17-03-2008 - Os riscos do corpo perfeito -Uso indevido de substância pode causar diabetes e deformações

Músculos bem definidos podem esconder graves problemas de saúde quando fomentados por meio de um hormônio cada vez mais utilizado em academias e consultórios médicos. Polêmico entre especialistas, o hormônio do crescimento, ou hGH, teve seus benefícios e conseqüências questionados principalmente no início deste ano, quando o ator Sylvester Stallone defendeu e recomendou a substância, admitindo utilizá-la para ficar mais "musculoso".
Por queimar gordura e aumentar massa muscular, o hormônio do crescimento se tornou uma tentação. Produzido naturalmente pela glândula hipófise, ele estimula a multiplicação celular, processo essencial para o crescimento desde os primeiros anos de vida. Mas para o endocrinologista Mauro Antônio Czepielewski, o perigo do uso do hormônio, de forma não natural, está justamente no aumento da proliferação das células:
- Assim como os músculos dos braços e das pernas, o coração e os ossos também vão crescer. Isso certamente vai causar deformidades na estrutura do corpo.
Entre os principais efeitos colaterais do uso excessivo e prolongado do hormônio estão o diabetes, a hipertensão, as doenças articulares e a aceleração do desenvolvimento de cânceres. Além disso, o hGH causa inchaços e aumento das extremidades do corpo, como as mãos, os pés e o rosto - como ocorreu com Stallone.
Até hoje, não existem pesquisas que comprovem os efeitos do hormônio a longo prazo, mas os problemas podem ser facilmente identificados em pessoas com acromegalia, doença em que a glândula responsável pela produção do hGH libera quantidades maiores do que o normal.
- Muitas pessoas que fazem academia me procuram para usar o hormônio ou para dizer que já estão usando, mas eu não costumo recomendar justamente por não poder garantir os eventuais efeitos colaterais - afirma a endocrinologista e membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, Graciele Tombini.
A médica explica que o paciente tem de estar ciente dos efeitos e afirma que cada situação deve ser analisada individualmente.
Em casos específicos, como os de insuficiência renal e de baixa estatura, causada pela deficiência do hGH, o tratamento com o hormônio é recomendado.
Apesar de proibido pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), por ser considerado doping, o hormônio do crescimento pode ser consumido indiscriminadamente por atletas informais ou pessoas que buscam um corpo perfeito sem qualquer esforço físico. Czepielewski, palestrante do 14º Simpósio Internacional de Neuroendocrinologia, no Rio de Janeiro, explica que o uso a curto prazo não se justifica, pois os efeitos benéficos não são satisfatórios. A longo prazo, os danos podem ser irreversíveis.
- Isso é um mito, é modismo. O custo-benefício para a saúde não vale a pena - afirma o endocrinologista.
O médico lembra que o sono de qualidade e os exercícios físicos são as melhores formas de liberar o hormônio naturalmente, sem riscos à saúde.

Saiba mais 
Efeitos colaterais 
Deformações por causa do aumento dos ossos e músculos, inclusive do coração 
Doenças articulares 
Crescimento das mãos, dos pés e da face 
Diabetes 
Hipertensão arterial 
Dores de cabeça 
Retenção hidrosalina, que causa inchaços 
Aceleração do desenvolvimento de um câncer preexistente 
Aumento no nível de oleosidade da pele, que poderá ocasionar o surgimento de acne 
O que é 
O hGH é um hormônio existente em todas as pessoas normais, produzido pela glândula hipófise, situada na base do crânio. Há mais de 25 anos foi sintetizado por meio de técnicas transgênicas 
O que faz 
Aumenta a proliferação celular ao utilizar a gordura como energia. É importante para o crescimento desde os primeiros anos de vida até o fechamento das cartilagens de crescimento dos ossos, entre a faixa etária dos 15 aos 20 anos. 
Quando é recomendado o consumo 
Para as crianças com baixa estatura devido à deficiência hormonal, à insuficiência renal crônica e ao excesso de cortisona, nos casos de Síndrome de Tuner e em pessoas adultas com deficiência de hGH (decorrente de tumores, cirurgia ou radioterapia sobre a hipófise) 

Fonte: DC - 17-03-2008


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