Parece ironia, mas o vírus da dengue pode proteger a população urbana da febre amarela, segundo uma pesquisa realizada na Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto, concluída recentemente. - O estudo mostrou e comprovou isso, mas in vitro, ou seja, em laboratório, não em organismo vivo", avisa o professor do Departamento de Clínica Médica e chefe do Laboratório de Virologia Molecular da Faculdade de Medicina da USP, Benedito Antonio Lopes da Fonseca.
O próximo passo seria uma pesquisa em mosquitos vivos, um processo difícil e complicado, segundo o especialista, já que não existe na USP de Ribeirão Preto uma infra-estrutura para manter vivos mosquitos do Aedes aegypti (transmissor das duas doenças) infectados com a dengue para se injetar o vírus da febre amarela.
Durante os experimentos, foi constatado que há interferência do vírus da dengue na infecção das células dos mosquitos da febre amarela. Ou seja, num combate dentro do mosquito, o vírus da dengue sairia vitorioso sobre o rival, da febre amarela.
Pesquisa poderia continuar nos EUA
Para que a pesquisa tivesse prosseguimento, seria necessário ter um nível grande de contenção de mosquitos Aedes aegypti, num "insetário", estrutura que, atualmente, só existe no Rio de Janeiro.
Seria necessário, ainda, ter várias barreiras de contenções dos insetos, para evitar que escapem e contaminem a população, criando até mesmo uma epidemia de uma das doenças.
- Existem poucos locais no mundo com essa estrutura - lamentou Fonseca.
Uma luz no final do túnel, porém, já surgiu. Em conversa num congresso recente, surgiu a possibilidade de o estudo ter seqüência na Universidade da Flórida, nos EUA.
Fonseca, entretanto, alerta que ainda é cedo para se comemorar:
- Talvez isso explique o porquê não temos a febre amarela urbana desde a década de 1940, mas essa não é a única maneira, pois a dengue também é preocupante.
Ambas as doenças vieram da Ásia. Segundo Fonseca, a Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que cerca de 10% dos infectados pela febre amarela morrem da doença. O índice é bem menor em relação à dengue. A mortalidade neste caso não chegaria a 1%.
Fonte: Diário Catarinense - 15-02-2008