Uma minilavadora de calcinhas lançada no ano passado diversificou um mercado que ganha novos ingredientes a cada ano: o da higiene íntima feminina. O uso de protetores de calcinha, sabonetes, lenços umedecidos e desodorantes vaginais, porém, é bastante controverso e divide opiniões de médicos.
Apostando no grande número de mulheres que lavam a calcinha no banho, uma empresa de lavadoras de roupas lançou em 2007 um produto para acabar com esse trabalho e o "varal improvisado: uma minilavadora para calcinhas.
Segundo a empresa, ela tem capacidade para um quilo e tem o ciclo ozônio para uma higiene mais eficiente.
Para a ginecologista Sandra Regina Zorzeto, diretora do Hospital e Maternidade Estadual Interlagos, em São Paulo, ela pode trazer benefícios porque é uma boa prática para lavar as roupas íntimas em separado.
Ela diz que é difícil - mas possível - que bactérias passem para outras peças.
Já Eduardo Zlotnik, ginecologista do Hospital Albert Einstein, diz não ver na máquina benefícios para a saúde da mulher:
- Se ela tiver corrimento, por exemplo, e se sentir mais à vontade lavando na máquina, pode usar. Mas para muitas será só mais um consumo.
Há ainda sabão próprio para lavar a calcinha, com pH neutro. O equilíbrio do pH - índice que mede a acidez - é também o grande argumento de outros produtos para a mulher. Isso porque a vagina tem pH ácido (entre 3,5 e 4,5), e alterações facilitam a proliferação de outras bactérias que não fazem parte do equilíbrio fisiológico da vagina. Podem surgir, então, doenças como a candidíase.
Os sabonetes líquidos se usam desse argumento para dizer que são ideais para a higiene da mulher, mantendo o pH da vagina - os sabonetes comuns têm pH básico.
Para o dermatologista Mário Cezar Pires, os sabonetes que baixam o pH são bons porque não têm efeito colateral. Porém, para Zlotnik, o produto pode ser usado por mulheres incomodadas com o odor forte, mas é necessário orientação médica.
- Os produtos são bons, mas não para todas - diz ele.
Na esteira dos sabonetes líquidos, estão os lenços umedecidos, que seguem o mesmo princípio. Segundo os fabricantes, são alternativas em casos de emergência, como na hora de ir ao ginecologista. Eles são tidos, por alguns médicos, como uma forma de melhorar a higiene em relação ao papel higiênico, que pode causar irritação.
Para a médica Rosiane Mattar, da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, não há nenhum benefício em produtos de higiene íntima porque a vagina tem uma flora que não deve ser modificada pelo uso de produtos.
- Os consumidores são convencidos a usá-los porque os produtos são cheirosos - diz ela.
A química do perfume de alguns dos itens é o alvo de críticas dos médicos no que diz respeito a desodorantes vaginais, porque têm maior contato com a pele que o perfume de absorventes, por exemplo. Isso pode causar irritações, alertam especialistas.
Saiba mais
As opções
Sabonete: é usado para equilibrar o pH da região da vagina, que é ácido, evitando um desequilíbrio que cause infecções e irritações
Lenço umedecido: para higiene em situações inesperadas ou de emergência
Desodorante vaginal: spray vendido como solução anti-séptica para eliminar bactérias causadoras de odores e para dar sensação de "frescor"
Protetor de calcinha: absorve a umidade e a secreção e evita manchas na calcinha
Minilavadora de calcinha: principal objetivo é manter a qualidade da roupa íntima, mas tem ainda o ciclo ozônio (O3), que promete higienizar as roupas de forma mais eficiente do que o cloro, além de desodorizar
Sabão para calcinha: usado para higienizar a calcinha e protegê-la, evitando a presença de fungos e bactérias. Pode ser usado no banho
As opiniões
Uso rotineiro: alguns médicos discutem se os sabonetes e desodorantes devem ser usados sistematicamente. Para uns, não há problema. Para outros, mulheres que não têm nenhuma alteração na vagina poderiam passar a ter, por mudanças no pH
Perfume: o uso de produtos que, além de higienizar, adicionam perfume à vagina também é tido pelos médicos como algo que não deve ser usado por todas as mulheres, já que seus componentes podem causar irritações
Aquecimento: o protetor de calcinha também tem um público específico. O próprio uso da peça íntima já aumenta a temperatura na região genital, o que para algumas mulheres pode significar alteração do pH e aumento da quantidade de secreção
Sabão para calcinha: são, em geral, considerados inofensivos pelos médicos. Inofensivos também no quesito de benefícios para a saúde. O impacto deles pode se dar mais no cuidado e na durabilidade do tecido
Fonte: Diário Catarinense - 11-02-2008