feito nos EUA
O governo previa gastar mais de R$ 900 milhões em medicamentos contra a Aids no ano passado para o tratamento de 180 mil pessoas que vivem com o HIV. Em nota, a Pfizer informou não ter "detalhes sobre o conflito de interesses mencionado".
Registrado há três meses no Brasil, o Maraviroc faz parte de uma nova classe de remédios que agem antes da entrada do HIV na células. No entanto, só é eficaz se o vírus que infectou o paciente tiver um receptor específico. Só assim o medicamento poderá ligar-se ao HIV e impedir sua ação.
Para verificar se o paciente tem esse co-receptor, é preciso o exame hoje feito apenas nos EUA, explica Juvêncio Furtado, integrante da diretoria da Sociedade Brasileira de Infectologia.
- É tão complicado que não há hoje como fazer o teste no país. Alguns laboratórios estão desenvolvendo essa técnica ainda.
Furtado calcula que até 20 mil pacientes poderiam ser beneficiados com o novo remédio. Segundo o programa oficial, ainda não há estimativa sobre quantos poderiam receber a terapia.
Fique por dentro
- Ainda não há previsão para a chegada ao Brasil do comprimido único contra o HIV. Batizado de Atripla, ele reúne três remédios: efavirenz, emtricitabina e tenofovir, todos fabricados por laboratórios distintos e que entraram em acordo. A droga já estava aprovada nos EUA e na quinta-feira foi anunciada a sua aprovação também na Europa
- De acordo com Mariângela Simão, ainda não há registro no país de um dos remédios que compõem o tratamento, a emtricitabina, fabricada pela multinacional Gilead Sciences. O registro de uma droga em um país é uma decisão do produtor
- O tratamento com o comprimido único garante melhor adesão ao tratamento, mas ainda não se sabe se o preço da terapia será acessível para países em desenvolvimento, como o Brasil, que já enfrenta dificuldades para garantir aos pacientes os remédios básicos
Fonte: Diário Catarinense - 06-01-2008