08-01-2008 - Falta de Informação

É acertada a decisão do Ministério da Saúde de intensificar a vacinação contra a febre amarela em Goiás e no Distrito Federal. Depois da morte, em Goiânia, de um trabalhador rural com sintomas da doença, havia o receio de que o pânico se espalhasse nas duas unidades da Federação. Para agravar o quadro, nas últimas semanas morreram na região dezenas de macacos infectados. Vale lembrar que o Brasil possui a maior área endêmica de febre amarela silvestre do mundo. Mas a doença urbana está erradicada do país desde 1942.
Conhecer a diferença entre um e outro tipo da enfermidade é importante para evitar sobressaltos improcedentes. Embora tenham sintomas, evolução e manifestações patológicas idênticos, os reservatórios e os vetores de uma e outra são distintos. A febre amarela silvestre ataca os macacos e é transmitida pelo mosquito haemagogo. A urbana atinge os seres humanos e o vetor é o Aedes aegypti, o mesmo da dengue.
A vacina é 100% eficaz e disponível na rede pública de saúde, que aplica de 5 milhões a 10 milhões de doses por ano. A diferença dos números decorre da época. O mal aparece ciclicamente - a cada 5 ou 7 anos. Em 2000 tivemos um. Agora, outro. Apesar do conhecimento sobre a doença, da eficácia da vacina, da cobertura vacinal (mais de 90% da população do Distrito Federal é vacinada) e do rigoroso controle das áreas endêmicas, o país é surpreendido periodicamente pela doença.
A explicação para as ocorrências talvez resida na falta de informação. Brasileiros que viajam a países da América do Sul e Central, da África e da Ásia precisam apresentar atestado de vacinação. Sem ele, não embarcam. O mesmo cuidado não se observa na circulação pelo território nacional. Por ignorância ou temores injustificados, pessoas entram na mata sem a proteção vacinal. Não precisam ir à Amazônia ou ao Pantanal para correrem riscos. O perigo está bem mais próximo.
Moradores das cidades brasileiras, entre as quais Brasília, costumam ir com freqüência a fazendas e sítios. Não se preocupam em prevenir-se ou o fazem em cima da hora, sem observar os 10 dias necessários para que a vacina surta efeito. Por isso, campanhas informativas são indispensáveis. Sobretudo nos anos cíclicos como o de 2008, a divulgação do risco e da facilidade de prevenção deve ser intensificada.
O Brasil é modelo mundial de campanhas preventivas. Graças a elas, erradicou a paralisia infantil e a febre amarela urbana. Não há por que registrar retrocessos. O Laboratório de Biomanguinhos, da Fiocruz, tornou o país o maior produtor de vacinas contra a febre amarela do planeta e exporta o produto para a América Latina, Ásia e África. No caso, santo de casa precisa fazer milagre.

Fonte: Correio Braziliense - 08-01-2008


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