12-02-2008 - Adoçantes também engordam, diz estudo

Trocar chocolates ou refrigerantes generosos em açúcar pelos correspondentes magrinhos - os dietéticos - pode não ser uma opção boa para quem deseja fazer as pazes com a balança. Essa é a conclusão de um estudo da Universidade de Purdue (Estados Unidos), publicado pela revista científica Behavioral Neuroscience. Em laboratório, os pesquisadores provaram que, além de expor os consumidores a sérios problemas de saúde, como o diabetes, os alimentos que levam sacarina (adoçante de baixa caloria usado em produtos diet) podem engordar mais do que aqueles que usam o açúcar.
"Os resultados claramente indicam que consumir alimentos adoçados com sacarina pode levar a um aumento de peso e da taxa de gordura maior do que o consumo de açúcares", afirma o artigo. Isso porque, segundo os cientistas, a ingestão de adoçantes artificiais provoca uma espécie de "confusão fisiológica" que quebra a conexão psicológica entre sabores adocicados e uma alta quantidade de caloria e, inconscientemente, leva a um consumo de alimentos maior do que o normal.
Para chegar a esse resultado, Susan Swithers e Terry Davidson - psicólogos especialistas em digestão - ministraram diferentes tipos de dieta a dois grupos de ratos. Nove roedores foram alimentados com iogurte adoçado com sacarina e oito com açúcar. Depois, receberam a dieta normal. Após cinco semanas, os ratos que consumiram sacarina apresentaram ganho de 88g, contra 72g do primeiro grupo, uma diferença de mais de 20%.
Somado a isso, os cientistas notaram que os ratos do grupo da sacarina tiveram aumento mínimo da temperatura corporal - necessária para a digestão - depois da refeição, o que "atrapalhou" a resposta do organismo aos alimentos doces e calóricos. Para os pesquisadores, os resultados complementam teorias emergentes que associam alto consumo de bebidas dietéticas a sérios problemas de saúde, como obesidade, pressão alta e resistência à insulina, o que aumenta os riscos de diabetes.

Críticas
Além de deixar perplexa a comunidade médica de todo o mundo, o estudo causou reações adversas na indústria alimentícia. Beth Hubrich, representante dos fabricantes de bebidas dietéticas nos EUA, considera a pesquisa restrita, por desconsiderar as causas da obesidade. "Embora estudos tenham mostrado um acréscimo no uso de alimentos livres de açúcar nos últimos anos, o tamanho dos pratos de comida aumentou, e a prática de exercícios físicos caiu", argumenta. Adam Drewnowski, diretor de nutrição da Universidade de Washington, alerta que se deve ter cuidado ao interpretar o estudo. "Não faz sentido achar que os resultados obtidos sobre a sacarina com os ratos podem ser transferidos aos humanos."

Carlos Gropen
Estudo publicado pela Behavioral Neurocience correlaciona a popularização do uso de adoçantes artificiais e o aumento da incidência de obesidade na população americana nos últimos 30 anos, com base em experimentos realizados em ratos de laboratório. Leia-se: Os adoçantes podem engordar mais que o açúcar! Dentro de uma visão menos míope, multifatorial, podemos enumerar diversas razões estatísticas para essa associação numérica. Incriminar sumariamente os adoçantes pela correlação temporal seria pelo menos falacioso, visto que os hábitos mudaram bastante nas últimas décadas.
Facilidades da vida moderna como controle-remoto e videogames fazem com que as crianças não passem o dia na rua correndo. Sem contar com um vilão ainda mais perigoso, as garrafas PET e outras embalagens plásticas que tornaram os refrigerantes e outras guloseimas mais baratas e fartas. Não há dúvida de que sabores repetidos condicionam o cérebro. Abusar é sempre perigoso, e talvez seja essa a inferência mais contundente do estudo. O uso de adoçantes dentro de um programa de reeducação alimentar é uma conquista, e avaliar um problema multifatorial dentro de uma perspectiva simples de causa e conseqüência seria um convite ao erro.

*Carlos Gropen é Médico, Consultor de Saúde do Correio Braziliense e professor da UnB

Fonte: Correio Braziliense - 12-02-2008

 


 


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