03-04-2008 - Novas regras para planos de saúde: Sobraram dúvidas no primeiro dia

Sobraram dúvidas e, provavelmente, faltarão horários para marcar tantos exames e consultas. É o que ficou evidente no primeiro dia de vigor das novas regras para planos de saúde. Consultórios, clínicas e, especialmente, a Agência Nacional de Saúde (ANS) tiveram trabalho para esclarecer questões sobre os novos serviços. Foram muitos telefonemas em busca de informações sobre o que já está, de fato, valendo.
A julgar pela procura em dez clínicas e consultórios ouvidos por A Notícia, em breve, poderá haver demora do agendamento de procedimentos médicos. Idéia reforçada pelo delegado do Conselho Regional de Medicina (Cremesc) para o Norte de Santa Catarina, Paulo Douat. “No começo, certamente haverá procura maior. Mas não creio que isso chegará a ser um problema, porque há muitos médicos cadastrados”, diz.
Para ele, os cem novos serviços obrigatórios aos planos de saúde não levarão mais gente para os planos. “Quem pode pagar, com certeza já tem”, acredita.
No levantamento aleatório em dez clínicas de Joinville, nenhuma se negou a fazer um dos novos procedimentos. Os médicos dizem que, enquanto não houver decisão contrária, vão respeitar a decisão da ANS.
A maioria reforça, porém, que já há uma agenda de horários que precisa ser respeitada. “Podemos até chamar de uma pequena fila de espera. Mas nada comparável ao SUS”, diz um urologista, com consultório no centro. Exemplo: para vasectomia, procedimento simples, levam-se até quatro meses para fazer a cirurgia no Estado, pelo SUS. O plano de saúde dará, no máximo, um mês para que a operação seja feita. Bom para os pacientes agora. Mas talvez nem tanto para o futuro. O CRM, por exemplo, acredita que o paciente pagará mais caro pela mudança, cedo ou tarde. “A médio prazo, os preços devem disparar. A margem de trabalho das cooperativas e empresas já é baixa. O plano de saúde pode ficar inviável para pacientes ou para as próprias empresas”, diz Cláudio Castro, também diretor do conselho.
As operadoras alegam que novo rol de procedimentos (cerca de cem) põe em risco o equilíbrio econômico do setor e já reivindicam aumento nas mensalidades para compensar os gastos com mudança.
Para o presidente da Associação Brasileira de Medicina de Grupo, Arlindo de Almeida, a medida da ANS aumenta o processo de concentração do mercado. “Vemos a possibilidade de quebra de empresas. No início da regulação, as fusões e aquisições sanearam o mercado, mas agora estamos vivenciando o fim das operadoras regionais, que estão sendo engolidas pelas gigantes do setor”, disse ele. De acordo com Almeida, o lucro das empresas é de cerca de 2% ou 3%, insuficiente para absorver os novos custos.

...............

Principais inclusões da versão 2008 do ROL de procedimentos e eventos em saúde da ANS

Atendimento por profissionais de saúde
Consulta/sessão de nutrição - 6 sessões por ano
Consulta/sessão de terapia ocupacional - 6 sessões por ano
Sessão de psicoterapia - 12 por ano
Consulta/sessão de fonoaudiologia - 6 por ano

Procedimentos para anticoncepção
- Inserção de DIU (inclusive o dispositivo)
- Vasectomia
- Ligadura tubária

Procedimentos cirúrgicos e invasivos
- Procedimentos cirúrgicos por videolaparoscopia (apendicectomia, colecistectomia, biópsias etc): esta técnica é menos invasiva do que as técnicas a céu aberto.
- Dermolipectomia para correção de abdome em avental após tratamento de obesidade mórbida
- Remoção de pigmentos de lente intraocular com Yag Laser: este procedimento evita que se faça uma nova cirurgia somente para a remoção dos pigmentos após a operação de catarata
- Mamotomia: Biopsia de mama a vácuo, com um corte menor
- Tratamento cirúrgico da Epilepsia
- Tratamento pré-natal das hidrocefalias e cistos cerebrais
- Transplantes autólogos de medula óssea

Exames laboratoriais (com diretriz de utilização)
- Análise de DNA para diversas doenças genéticas
- Fator V Leiden, Análise de mutação
- Hepatite B - Teste quantitativo
- Hepatite C - Genotipagem
- Hiv, Genotipagem
- Dímero D
- Mamografia digital

............

                                     Para psicólogos, a adesão pode levar mais tempo
Marcar consultas com psicólogos pelo plano de saúde vai demorar um pouco mais. Os profissionais ainda precisam encontrar uma maneira de tornar a oportunidade viável para pacientes e para a classe.
Os psicólogos brigaram anos para atender também por planos de saúde. Por isso, essa inclusão de até 12 consultas por ano no pacotão da ANS é bem-vinda. E também insuficiente. “Ainda há muitas dúvidas sobre adesão e remuneração”, diz Allan Rodrigo Alcantara, diretor-tesoureiro do Conselho Regional de Psicologia (CRP-SC).
Um dos problemas é o próprio limite de consultas por paciente. “Dependendo da doença, isso se esgota rapidamente. A relação com o paciente, o seu tratamento, ficam aquém do ideal”, acredita.
O valor que psicólogos têm de pagar para entrar em cooperativas como a Unimed, a maior do País, também precisa ser discutida. “É muito caro. Corre-se o risco de o paciente ter direito no seu plano, mas o profissional não considerar a adesão vantajosa. É um direito dele receber um valor justo”, ressalta o diretor do CRP.
Ainda assim, o conselho comemora a redução do déficit público de atendimento. “Há demanda reprimida e esperamos poder resolver isso”, diz Alcantara. Hoje, são 6,1 mil psicólogos registrados em Santa Catarina. A maioria – cerca de 80% – trabalha com psicologia clínica, área que os planos agora precisam disponibilizar.

Fonte: AN - 03-04-2008


  •