18-02-2008 - Os dentes das grávidas

Para prevenir possíveis infecções periodontais, dentistas defendem que tratamento odontológico deve fazer parte do acompanhamento pré-natalO que fazer quando uma grávida chega a um consultório dentário para tratar algum problema na gengiva, por exemplo? À essa pergunta, alguns dentistas ou periodontistas não sabem como responder. A solução acaba sendo pedir à gestante que volte após dar à luz. Segundo os próprios dentistas, isso ocorre por medo dos possíveis efeitos dos tratamentos para a gestação e para o feto.
Isso tem gerado uma controvérsia médica entre obstetras e dentistas sobre que tipo de tratamento pode ser feito em uma grávida. Muitas vezes, os dentistas solicitam autorizações para poder realizar procedimentos. Outras vezes, recusam-se a fazê-los, mesmo com a gestante liberada pelo obstetra.
Uma recente pesquisa da Universidade de Ohio, nos Estados Unidos, estudou a polêmica e concluiu que os obstetras são mais liberais do que os dentistas. Mil profissionais foram entrevistados, e as duas classes médicas concordaram quanto à possibilidade de procedimentos simples, como tratamentos de cáries. Os obstetras, porém, mostraram-se mais "confortáveis" quanto à segurança dos Raios X, da cirurgia periodontal e do uso de medicamentos.
O estudo concluiu que diretrizes sobre o tratamento em grávidas beneficiariam pacientes e médicos.
O mesmo sentimento existe no Brasil, onde a Associação Brasileira de Odontologia (ABO) tenta que o Ministério da Saúde inclua a obrigatoriedade de um "pré-natal multiprofissional" pelo Sistema Único de Saúde (SUS), inserindo dentistas no processo.
- Muito estudos mostram que a infecção periodontal está relacionada a parto prematuro. Só isso já justifica a participação de dentistas no pré-natal - diz Maria Christina Carvalho, dentista especializada em periodontia da ABO.
Segundo ela, há casos de urgência em que não se pode simplesmente adiar o tratamento, como quando o paciente tem dor decorrente de abcessos agudos, fraturas dentais ou inflamações na gengiva. Para Maria Christina, a negativa por parte de alguns dentistas ocorre por medo de complicações no tratamento.
- Isso não é necessariamente culpa do dentista, mas principalmente dos sistemas de saúde público e privado, que excluem esse profissional do acompanhamento à grávida - afirma ela.
Ela diz ainda que a orientação do dentista é importante porque a grávida está mais sujeita a problemas dentários por comer mais e porque pode ter a boca mais ácida pelos vômitos.
Segundo Rosiane Mattar, se houver necessidade de qualquer tratamento, ele deve ocorrer na gestação. Mas o dentista precisa ter cuidados com a posição da grávida e com a duração do procedimento.
Eduardo Cordioli, obstetra do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, diz que o quadro mostrado pela pesquisa norte-americana é o mesmo no Brasil, e que as grávidas são orientadas a ir ao obstetra para liberar cirurgias:
- A grávida deve ir ao dentista e fazer todos os tratamentos necessários. Mas não pode, por exemplo, receber anestesia com adrenalina.

Saiba mais
- Como a mulher come mais na gravidez e as modificações no organismo deixam a boca mais ácida e os dentes com menos cálcio, é necessário muito cuidado com a higiene dentária
- Além de problemas para a saúde da mulher, há cada vez mais evidências sugerindo uma relação entre doenças gengivais e parto prematuro
- A gestante pode receber tratamento em qualquer fase da gravidez, mas o segundo bimestre é o melhor período. No primeiro, o bebê está se formando e se deve evitar o uso de medicamentos. No terceiro, qualquer complicação pode acelerar o parto
- Em casos de urgência (dor decorrente de abcessos agudos, fraturas dentais, pulite, inflamações etc), o tratamento deve ser feito independentemente do período da gravidez
- Na gravidez avançada, a mulher não deve ficar deitada, pois o útero pode comprimir a veia cava e reduzir a pressão arterial. Ela deve ficar semi-sentada sobre o lado esquerdo do corpo
- Consultas demoradas podem causar estresse e cansaço na paciente. Devem ser evitadas. Se a grávida tiver histórico de medo, a consulta deve durar, no máximo, meia hora
- É permitido o uso de medicamentos, mas devem ser receitados pelo médico
- Os remédios para tirar a dor não são inofensivos. Grávidas devem evitar o ácido acetilsalicílico, pois está associado à anemia no início da gravidez e a hemorragias no parto. Paracetamol e dipirona são mais recomendados
- Há antiinflamatórios que podem ser tomados nos dois primeiros trimestres.

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Fontes: Maternal Fetal and Neo-Natal Medicine, Associação Brasileira de Odontologia - Diário Catarinense - 18-02-2008


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