05-06-2008 - Perto do cidadão

O sistema de saúde pública brasileiro caracteriza-se por consumir recursos consideráveis que, antes de chegarem ao seu público alvo, esvaem-se em boa parte pelos desvãos da burocracia e pelos ralos da corrupção que viceja à sombra da ineficiência de gerenciamento. Também se pauta o sistema público por utilizar os hospitais como se estes fossem destinados ao atendimento universal dos pacientes, sejam quais forem os males a lhes atormentar. Resulta disso que os postos de saúde, que deveriam realizar os procedimentos mais simples, filtrando assim a maior parte dos atendimentos, para alívio dos hospitais, ficam no mais das vezes relegados a segundo plano, não sendo raras as ocasiões em que medicamentos os mais prosaicos faltam em seus ambulatórios.
Não recebendo atendimento nessas unidades primárias, os pacientes deslocam-se em grande número para as emergências dos hospitais, juntando-se àqueles que necessitam submeter-se a procedimentos mais sofisticados e aos que se viram obrigados a se deslocar centenas de quilômetros em busca de especialistas. Felizmente, a atual administração da Capital vem se dedicando a implantar um sistema mais racional de atendimento, implantando nas diversas regiões da Ilha de Santa Catarina e na porção continental da cidade policlínicas que levam para junto da população serviços que até então eram disponibilizados apenas por grandes hospitais.
A partir de hoje, a Policlínica do Sul da Ilha, localizada no Bairro Rio Tavares e inaugurada na noite de ontem, irá realizar cerca de 2,5 mil consultas mensais, atendendo somente àqueles que primeiro procuraram os postos de saúde da região. No prédio trabalharão 36 profissionais da Saúde, entre médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e farmacêuticos. Soma-se esta unidade a duas outras já em funcionamento, a do Centro e a do Norte da Ilha, e uma quarta será inaugurada em breve na região do Continente. Iniciativa louvável, mormente se levarmos em conta que o território de Florianópolis é extenso, sua malha viária apresenta diversos pontos de estrangulamento e os serviços de transporte não são exatamente o que se poderia definir como eficientes e rápidos.
Convém que a experiência seja devidamente acompanhada por outras municipalidades. Por conta da absurda concentração de serviços por parte dos hospitais, o que temos visto em matéria de saúde pública no Brasil é uma profusão de casos de mau atendimento, de doentes atormentados que passam horas ou mesmo dias em corredores, à espera de um médico, e de marcações de consultas que, na prática, significam o mesmo que deixar o cidadão necessitado sem eira nem beira.
Pois esperar um ano por uma consulta é o fim, sendo mais provável que nesse lapso o paciente cure-se pelas próprias forças ou venha a óbito. Tais deformações do sistema só poderão ser combatidas com eficácia se o governo federal tornar-se mais atuante. Multiplicar e aperfeiçoar a rede de postos de saúde e levar especialistas para perto das comunidades é um modo de contornar todas essas dificuldades e de otimizar os recursos disponíveis em área tão sensível.

Fonte: Editorial do DC - 05-06-2008


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