25-02-2008 - Os fumantes perdem cada vez mais espaço

A lei federal 9.294, que proíbe fumar em áreas coletivas públicas ou privadas, existe há 12 anos, mas só agora algumas capitais resolveram colocar a norma em prática. É o caso de São Paulo (SP), que vai multar em R$ 800,00 fumantes que acenderem charutos, cigarrilhas ou cachimbos fora da área reservada a eles, e de Recife (Pernambuco), onde a fiscalização em bares e restaurantes foi intensificada desde 11 de fevereiro. Outro fator que pretende inibir o consumo de cigarros é a intenção do governo federal de aumentar os impostos sobre o produto forçando o reajuste de preço para o consumidor.
Se a "moda" de cumprir a lei vingar, muita gente terá que reajustar hábitos para evitar constrangimentos e prejuízos. Em Lages, por exemplo, alguns locais de uso coletivo têm placas que alertam a proibição de fumar. Mesmo assim, há quem as ignore. O Serra Shopping é um desses lugares. Lá o fumo só é permitido nos corredores do primeiro andar, e estritamente vetado no interior de lojas ou na praça de alimentação. No entanto, é justamente no local destinado a quem vai comer que acontecem os problemas.
Há cerca de três anos a praça de alimentação era dividida em duas áreas: a de fumantes e a dos não fumantes. Não deu certo, porque não havia um isolamento do espaço destinado a quem utiliza tabaco. "Infelizmente a fumaça não respeita as plaquinhas", diz uma funcionária do shopping que prefere não se identificar justamente por causa da polêmica que existe no estabelecimento.
Conclusão: Os não fumantes reclamavam por terem que se alimentar sentindo o cheiro da fumaça. Já os fumantes passaram a exigir um fumódromo. Para acabar com a polêmica, o shopping decidiu respeitar o que determina a lei e proibiu o consumo de cigarros na área.
Os freqüentadores dos bares representam a maioria do público fumante, mas de acordo com a funcionária do shopping, se o número de clientes fumantes diminuir devido à proibição, o número de não fumantes deve aumentar. "Por não terem mais problemas com os fumantes", argumenta ela.
Para a dona de casa e cliente de um dos boxes de alimentação, fumante há 15 anos, e que também prefere não ser identificada, a lei deve considerar o público de cada local. Ela e a colega fumavam durante uma conversa perto da praça de alimentação, e criticaram a restrição de espaços.
Segundo a dona de casa, a lei é válida para ambientes familiares e restaurantes, mas impossível de ser cumprida em bares e boates. "O fumante não vai mais freqüentar locais que proíbem. Não só eu, mas todos", declara ao comentar que a lei não adianta. "Ninguém vai parar de fumar por causa disso. Simplesmente vai parar de freqüentar o lugar", conclui a dona de casa.

O vício do cigarro está associado à ansiedade
Lourdes Bianchini, proprietária da chopperia que fica na praça de alimentação do shopping, onde também vende cigarros, defende a idéia de um local reservado.
A comerciante comenta ouvir muitas reclamações de clientes que não podem fumar enquanto consomem bebidas alcoólicas. "É direto. Acho que metade da população é fumante", arrisca um palpite ao afirmar que não tem como proibir o consumo de tabaco. Para Lourdes, se as áreas forem restringidas os fumantes vão encontrar meios de exercer o vício. "Quem é fumante dá jeito e sempre acha um lugarzinho".
Também viciada há 20 anos, a comerciante calcula queda de 50% nas vendas de seu bar, caso os clientes tenham que respeitar a norma de não fumar na praça de alimentação. "Geralmente, quem bebe fuma", comenta.
Lourdes também considera inútil o possível aumento de preço cogitado pelo governo federal. "Quanto mais aumentam, mais fumam. É difícil para quem tem o vício mesmo, o deixar". Defensora dos fumantes, a comerciante já passou por vários constrangimentos provocados pelo vício. Até na casa de um irmão, ex-fumante. Para isso, também diz haver um "jeitinho": "Procuro não fumar onde tem não fumante", conta ao reclamar que não só o cigarro faz mal a saúde. "Tem tanta coisa que faz mal e não proíbem", critica.
O paginador Diego Smarg é não fumante convicto. Resume que é um direito de quem decidiu não fumar, não ser um "fumante passivo". "O fumante diz que não vai ficar (em áreas onde é proibido acender cigarros) porque não pode fumar. Quem não fuma não fica por causa do fumante", compara.
Ele reforça que o "não fumante" não suporta nem o cheiro do cigarro. "Se eu não for obrigado a ficar (em ambientes com fumantes) eu saio", afirma o paginador.
Diego conta que a mãe dele fumou, mas largou o vício. Esta pode ser uma das razões de sua aversão ao tabaco. Mesmo assim, o paginador é tolerante com a liberação de cigarros em boates e bares. "Quando você vai para uma boate ou coisa assim, já sabe o que vai encontrar. Vai para relaxar e não para comer", diz ele ao falar do momento menos compatível para alguém acender um cigarro. "No local onde você come e até mesmo em um motel é ruim. Fica o cheiro de cigarro e você acha que o lugar é sujo".
A psicoterapeuta Suzana Ráu Dabbous, explica que além da dependência física-orgânica provocada por mais de mil substâncias encontradas em cigarros, existe a dependência psíquica. "É necessário um tratamento medicamentoso, além de psicoterapia", informa ao dizer que as pessoas começam a fumar por fatores psicológicos, como "status" ou intenção de parecer mais velhas (caso de jovens). Só que a medida em que vai atuando no organismo, o cigarro gera a dependência orgânica.

Fonte: Correio Lageano - 25-02-2008


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