Numa ofensiva contra a febre amarela, o Ministério da Saúde vai mexer nos estoques de vacinas espalhados pelo país para abastecer Goiás e Distrito Federal, que estão em alerta contra a doença. Ao todo, está previsto o envio de 300 mil doses vindas de três armazéns da União para a região Centro-Oeste. O reforço começou a chegar ontem. Parte do estoque estará disponível para a Secretaria de Saúde do DF mas, de acordo com o secretário José Geraldo Maciel, há sobra de vacinas na capital do país. Assim, a dosagem extra não será necessária.
O remanejamento de vacinas do Ministério da Saúde contará com 100 mil doses vindas de Minas Gerais, outras 100 mil do Amazonas e a mesma quantidade vinda do Paraná. O remanejamento das injeções, no entanto, não deve interferir na imunização da população desses três estados: por enquanto, as doses extras são retiradas do que o governo chama de "reserva estratégica".
"Neste momento, vamos priorizar o atendimento de localidades com notificação de macacos mortos próximos a áreas urbanas, como ocorreu em Goiás e no DF. Mas é importante destacar que nossos estoques são suficientes para todas as áreas consideradas de risco para a doença, como Maranhão, Minas, os demais estados do Centro-Oeste e também da região Norte", garante o assessor técnico de Vigilância em Saúde, do ministério, Giovanini Coelho.
A operação de remanejamento começou na última sexta-feira, dia em que morreu, em Goiânia, o trabalhador rural João Batista Gonçalves, de 31 anos. Ele foi a primeira pessoa com suspeita de contaminação por febre amarela desde que as secretarias de Saúde das duas unidades da Federação deram o alerta contra a doença: o corpo do lavrador foi enterrado no sábado. A confirmação sobre a causa da morte virá com o resultado de dois exames: o primeiro, de sangue, deve sair até o fim desta semana; o outro, uma análise de vísceras, dentro de três meses.
De acordo com Giovanini Coelho, a decisão de remanejar as injeções foi tomada antes mesmo da confirmação da morte de João Batista. "O que nos motivou foi a descoberta, no final do mês passado, de que alguns dos macacos encontrados mortos em um sítio próximo a Goiânia tinham o vírus da febre amarela", explica o assessor técnico. Ao todo, até o momento, foram encontrados mortos 53 símios em Goiás e no DF. Três dos animais que estavam em território goiano tiveram a contaminação confirmada.
Expansão
Para o Ministério da Saúde, a aproximação da febre amarela das áreas urbanas é preocupante. "A forma silvestre da doença existe há anos no Brasil e é monitorada com freqüência, mas nos deixaram em alerta os casos de morte de animais muito próximo às cidades, como ocorreu no DF e em Goiás", diz. Desde 1942, não há registros de mortes por febre amarela urbana no país. Segundo Coelho, o governo trabalha com alerta, mas não com risco de surto: "Nesses locais, historicamente a cobertura vacinal é alta e já é uma rotina".
O secretário de Saúde do DF destaca que a campanha de imunização na capital do país - iniciada assim que dois animais foram encontrados mortos na Água Mineral, no final do ano - teve uma resposta imediata. "Faltam menos de 50 mil brasilienses para alcançar a proteção completa da população", garante Maciel. Ele repetiu que não haverá mudanças no combate à doença mesmo com a morte do trabalhador rural em Goiás. Os postos de saúde do DF funcionarão em horário normal, apenas nos dias da semana, entre 8h e 17h.
Maciel afirma também que não está descartado o envio de parte das doses da capital para o estado vizinho. O estoque inicial do DF era de 600 mil vacinas no início do alerta. Nos primeiros 10 dias, 200 mil pessoas foram imunizadas. Além disso, o governo local pretende reservar 50 mil doses para os moradores ainda desprotegidos, 70 mil para as pessoas que estão perto de alcançar o prazo de 10 anos de imunização e outras 30 mil para turistas. "Vamos nos reunir para avaliar os estoques amanhã (hoje) e, se houver consenso, poderemos passar umas 200 mil vacinas para Goiás", afirma.
A operação contra à febre amarela também inclui a intensificação do combate ao mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue e da febre amarela urbana. Além dos cinco caminhões fumacê do governo do DF, outros cinco estão desde o fim do ano passado jogando veneno em área de risco na região da capital. Em Goiás, são 15 caminhões, entre os do estado e os do governo federal.
Por falta de informação, essas pessoas não se vacinam"
A secretária interina de Saúde de Goiás, a enfermeira sanitarista Maria Lúcia Carnelosso, afirmou ao Correio Braziliense que o governo estadual montou um esquema especial para aplicar a vacina nas pessoas sem proteção contra a enfermidade transmitida pelo mosquito haemagogus, vetor da febre amarela silvestre. Em 2007, as autoridades goianas da saúde imunizaram 841.435 pessoas - o equivalente a 15% da população. Agora, nesta força-tarefa, serão mais 1,5 milhão. "São indivíduos que nunca se vacinaram ou receberam o imunizante há mais de 10 anos. Esses dois grupos estão desprotegidos", afirma Maria Lúcia.
Qual a principal preocupação hoje?
Com quem trabalha ou mora em fazendas, sítios, chácaras, garimpos e áreas de reflorestamento e ainda não tomou a vacina ou se imunizou há mais de 10 anos, e portanto está com o prazo de imunização vencido. Por falta de informação, essas pessoas não se vacinam contra a doença ou se esquecem da necessidade de renovar a dose. Pedimos aos agentes de saúde dos municípios que façam uma busca ativa na zona rural por quem não está imunizado e apliquem a vacina.
Por que essa estratégia foi adotada agora?
Ela sempre existiu. A região Centro-Oeste é endêmica para a transmissão da febre amarela. A vacina está disponível nos postos de saúde. A enfermidade possui um ciclo de sete a 10 anos e em janeiro de 2007 intensificamos a vacinação. Imunizamos mais de 800 mil pessoas em 12 meses. Em dezembro, a procura pela vacina aumentou com o aparecimento de macacos mortos na periferia de Goiânia e cidades vizinhas. Porém, algumas pessoas ainda resistem e não se imunizaram. A nossa meta é proteger todos por meio da vacina.
Há um tráfego intenso de pessoas do DF para Goiânia, Entorno e outros municípios goianos. O mesmo ocorre de outros estados para Goiás. O que será feito em relação aos moradores de Brasília e de outras regiões brasileiras?
Um lembrete: os brasilienses também moram em uma área de risco e devem se vacinar. Em relação aos estados, acertamos com o Ministério da Saúde a realização de campanha nacional de esclarecimento sobre a importância da vacina para quem deseja viajar para Goiás, Brasília e outras partes das regiões Centro-Oeste e Norte. As vacinas estão disponíveis nos postos de saúde de todas as cidades brasileiras.
Está prevista a implantação de barreiras nas rodovias?
Por enquanto não. Essas barreiras foram eficazes há 20 anos, quando a extinta Sucam era responsável pelo combate à doença. Hoje, o controle é nacional e o imunizante é produzido com nova tecnologia, que exige a sua conservação em geladeiras apropriadas.
Portões trancados o mês todo
Durante reunião hoje, técnicos do Ministério da Saúde recomendarão que Parque Nacional só seja reaberto depois que sair o laudo oficial sobre a contaminação de macacos por febre amarela.
Os portões da Água Mineral devem ficar fechados durante todo o mês de férias dos brasilienses. Técnicos da Secretaria Nacional de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, estão decididos a aguardar o laudo definitivo sobre a causa da morte de dois macacos dentro da área do Parque Nacional de Brasília antes de permitir novamente a entrada da população no lugar, que é a principal alternativa de lazer nos dias quentes de verão na capital. Em manhãs ensolaradas de fim de semana ou feriados, as piscinas naturais do local chegam a receber 3 mil pessoas, que é a lotação máxima permitida no parque. "Não vamos pagar para ver", afirma Giovanini Coelho, assessor técnico de Vigilância em Saúde, do ministério.
Até o momento, laudos preliminares não apontaram a presença do vírus causador da doença em nenhum dos 12 macacos encontrados mortos em diversos pontos do DF. No entanto, o resultado definitivo da investigação da causa da morte dos animais da Água Mineral só sairá entre o fim de janeiro e início de fevereiro. Uma reunião hoje deve decidir sobre a manutenção dos portões do parque trancados. O anúncio oficial será feito pelo secretário Nacional de Vigilância em Saúde, Gerson Penna, após o encontro com uma comissão técnica da pasta. Na sexta-feira, ele conversou por telefone com o secretário de Saúde do Distrito Federal, José Geraldo Maciel.
Depois de recolher uma série de informações sobre o combate da febre amarela no DF, o governo federal vai definir o real risco epidemiológico relacionado à presença de humanos no local onde foram encontrados os animais mortos. "Uma coisa é encontrar um macaco morto em uma mata isolada. Bem diferente é colocar em risco inúmeras pessoas. O fluxo do parque é enorme", observa Coelho, antecipando um dos pontos que mais devem influenciar a decisão de manter a Água Mineral fechada.
"Além de todas as implicações relacionadas à saúde da população, um caso de contaminação urbana da doença pode ter grande impacto econômico", afirma o assessor do ministério. A febre amarela é uma doença de notificação internacional, cuja ocorrência pode implicar o fechamento de portos, aeroportos e fronteiras e até o bloqueio à exportação.
Suspeita
Para complicar ainda mais a situação do brasiliense que sofre com o calor no verão e não pode desfrutar da Água Mineral, a morte do trabalhador rural João Batista Gonçalves, de 31 anos, em Goiânia (GO), na última sexta-feira, deixou as autoridades do DF e de Goiás ainda mais temerosas. O lavrador é o primeiro suspeito de contaminação por febre amarela desde que as secretarias de Saúde das duas unidades da federação deram o alerta contra a doença. Ele apresentou falência múltipla dos órgãos, com parada cardíaca, depois do agravamento das insuficiências renal e hepática que o levaram para o Hospital de Doenças Tropicais (HDT), na capital goiana, no último dia 2. A confirmação oficial da causa da morte só virá com a divulgação do primeiro laudo, o que deve ocorrer até o fim desta semana.
Morador de Aparecida de Goiânia, ele estava trabalhando na zona rural de Uruaçu, considerada pelo governo local uma zona endêmica da febre amarela silvestre. Em dezembro, procurou o serviço médico da cidade com febre, dor abdominal, sinais hemorrágicos e distúrbio de excreção renal - sintomas comuns à febre amarela. Fontes ouvidas pelo Correio, deixaram claro que a morte do trabalhador rural mudou a intenção das autoridades do DF de reabrir o Parque Nacional. O próprio governo local está cauteloso com as conseqüências da medida. O ideal seria esperar garantias cientificamente comprovadas de que não há foco da doença nas proximidades das regiões administrativas do DF. A Água Mineral fica a menos de 10km do centro da capital (confira números).
Cerca de 50 pessoas tentaram entrar no Parque Nacional ontem, mas encontraram os portões fechados com cadeado e avisos na porta informando que o local está fechado por tempo indeterminado. Apenas funcionários da segurança estavam nas guaritas. No primeiro dia do ano, o Governo do Distrito Federal chegou a autorizar a reabertura da Água Mineral, desde que os visitantes comprovassem a imunização contra a febre amarela. Mas a Secretaria de Saúde e o Instituto Chico Mendes, que administra a reserva ecológica, não chegaram a um acordo sobre como seria feito esse controle da entrada e, por isso, a Água Mineral continuou fechada. Em uma reunião na noite da última quinta-feira ficou decidido que só o Ministério da Saúde pode liberar a abertura do Parque Nacional.
"No que diz respeito à população do DF, estamos seguros quanto à cobertura vacinal, mas não podemos garantir a imunização total da população do Entorno. Por isso, deixamos a decisão com o governo federal, que tem o balanço total de vacinação no país", afirma o secretário de Saúde, José Geraldo Maciel.
O chefe do Parque Nacional, Darlan de Pádua, pretende aguardar a decisão do Ministério da Saúde para definir como funcionará o controle da entrada de pessoas - o que dependerá das exigências do órgão federal. Segundo Darlan, os serviços de administração e manutenção interna não serão afetados durante o fechamento. Os funcionários trabalharão na coleta dos galhos e folhas de árvores, limpeza das fossas e piscinas, poda de grama e pintura.
Raio X da Água Mineral
# Em dias de folga, o parque recebe uma média de 3 mil visitantes
# O local está fechado desde 28 de dezembro
# A área total da reserva é de 30 mil ha
# O parque está a 10km do centro de Brasília
# Há no espaço 700 espécies de plantas e 25 fontes
# O parque foi criado em 1961
# É a maior biosfera do Cerrado, reconhecida pela Unesco em 1994
Tira-dúvidas
1) Por que há uma mobilização no Distrito Federal contra a febre amarela?Porque foram encontrados 12 macacos mortos na capital federal, na área do Parque Nacional de Brasília. Há suspeitas de que eles possam ter morrido com o vírus da febre amarela. Outra preocupação é a morte de 40 símios em 31 municípios de Goiás, três deles comprovadamente por febre amarela. Como o DF se encontra em uma região endêmica, é preciso proteger a população de Brasília contra a doença.
2) Por que é importante tomar a vacina?
É a forma mais efetiva de prevenção. O imunizante é gratuito e está disponível em todos os postos de saúde da rede pública, de segunda à sexta-feira, das 8h às 17h.
3) Quem deve ser imunizado?
Todas as pessoas com mais de seis meses de idade residentes no Distrito Federal que nunca tomaram a vacina ou foram imunizadas há mais de 10 anos. A mesma recomendação vale para a população das cidades do Entorno.
4) Há contra-indicações?
Sim. A dose só não é recomendada para gestantes, pessoas com problemas imunológicos, em tratamento quimioterápico ou com alergia a ovo.
5) Como é feita a vacinação?
A vacina é injetável. A agulha é fina e a aplicação é rápida e praticamente indolor.
6) Qual é o prazo de validade?
A vacina da febre amarela imuniza as pessoas durante 10 anos.
7) Quanto tempo depois de tomar a vacina a pessoa fica imunizada?
Para quem nunca tomou a vacina, ela só começa a fazer efeito depois de 10 dias de receber a dose. Por isso, quem visita áreas de risco deve ser imunizado com antecedência. Para quem está apenas repetindo a dose, a imunização acontece imediatamente após a injeção.
8) Quais são as áreas de risco de infecção?
Todos os estados das regiões Norte e Centro-Oeste, o Maranhão e a área oeste da Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Em 2008, foram registrados sete casos da doença no país: três em Goiás, dois no Amazonas, um em Roraima e um no Pará. Uma pessoa morreu com suspeita da doença em Goiânia, no sábado.
9) O que uma pessoa precisa fazer caso encontre um macaco morto?
Ela não deve tocar no animal. Deve mantê-lo no local e informar os técnicos da Secretaria de Saúde pelos telefones 3343-1268 e 3344-0784. A equipe especializada adotará as medidas de controle para investigação da causa da morte do símio.
Fonte: Secretaria de Saúde do Distrito Federal - 07-01-2008