08-01-2008 - Ministério mantém interdição

O Ministério da Saúde decidiu ontem que o Parque Nacional de Brasília deverá permanecer fechado até a conclusão da necropsia de dois macacos encontrados mortos no local. O laudo será feito pelo Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, e deve ficar pronto dentro de 10 dias. Os técnicos do governo federal acreditam que abrir as portas do parque aos visitantes antes da conclusão dos exames seria arriscado. Ainda ontem, o Ministério da Saúde recomendou também que o Ministério do Turismo divulgue um alerta aos visitantes de áreas endêmicas, com matas e cachoeiras, para que eles não deixem de tomar a vacina contra a doença 10 dias antes de viajar.
O Parque Nacional de Brasília foi fechado em 28 de dezembro, por determinação da Secretaria de Saúde do Distrito Federal. As autoridades locais adotaram a medida preventiva para evitar que os visitantes fossem infectados pelo vírus da febre amarela. Dois macacos morreram próximo às piscinas de água mineral da reserva e ainda não está confirmado se os animais tinham ou não o vírus da febre amarela. Em 1º de janeiro, entretanto, o GDF decidiu liberar a visitação, desde que os visitantes apresentassem a carteirinha de vacinação comprovando a imunização contra a doença.
Mas a direção do Parque Nacional reagiu contra a medida porque não teria condições técnicas de checar os cartões de vacinação e selecionar os visitantes aptos a entrar na unidade ecológica. A Secretaria de Saúde e o Parque Nacional pediram uma análise ao Ministério da Saúde, que ontem decidiu manter o fechamento.
O secretário Nacional de Vigilância em Saúde, Gerson Penna, explica que seria muito complicado fazer o controle das guaritas. "Operacionalmente seria extremamente difícil, já que cerca de 3 mil pessoas visitam o parque todos os dias. Imagina o funcionário do parque diante de um ônibus escolar lotado de crianças, cada uma com uma data de vacinação diferente. Seria complicado fazer esse controle, por isso recomendamos o fechamento completo até o resultado dos exames, que devem ficar prontos em 10 dias", explica Penna.

Turistas e macacos
Outra preocupação do Ministério da Saúde é garantir a vacinação de quem vai viajar para áreas endêmicas. Turistas brasileiros e estrangeiros receberão nas agências de viagem uma recomendação para receber a imunização pelo menos 10 dias antes do embarque. "Decidimos ratificar a recomendação de vacina para quem vai viajar a trabalho ou para fazer turismo em zonas endêmicas ou com matas", destaca Gerson Penna.
A febre amarela urbana está erradicada no Brasil desde 1941. Já a febre amarela silvestre é impossível de ser totalmente eliminada, já que ciclo da doença se desenvolve dentro das matas, onde vivem os mosquitos transmissores e os macacos. Quando um símio é infectado pelo vírus, pode ser picado pelo mosquito Haemagogus, que em seguida pica outro macaco ou um ser humano.
Por isso, a morte de 19 símios no Distrito Federal desde o último dia 14 deixou as autoridades de saúde em alerta. Já foram encontrados os cadáveres de macacos em 13 regiões da cidade. Além do Parque Nacional, houve registro de mortes em áreas como Park Way, Lago Norte e Taguatinga (confira arte). "Por causa da morte de macacos próximo à zona urbana, intensificamos a vacinação. Mas não há risco de reaparecimento da febre amarela urbana, já que no Distrito Federal, por exemplo, mais de 95% da população já está imunizada", completa o secretário Nacional de Vigilância em Saúde, Gerson Penna.

Reforço nas vacinas
Para intensificar a vacinação, o Ministério da Saúde começou ontem a fazer um grande remanejamento de vacinas entre os estados. Minas Gerais, Paraná e Amazonas doaram, cada um, 100 mil doses de vacinas contra a febre amarela. Dessas, 200 mil foram enviadas para Goiás. O Distrito Federal também pode receber novas doses, se for preciso. Mas por enquanto, a medida não é necessária: a capital federal tem cerca de 400 mil doses em estoque e apenas 50 mil brasilienses ainda não foram vacinados. "É importante ter esse estoque estratégico, já que Brasília recebe pessoas de todo o Brasil, que passam por aqui diariamente", justifica o representante do ministério, Gerson Penna.
O subsecretário de Vigilância em Saúde do DF, Joaquim Barros Neto, garante que não vai faltar vacina para ninguém. "Nossa cobertura vacinal é muito grande e, em pouco mais de uma semana, vacinamos cerca de 230 mil pessoas. Se vacinarmos mais 20 mil brasilienses, alcançamos a imunização de 100% da população", explica o subsecretário.
Goiás recebeu do Ministério da Saúde 3 milhões de agulhas e seringas, no valor de R$ 180 mil. O estado tem à disposição cerca de 840 mil vacinas e falta vacinar apenas 150 mil goianos. Por isso, apesar das longas filas, não deve faltar vacina no Centro-Oeste. No Brasil, cerca de 1,4 milhão de pessoas são imunizadas contra a febre amarela todos os meses.

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De limpeza à vacina
O médico sanitarista Oswaldo Cruz (1872-1917) foi um dos precursores da luta contra a febre amarela. Depois de debelar surtos de febre bubônica, com o combate a ratos, pulgas e carrapatos, o sanitarista passou a estudar a forma de transmissão da febre amarela. No início do século 20, a maior parte dos médicos e da população acreditava que a doença era transmitida pelo contato com roupas, suor, sangue e outras secreções de doentes. Oswaldo Cruz, porém, defendia que o transmissor da doença era um mosquito.
Assim, suspendeu as desinfecções, o método tradicional, e criou a polícia sanitária e as brigadas mata-mosquitos, que percorriam casas e ruas, eliminando os focos de insetos e evitando as águas estagnadas, onde se desenvolviam as larvas de mosquitos. Sua atuação provocou violenta reação popular, mas a polícia sanitária estabelecia medidas rigorosas, inclusive multando donos de imóveis onde o inseto pudesse se reproduzir. Oswaldo Cruz acabou vencendo a batalha: em 1907 a febre amarela estava erradicada do Rio de Janeiro.

Fonte: Correio Braziliense - 08-01-2008


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