19-05-2008 - Editorial do DC: O descalabro da saúde

Para 29% dos brasileiros, a saúde é o maior problema do país, à frente do desemprego e da violência, segundo recente pesquisa Datafolha. Quando o próprio ministro da Saúde reconhece que "perdemos a guerra contra a dengue", nada mais é preciso dizer para dar razão aos piores temores da cidadania em relação ao descalabro do sistema nacional de saúde pública. Reajustar a tabela do Sistema Único de Saúde (SUS), e regulamentar a emenda 29, que fixa os percentuais mínimos a serem investidos anualmente em saúde pela União, por estados e municípios, são providências que se revestem de urgência dramática.
Mas só isto não basta. À medida que a medicina vai incorporando novas tecnologias e novas técnicas e medicamentos se incorporam aos procedimentos, ela tende a se tornar cada vez mais cara. Se a correção e a ampliação dos recursos não forem acompanhadas por melhora substancial na gestão, logo ali adiante as dificuldades recrudescerão. O problema não é só de dinheiro, é também de planejamento e de eficiência gerencial, e da mais absoluta incapacidade demonstrada pelo atual governo de controlar seus gastos, sem falar no escancarado ralo da corrupção.
Como lembrou em recente artigo o professor e mestre e Administração Carlos Stempnievski, o sistema privado de saúde superou o SUS em dispêndios diretos na atenção médico-hospitalar aos seus associados, cujos custos totais no Brasil são estimados em R$ 193,1 bilhões. Deste montante, 51%, ou R$ 98,7 bilhões são de contribuições pagas pelos cidadãos aos planos de saúde privados. Na falta de serviços públicos competentes, aproximadamente 40 milhões de cidadãos pagam duas vezes pelo direito a ter cuidados de saúde: pagam ao poder público na forma dos impostos sufocantes que recolhem, e pagam a empresas que administram planos de saúde. Aquela parcela sem condições de arcar com o custo de um plano privado não tem alternativa a não ser encarar filas intermináveis para marcar uma consulta médica pela qual, não raro, às vezes terá que esperar meses a fio, e a enfrentar hospitais superlotados.
Diante de tudo isso, soaria como deboche aos cidadãos, se verdadeira, a intenção do governo federal de criar um novo imposto para substituir a "finada" CPMF, e aumentar algumas taxas para financiar gastos na área da saúde, segundo o jornal Folha de S. Paulo. "Não brinquem com isto", foi a pronta e indignada reação do presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), empresário Paulo Skaff à informação. Disse tudo.

Fonte: Diário Catarinense - 19-05-2008


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