Quase metade dos médicos de São Paulo não tem formação suficiente para trabalhar nos hospitais públicos e privados do Estado. Levantamento inédito, divulgado ontem pelo Conselho Regional de Medicina (Cremesp), mostra que, dos 92.580 profissionais paulistas cadastrados, 47% (43.512) não têm título de especialização e estão capacitados para prestar apenas os atendimentos mais simples à população.
'O ideal é que todos tivessem especialização', afirma o presidente do Cremesp, Henrique Carlos Gonçalves. 'Os seis anos de faculdade não são suficientes para dar conta do volume de conhecimento exigido dos médicos, mesmo para quem trabalha no primeiro atendimento e para o médico de família.'
Para conseguir licença de especialista, o profissional que concluiu a graduação ainda passa por no mínimo dois anos de residência e, em algumas áreas, por até mais três anos de estudo, além de avaliação das sociedades de especialidades, como cardiologia, pediatria e ginecologia. Cada uma define os métodos de avaliação - provas, cursos práticos, seminários.
Em nenhum país do mundo é possível praticar medicina de qualidade sem a plena especialização', afirma José Luiz Gomes do Amaral, presidente da Associação Médica Brasileira (AMB). 'A formação na faculdade é apenas uma introdução à prática. Este índice (47%) é uma estatística assombrosa.' Amaral afirma que em países como EUA, Canadá e nações da Europa nenhum médico exerce a profissão sem o título.
A falta de especialização em São Paulo tem origem na proliferação das faculdades de Medicina, que não veio acompanhada da abertura de vagas em residência. Todos os anos, 2.600 alunos se formam e cerca de 3 mil vagas de residência são abertas, mas um terço é ocupado por médicos de outros Estados. O resultado é que apenas 39% dos médicos paulistas fizeram residência.
Para a presidente da Associação dos Médicos Residentes de São Paulo, Helena Petta, a falta de vagas para os recém-formados é apenas um dos problemas. Ela afirma que algumas áreas são mais atraentes do que outras, o que provoca desigualdade de oferta.
Outro problema grave é a má formação dos médicos durante a graduação - 56% dos formandos foram reprovados no exame promovido pelo Cremesp no ano passado.
Fonte: Jornal Estado de São Paulo - 13-02-2008