Não há mês, semana ou dia em que a página policial não apareça "coalhada" de casos escabrosos na administração pública. A febre cleptocrata surge como uma das nossas mais graves e incontroláveis doenças tropicais.
Não há doutor que dê jeito nisso, seja o doutor Alexander Fleming (o da penicilina), Albert Sabin (pólio) ou Oswaldo Cruz - o da vacina obrigatória, dengue, febre amarela e enunciador da tese imortal:
- Ou o Brasil acaba com a saúva, ou a saúva acaba com o Brasil!
Meu Deus, como tem saúva entre os políticos e administradores do dinheiro público! Está tão disseminado o verbo "rapio, rapere", rapinar, que o Ministério de Minas e Energia, por exemplo, está acéfalo há meio ano. Procura-se, de lanterna na mão, alguém ilibado para o cargo.
Encontrar "um honesto" está virando missão quase mitológica, feito talhado para um Hércules, o herói das 12 missões impossíveis.
O vestibular de honestidade ganha uma prova no mínimo hilariante: "o teste do sereno"...
Houve época em que as "tias" de Floripa não perdiam casamento ali na igrejinha do Divino Espírito Santo, praça Getúlio Vargas. Tudo para conferir "se a noiva estava bonita". Era a conhecida "turma do sereno". Autoconvidadas informais, as "serenistas" formavam um verdadeiro corredor polonês pelo qual os noivos tinham obrigatoriamente que passar. Depois do casório, vinham os comentários:
- A noiva estava linda, mas o noivo é barrigudo...
- O vestido da noiva era das mil e uma noites. Tudo em renda da fábrica de bordados, debruando um generoso decote!
Com o receio de nomear "o noivo" errado, o governo aderiu ao "sereno". Espalha o nome do pretendente - como o do senador Lobão, pai do futuro suplente Lobinho - e fica aguardando os comentários da imprensa.
O resultado acaba, mais uma vez, freqüentando a página policial. Lobinho aparece como sonegador e falsário - enquanto... bem, de um Lobão, o que é que a "vovozinha" pode esperar?
É tanta a roubalheira - e todos os dias! - que os novos casos acontecem - um "esquemão" na Saúde, por exemplo - sem que os antigos tenham sido solucionados. Afinal, que fim levou o "Aldinho", com os dólares de um alegado peculato na Fazenda?
As verdadeiras ratazanas andam preocupadas com as novas pesquisas envolvendo células de roedores. Pesquisadores da Universidade de Minnesota criaram um novo coração, a partir de células do mesmo órgão de um rato morto.
Com a recente proibição municipal de se utilizar animais como cobaia científica, que tal oferecer ao mercado pesquisador as células-tronco dessas ratazanas "vivas" do serviço público, com o fim de recriar o coração dos rapinantes?
O maior problema a ser enfrentado, sem dúvida, seria o asco dos próprios ratos. Nem mesmo o velho roedor aceitaria células desses facínoras da administração pública brasileira.
Com tanto "roedor" mordendo o dinheiro público, confirma-se aquela divertida máxima do filósofo liberal José Guilherme Merquior, para quem, no Brasil, o dramático não era "desestatizar":
- Difícil, mesmo, vai ser "desprivatizar" o Estado!
Fonte: Diário Catarinense - 17-01-2008