Um estudo publicado nesta semana na revista da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos (www.pnas.org) sugere que é melhor se expor ao sol do que se esconder dele. Segundo ele, os benefícios associados à produção de vitamina D, especialmente a proteção a outros tipos de câncer, como de mama, suplantam os riscos associados ao câncer de pele.
O trabalho tem o viés de ter sido conduzido por cientistas americanos e noruegueses, com base em populações escandinavas e britânicas que passam longas temporadas invernais. Eles compararam os níveis de vitamina D em pessoas que moram em regiões mais próximas do Pólo Norte com moradores da Austrália.
Ainda assim, o coordenador do estudo, o biofísico Richard Setlow, do Laboratório Nacional Brookhaven, nos Estados Unidos, acredita que o resultado é válido também para moradores do Brasil. "Das muitas visitas que fiz ao Brasil, percebi que a cor da maioria dos brasileiros era ligeiramente mais escura (e mais resistente à radiação) do que o branco puro", disse. "Um efeito positivo seria então maior do que um negativo."
A vitamina D, produzida a partir dos raios ultravioleta, apresenta dois efeitos aparentemente opostos. Ao mesmo tempo que aumenta a proteção do corpo ao desenvolvimento de tumores e outras doenças, como osteoporose, pode levar ao surgimento de melanomas.
Prós e Contras
Setlow e outros três pesquisadores viram que os australianos, como era de se esperar, são mais expostos ao sol que moradores do Hemisfério Norte e, portanto, têm níveis mais altos da vitamina D: 3,4 vezes mais do que os britânicos e 4,8 vezes do que os escandinavos.
Os australianos também são menos vitimados por cânceres diversos, como de próstata, mama, cólon e pulmão. "As taxas de sobrevivência para cânceres melhoram quando o diagnóstico coincide com a temporada de máxima exposição ao sol, o que indica um papel positivo da vitamina D induzida no prognóstico - ou, ao menos, quando se combina a tratamentos normalmente usados contra o câncer", diz Setlow.
Os autores afirmam que as vantagens são especialmente óbvias justamente para quem mora em locais de muito baixa exposição, mesmo com o consumo de suplementos. "Mesmo uma exposição modesta ao sol traz benefícios imensos da vitamina D", diz a autora Johan Moan, do Instituto de Pesquisa do Câncer, de Oslo, na Noruega.
O dermatologista Marcus Maia, coordenador do programa nacional de controle do câncer de pele da Sociedade Brasileira de Dermatologia, alerta que as pessoas não devem deixar de tomar sol por causa do risco de melanoma, tampouco deixar totalmente a proteção de lado em prol de uma produção alta de vitamina D. Uma vez que é virtualmente impossível para um morador do Brasil não se expor ao sol, o bom senso é tão importante quanto um bom filtro solar. "Nós, dermatologistas, não estamos colocando nenhuma população em risco ao pedir cuidado", diz.
Ele cita um trabalho que fez em 2005 com moradores de São Paulo. Os níveis da vitamina D são encontrados em patamares ideais tanto entre pacientes de melanoma, que usam filtro solar constantemente, quanto entre pessoas que nunca se protegem. "Claro que os fotoexpostos produzem mais vitamina, mas os dois grupos estavam na faixa do ideal e nenhum apresentou osteoporose." COM AFP E REUTERS
Fonte: Estado de São Paulo - 08-01-2008