Brasil importa vacina francesa
Desde ontem, Ministério da Saúde recebe 4 milhões de doses antiamarílicas fabricadas no exterior e as distribui para 10 estados. Corrida a posto prejudicou produção nacional
O Brasil, referência mundial na produção de vacina contra a febre amarela, importou 4 milhões de doses fabricadas na França para reforçar os estoques nacionais. Um milhão delas foram distribuídas entre ontem e hoje para 10 estados: Goiás é um deles. Os 3 milhões restantes ficarão no estoque reserva do Ministério da Saúde. O Brasil recorreu a ajuda da Organização Mundial de Saúde (OMS) porque a demanda pela substância está maior do que a capacidade de produção do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Biomanguinhos), da Fundação Oswaldo Cruz. Apesar de ser equivalente à vacina brasileira, a de produção francesa tem mais restrições (veja quadro). O Distrito Federal não receberá o reforço porque tem estoque suficiente para atender à demanda.
No início de janeiro, o diretor do Biomanguinhos, Akira Homma, alertou sobre o limite físico da capacidade de produção. O instituto consegue fabricar até 100 milhões de doses em cinco meses - tempo necessário para concluir todas as fases do processo. Por causa da corrida aos postos de saúde, o Brasil suspendeu as exportações do excedente: entre 2001 e 2006, mais de 77 milhões de doses foram mandadas a agências das Nações Unidas. As etapas de produção também foram aceleradas, mas nem isso foi suficiente para suprir a demanda dos postos.
O Ministério da Saúde garantiu que não há falta de vacinas nos estados. No entanto, moradores de Minas Gerais, Maranhão, Tocantins e Mato Grosso voltam para casa sem tomar a dose. Em Araguari e Estrela do Sul (MG), os postos não conseguem atender quem precisa se vacinar. O mesmo ocorre nas cidades de Sinop (MT) e Balsas (MA). O problema, segundo o ministério, se deve à falta de planejamento na distribuição dos lotes pelas cidades. Mas o órgão garantiu que, entre ontem e hoje, 4 milhões de doses estariam à disposição das secretarias de saúde de 20 estados. Acre, Goiás, Mato Grosso do Sul, Paraná, Roraima, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Tocantins receberão 1 milhão de doses francesas.
Balanço nacional
As autoridade de Saúde divulgaram ontem o primeiro caso suspeito de morte por reação adversa à vacina. Marizete Alves de Abreu, 43 anos, morreu após cinco dias de internação no Hospital Geral de São Mateus (SP). Ela foi imunizada no dia 17. Como Marizete tinha lúpus, doença que altera o sistema imunológico, o Instituto Adolf Lutz investiga se ela desenvolveu a febre amarela vacinal. O resultado sai em 15 dias. Em Brasília, ainda é grave o estado de saúde da mulher internada no Hospital Regional da Asa Norte com suspeita de reação à vacina.
No balanço divulgado ontem pelo Ministério da Saúde, um caso da doença foi descartado no DF, mas não foi revelado se esse paciente morreu ou resistiu ao mal. Na quarta-feira, o órgão anunciou mais uma morte suspeita em hospitais brasilienses, ocorrida no dia 28, e foi desmentido pelas autoridades locais. Ontem, o subsecretário de Vigilância em Saúde, Joaquim Barros Neto, admitiu que um trabalhador rural de Planaltina de Goiás, distante 56km de Brasília, foi internado no dia 14, no Hospital Regional de Taguatinga, com os sintomas da doença. "Ele trabalhava e morava lá. Portanto, mesmo se confirmado, é mais uma vítima do mosquito em terras goianas", garantiu Barros Neto.
Morte em Goiás
Até agora, segundo o Ministério da Saúde, são 20 os casos confirmados no Brasil: metade resultou em morte e todas as vítimas passaram ou moravam em Goiás. As autoridades do estado confirmaram mais uma morte, mas ela não está incluída no boletim do ministério. O garimpeiro S.P.A., 53 anos, morreu na última sexta-feira. Natural do interior da Bahia, desde 1997 ele morava em Crixás, distante 322 km de Goiânia, e não tinha familiares em Goiás. S.P.A. trabalhava no Garimpo das Lavras, onde as autoridades goianas acreditam que tenha sido infectado. O secretário de Saúde de Goiás, Cairo Alberto de Freitas informou que o paciente apresentou os primeiros sintomas da doença no último dia 21.
Atualmente, Goiás tem 16 casos confirmados de febre amarela. Onze pessoas morreram e cinco se curaram. Ainda existem 11 registros em investigação: seis pessoas morreram, duas continuam internadas e três voltaram para casa. Estão em tratamento um morador de Goiânia que esteve na área rural do município de Porto Alegre do Norte (MT).
Os técnicos do Instituto Evandro Chagas, de Belém (PA) divulgarão hoje o resultado dos trabalhos realizados na mata do câmpus dois da Universidade Federal de Goiás (UFG), depois que foi confirmada a morte de um vigia tendo a febre amarela como causa. Desde o último dia 25, eles estão em Goiânia coletando mosquitos para a análise no laboratório paraense. Querem saber se o vigia contraiu a doença na UFG.
Precauções
O medicamento francês não é indicado para:
# Alérgicos a ovo
# Gestantes
# Pessoas com baixa imunidade ou que tomam medicamento imunosupressores, como pacientes que são submetidos a tratamentos rádio e quimioterápicos.
# Mulheres que estão amamentando
# Maiores de 60 anos, que devem consultar seus médicos antes de receber a imunização
Fonte: Correio Braziliense - 01-02-2008